5 Frases que envenenam
a relação a dois...
e como sair do inferno
Ninguém gosta de ser tratado como um objeto mas acaba por permiti-lo e, pior ainda, dar por si a fazer o mesmo. Como evitar fazer figuras tristes e cultivar a conjugalidade consciente
São
comentários singelos, daqueles que se fazem todos os dias e só estranha
quem é turista, de tal modo estão infiltrados na cultural popular e se
cultivam na vida privada, entre pessoas que se conhecem bem e se amam,
costuma dizer-se até.
Cinco exemplos clássicos...
... Que
podem ser confundidos com 'mimos' ou estilos de comunicação que são
normais na intimidade e que, a médio prazo, desgastam e conduzem a
desfechos indesejados, com efeitos colaterais que se transportam para
ligações futuras.
Cena 1: "Vais sair comigo assim?! Não tens mesmo mais nada que possas vestir em vez disso?"
Isto
é um sinal de atenção ou... uma desqualificação? Regra geral,
observações como esta são feitas – ou interpretadas como instruções a
seguir – sem pensar. O problema é mesmo esse: o estatuto de estranha
normalidade, que de inócuo nada tem e se interioriza como código, regra,
padrão. Uma vez instalado o programa, ele atualiza-se com o passar dos
dias: o tom crítico dá lugar à autocensura.
Cena 2: "És tão bom, tão bom... para os outros. Comigo, não vales nada."
Isto
é um ataque? Uma indireta face à qual se deve ripostar? Quanto mais se
trata alguém como se fosse um objeto com defeito, uma funcionalidade
garantida e, até, uma espécie de estação de tratamento para reciclar
frustrações, curar feridas e preencher necessidades pessoais (e não só),
pior se fica e, mais da vezes, sem sequer perceber porquê.
Cena 3:
Uma mulher nos seus 'entas' diz "bom dia" ao homem que partilha consigo
o mesmo teto há vários anos; ele replica, com ar de enfado: "Já
começas?"
A sequência de interações mortíferas prolonga-se dia
fora, sem que tal faça mossa aos cônjuges, habituados que estão a estes
'mimos', capazes de (conta)minar o clima de uma dupla que até poderia
ser feliz. Aguentam-se. Aturam-se. Fazem de conta que são duas pessoas
de bem, que se respeitam, ou seja, se aceitam sem julgamentos.
Cena 4: "Não vale a pena tanto esforço. Vocês são todas(os) iguais"
Desabafar
é humano. Não é para levar a mal. Ou é? Também conhecida por "neurose
do destino", a estratégia da vitimização costuma funcionar, pois induz
no outro a necessidade de diferenciar-se do todo, mais não seja para
defender a sua "honra" (respeito próprio) e, ao mesmo tempo agradar ao
que se sente desiludido. Porquê? Para obter a aprovação dele, da depende
para se sentir gente.
Cena 5: "Sabes perfeitamente que a culpa disso não é minha, fiz tudo pelos dois e nem devia."
Perfeitamente?
Fiz tudo? A mensagem está no implícito, na acusação de luva branca, já
que pressupõe uma falha (desatenção, erro) pela qual alguém deve
sentir-se mal e remendar seja lá o que for que esteja em débito. Ambos
disputam o pódio na esgrima de argumentos para provar quem tem menos
culpas no cartório, com um dispêndio de energia tal que se torna
insustentável.
"Tudo isto é triste...". Ou não. Começam a
evidenciar-se, aqui e além, os sinais de desconforto face às manobras de
manipulação e dramatização "da praxe". No início, no meio ou no final
de um relacionamento, há formas mais inteligentes e gratificantes de
estar na vida, que é curta, afinal.
Conjugalidade consciente
Desde
que a prática do divórcio se banalizou, começaram, aos poucos, a ser
vistas com bons olhos as separações amigáveis, bem como as histórias de
ex que se mantiveram (ou finalmente se tornaram) amigos. O assunto ganha
maior relevo no caso das figuras públicas, pela exposição a que estão
sujeitas em momentos de vulnerabilidade e perdas afetivas. Quando o
Gwyneth Paltrow e Chris Martin (ela estrela de cinema e ele vocalista da
banda Coldplay) decidiram separar-se após uma década de casamento, ela
anunciou à imprensa que ambos apenas estavam a praticar o "concious uncoupling",
ou seja, a desapegar-se da relação de casal sem as tais cenas tristes
do costume (do digladiar-se e lavar roupa suja na praça pública ao
manter as aparências à custa de ressentimentos e cinismo).
A expressão "Conscious Uncoupling" - ou "descasar consciente" - passou a figurar no léxico da cultura popular.Alguns meses depois, o jornal britânico The Telegraph
deu a conhecer ao mundo a pessoa que tinha cunhado este termo (que veio
a ser o titulo do seu livro). Katherine Woodward Thomas não estava
preparada para o fim do seu relacionamento, mas a última coisa que
queria era passar pelo tumulto e animosidade que marcou o divórcio dos
pais. A sua meta foi passar por isso com serenidade e conseguiu-o. Daí
até ao tema ser discutido nos meios académicos foi um passo.
Agora
o foco de atenção começa a ser a Conjugalidade Consciente. Por não o
serem, na maioria das vezes, as razões pelas quais nos apaixonamos. Por
as escolhas amorosas estarem ligadas ao encantamento por características
do outro que, para o melhor e o pior, reconhecem como familiares. Só
mais tarde essas escolhas se tornam mais claras: os gestos irresistíveis
de ontem são os pomos da discórdia amanhã.
Dito isto, o que se
pode fazer para, desde início, ter uma conjugalidade (ou união)
consciente, ou seja, à prova de cenas tristes? De acordo com os estudos
sobre os fatores que promovem a satisfação e longevidade dos casai, aqui
ficam cinco pistas:
Só os Eus completos permitem 'bons' Nós:
A fórmula 1 + 1 = 3 pressupões que a relação a dois é mais do que a
soma das partes. Se os valores e amor próprio das partes estiver em
débito e cada parte se desresponsabilizar por si (talentos e
fragilidades), o outro não fará milagres.
Indagar-escutar-aceitar: A
forma mais democrática e paritária de conduzir um barco a dois passa
pela arte de fazer perguntas objetivas e trocar informação relevante
para a dupla se entender, sem interromper, criticar (atenção ao tom!) ou
impor. Sim, é difícil. É todo um treino a fazer.
Aferir os níveis de controlo:
Se um não quer, dois não dançam. Alterar registos tóxicos requer uma
dieta que exclua o excesso de aditivos (posse disfarçada afeto;
chantagem que passa por sedução; acusação e queixa seguidas de
reconciliação, etc).
Enigmas, não obrigada(o): Fechar os olhos a contradições, não ditos e atitudes paradoxais é como brincar aos blind dates. Pode até ser fascinante no começo, mas a probabilidade de acabar em desilusão e o ressentimento é grande.
Medir o pulso: O
"faro", ou a intuição, (permite captar micro expressões e
comportamentos não verbais) é algo a seguir sempre que experimentar um
sentimento inespecífico e persistente de mal-estar, sinalizando que
alguma coisa está errada ou a merecer atenção extra.
*Jornalista e Psicóloga
IN "VISÃO"
18/05/16
.
Sem comentários:
Enviar um comentário