De igual para igual
Planeta 50-50 em 2030 não é o título de um filme futurista, com naves
espaciais e hecatombes cósmicas. É um objetivo apontado pelas Nações
Unidas e os "50-50" referem-se à igualdade de género. Parece uma
impossibilidade se olharmos para a realidade de hoje, como comprova o
relatório que, como todos os anos nesta data, a Organização
Internacional do Trabalho divulgou sobre a diferença entre a vida
profissional dos homens e das mulheres.
Elas ganham menos e trabalham
mais, sobretudo no chamado trabalho não pago - uma expressão do mundo da
economia para as tarefas domésticas e familiares. Ah, lá estão os
burocratas das Nações Unidas a ser politicamente corretos, que tédio.
No blogue do casal Gates,
Melinda e Bill contam que os alunos de uma escola secundária no
Kentucky lhes perguntaram que superpoderes gostariam de ter. Ele
respondeu "mais energia", ela "mais tempo", e explicam porquê. Ambos vão
buscar experiências tidas em África para reforçar estes desejos.
Energia pode significar ter água e um frigorífico para conservar
alimentos. Tempo quer dizer a possibilidade de estudar e ter uma
profissão para sustentar a família, em vez de gastar seis horas por dia
em trabalhos não pagos como ir buscar longe água e lenha.
Ah, lá estão
os bem-intencionados bilionários a ser politicamente corretos, que
tédio. O que é que isto nos diz a nós, que vivemos no conforto da
torneira e do interruptor que liga o candeeiro e que até nos orgulhamos
de ter uma legislação equalitária bastante avançada? É que não foi há
muitas décadas que essa igualdade chegou à lei portuguesa.
E as mudanças
na sociedade avançam, em diferentes velocidades, mas avançam. Se nos
perturba o desprezo dos fundamentalismos religiosos pelas mulheres, não
vamos fingir que o desrespeito é coisa só dos outros. Planeta 50-50,
dizem as Nações Unidas. Com todas as diferenças que felizmente existem,
de igual para igual.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
08/03/16
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