HOJE NO
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Guiné Equatorial
não usa português dois anos depois
Portal do governo de Obiang está em três línguas mas nenhuma é o português, apesar de essa ter sido condição para adesão à CPLP
Quase dois
anos depois de ter entrado para a CPLP (Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa), a Guiné Equatorial continua a ter o site oficial do governo
de Teodoro Obiang em espanhol, inglês e... francês. O português não
consta da lista das línguas em que é disponibilizada a informação,
apesar de o país o ter adotado como língua oficial aquando da adesão à
comunidade dos países lusófonos.
.
Ter a língua portuguesa como idioma oficial era um dos requisitos da
adesão da Guiné Equatorial à CPLP, mas o governo de Obiang continua sem
usar o português, apesar das declarações que fez em 2006, quando
requereu o estatuto de observador associado da comunidade. “A Guiné
Equatorial foi descoberta pelos portugueses, que colonizaram a ilha a
que chamaram de Fernando Pó. Temos raízes profundas com Portugal e
muitas famílias portuguesas trabalharam na Guiné Equatorial. Somos fruto
dessa grande família”, afirmou então Teodoro Obiang.
Contactado pelo i, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) não
esteve disponível para fazer comentários. Mas a relação entre Portugal e
os restantes países da CPLP passa por um momento tenso no qual a Guiné
Equatorial volta a aparecer em destaque.
Obiang contra Portugal
Segunda-feira, o
primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, anunciou que São Tomé e
Príncipe vai apresentar um candidato a secretário executivo da CPLP. A
eleição ocorrerá na conferência de chefes de Estado e de governo da
comunidade, que ocorrerá em julho, no Brasil, e Portugal deve apresentar
também um candidato. Mas São Tomé apresenta a sua candidatura invocando
um acordo não escrito que determinará que Portugal não poderá eleger um
secretário executivo por ter já a sede da organização. Para sustentar
esta tese, Trovoada cita, entre outros países, a Guiné Equatorial - país
que São Tomé ajudou a trazer para a CPLP, ao convidar Teodoro Obiang
para uma cimeira em 2004.
“É uma questão de regra. E a regra, no nosso entender, no entender
dos PALOP (países africanos de língua oficial portuguesa), no entender
da Guiné Equatorial, com quem eu pude partilhar essa questão, é que, de
facto, quem tem a sede não poderia ter ao mesmo tempo o secretariado
executivo”, sublinhou segunda-feira Patrice Trovoada.
O primeiro-ministro são-tomense quis deixar claro que a candidatura
que apresenta não é contra Portugal, mas o governo português mantêm a
tese de que não existe o acordo de cavalheiros que Trovoada invoca. E é
por isso que, como avançou o “SOL” na edição de sábado, o ministro
Santos Silva está a preparar uma candidatura para a qual se perfila o
nome do socialista Vítor Ramalho, atualmente secretário-geral da UCCLA
(União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa).
De resto, fonte oficial do gabinete de Santos Silva disse à Lusa que
“compete agora a Portugal assumir a responsabilidade de apresentar a
candidatura a secretário executivo”.
Seguindo uma tradição de rotatividade por ordem alfabética, iniciada
na criação da CPLP em 1996, o secretariado executivo foi assumido já por
Angola, Brasil, Cabo Verde e Guiné-Bissau. Moçambique assumiu o cargo
nos últimos quatro anos, em dois mandatos. Mas de acordo com esta
lógica, os próximos a assumir a liderança seriam Portugal, São Tomé e
Príncipe e Timor-Leste.
Há várias versões divergentes a correr sobre a existência ou não de
um acordo que retira a possibilidade de ter um secretário executivo ao
país onde está a sede, mas é certo que Brasil, Angola e Moçambique estão
entre os que acham que esse é motivo suficiente para que Portugal não
fique à frente da CPLP.
* Talvez esta falha seja um bom argumento pra dar um chuto no cú em Obiang
.
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