HOJE NO
"PÚBLICO"
"PÚBLICO"
Reciclagem garante 71 milhões
de euros do PIB
Estudo encomendado pela Sociedade Ponto Verde conclui que reciclagem evita 116 mil toneladas de CO2 e multiplica investimentos na economia.
Num momento em que o ministro da Economia tem criticado o ónus do ambiente sobre as empresas, eis uma notícia em sentido contrário: a reciclagem faz bem e dá dinheiro.
Por cada euro de valor acrescentado criado pela
actividade, surgem mais 1,25 euros de lucro no resto da economia,
segundo um estudo da consultora ambiental 3Drivers e de especialistas do
Instituto Superior Técnico, de Lisboa. O PIB perderia 71 milhões de
euros sem a reciclagem. E, com ela, evita-se o lançamento de uma
quantidade de CO2 equivalente a 16 mil viagens de avião à volta da
Terra.
O estudo foi encomendado pela Sociedade Ponto Verde (SPV),
que gere a reciclagem da maior parte das embalagens do país. O
objectivo não era avaliar a reciclagem em si, mas sim o impacto de um
sistema integrado de gestão – figura criada legalmente em 1997, na qual
fabricantes e importadores transferem para uma sociedade comum a
responsabilidade de dar um destino adequado aos seus resíduos de
embalagem.
“Quisemos ver em números a bondade deste princípio, passados alguns anos”, afirma Luís Veiga Martins, director-geral da SPV.
Os números foram calculados através de uma “análise de ciclo de
vida”, que contabiliza tudo, desde o momento em que o cidadão vai até ao
ecoponto para depositar o lixo, até à comercialização dos produtos
fabricados a partir de embalagens recicladas.
Do ponto de vista
ambiental, o estudo aponta vantagens nas emissões de CO2 e de outros
poluentes, e no consumo de recursos. Da forma como o lixo está a ser
tratado no país – com uma parte em aterros, uma parte incinerada e uma
parte reciclada – a existência de um sistema integrado para as
embalagens representa uma poupança de água equivalente a 275 piscinas
olímpicas e uma redução de 1,3% no consumo energético do país.
Nas
emissões, há uma redução de 116 mil toneladas de CO2 por ano – uma
quantidade que, para ser absorvida naturalmente, necessitaria de uma
floresta com mais de duas vezes a área da cidade de Lisboa. São cerca de
0,2% das emissões nacionais de gases com efeito de estufa.
O
impacto económico, segundo o estudo, também é positivo. Um sistema
integrado, como o da SPV, tem como receita uma taxa que os fabricantes e
importadores pagam à sociedade gestora, para que esta trate das
embalagens que colocam no mercado. A principal despesa é o valor pago
pela sociedade gestora aos sistemas multimunicipais, para que façam a
recolha selectiva do lixo nos ecopontos ou porta a porta e o entregue
aos recicladores.
Para além deste fluxo normal, porém, o estudo
estima que haja uma cadeia de outras actividades e sectores onde a
reciclagem acaba por multiplicar os negócios – como, na construção
civil, comércio, banca e transportes.
Nas contas do estudo, o
sistema integrado para a reciclagem acaba por adicionar à economia, num
ano, 147 milhões de euros em valor acrescentado bruto, 80 milhões em
salários adicionais e 391 milhões em volume de negócios. “Cada euro que a
SPV põe no sistema é multiplicado por 2,25 na economia”, afirma o
investigador Paulo Ferrão, um dos coordenadores do estudo.
Se não
houvesse reciclagem e todo o lixo fosse para aterros ou incineradoras, o
PIB perderia 71 milhões de euros – uma retracção de 0,04%.
Um dos
principais benefícios da reciclagem para as contas nacionais está no
facto de se evitar a aquisição de matérias-primas no exterior, através
de um sistema que gera negócios no país. “Estamos a pagar salários cá
dentro para deixar de importar materiais de fora”, resume Paulo Ferrão.
O
estudo surge num momento em que a SPV está a negociar uma nova licença
com a Agência Portuguesa do Ambiente, para continuar a sua actividade. A
sua primeira licença é de 1997 e a segunda de 2004, válida até Dezembro
passado e que foi prorrogada temporariamente.
* O professor Álvaro perde imensas oportunidades de estar calado
.
Sem comentários:
Enviar um comentário