02/09/2011



HOJE NO
"JORNAL DE NOTÍCIAS"

Médicos demitem-se devido 
a cortes de verbas para transplantes
O presidente e a coordenadora nacional da Autoridade dos Serviços do Sangue e da Transplantação pediram esta sexta-feira a demissão em protesto contra as intenções do ministro da Saúde de cortar as 
verbas daquele organismo. Paulo Macedo admitiu a possibilidade de reduzir o número de 
transplantes feitos em Portugal.

"Recuso-me a permanecer aqui porque o meu lugar está esvaziado de funções. Não posso aceitar que haja doentes que se podem salvar mas que vão morrer porque o país está em dificuldades económicas", disse à Lusa a Coordenadora Nacional das Unidades de Colheita de Órgãos, Tecidos e Células para Transplantação, Maria João Aguiar.

A demissão da coordenadora nacional surge na sequência das declarações "absolutamente desastrosas" do ministro da Saúde, Paulo Macedo, em entrevista à TVI na quinta-feira à noite.

Questionado sobre se os transplantes estariam em risco, o ministro Paulo Macedo admitiu que "pode não haver o mesmo número de transplantes", explicando que é preciso perceber se o país "pode sustentar o actual número de transplantes".

"O que pretendemos é manter um número de transplantes tão interessante e de qualidade como tem vindo a ser feito, mas claramente dando menos incentivos aos hospitais, porque também não é necessário. Estes incentivos visam um incremento e o que nós achamos é que não é necessário haver aqui um incremento", acrescentou o ministro.

Perante as declarações do ministro, Maria João Aguiar e o director Geral da ASST, João Rodrigues Pena, apresentaram a sua carta de demissão ao ministério como "forma de protesto", informação que o ministério já confirmou à Lusa.

"Enquanto médica e enquanto técnica para mim isto é absolutamente inaceitável", disse Maria João Aguiar, acrescentando que "é muito difícil para os médicos aceitar que haja doentes que se podem salvar e vão morrer porque o país está em dificuldades económicas. Digam então às famílias dos doentes que temos de fazer cortes económicos para salvar o Serviço Nacional de Saúde e terão que morrer doentes".

"Como é que um doente que está à espera de um transplante para sobreviver recebe estas notícias? A colheita não sobe nem desce por milagre, tem de ser apoiada", sublinhou a responsável.

Em Agosto, o Governo decidiu cortar para metade os incentivos para a realização de transplantes, com efeitos retroactivos desde o início do ano.

A responsável recorda que o anúncio de cortes aos incentivos previstos para a ASST tinham sido recebidos pelos responsáveis como "inevitáveis" face à actual situação do país: "Eu, com alguma ingenuidade, pensei que poderia tentar fazer o mesmo trabalho com metade (do orçamento) e que se iria tentar que os números da actividade não baixassem. Mas as declarações do senhor ministro foram muito claras".

Maria João Aguiar considera que as suas funções deixam de fazer sentido quando o ministério admite que o país está sem capacidade económica para manter o actual nível de colheitas e transplantes.
A responsável garante que as transplantações renais significam uma "poupança de milhões de euros" ao Estado: "A transplantação é a maneira mais económica para os doentes que vão continuar a gastar dinheiro ao Estado porque continuam em diálise se não são transplantados".

Contou ainda à Lusa que perante a sua decisão decidiu enviar uma mensagem aos colegas que trabalham na área, apelando para que "continuem a ter em mente os doentes que estão em lista de espera, porque eles existem e sofrem todos os dias".


* Os responsáveis técnicos agora demissionários ou são líricos ou não percebem nada do assunto. O ministro da Saúde tem uma grande sensibilidade clínica para números e é o que a "TROIKA" lhe exige fazer. Que importância tem morrerem uma catrefa de cidadãos por falta de órgão se se podem poupar milhões? E ainda há quem ganhe com o assunto, as agências funerárias e os partidos do governo se por acaso os defuntos tiverem votado na oposição. E não se esqueçam que  um governante, deputado, familiares e amigos do peito vão ter sempre um órgãozinho à disposição nem que se vá à Cochinchina. A medida  é para o povo anónimo que também votou neles.

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