02/09/2011

DANIEL OLIVEIRA



O fanfarrão
ABRIR O JOGO

Quando foram tornadas públicas as gravações de Pinto da Costa que evidenciaram, para não dizer mais, a promiscuidade entre aquele dirigente desportivo e muitos árbitros, esperava uma posição pública da arbitragem para defender a honra de uma função sem a qual os jogos são impossíveis. Não aconteceu. Quando rebentou o escândalo do Apito Dourado esperava que fossem, antes de todos, os árbitros a lutar para que finalmente fosse separado o trigo do joio. Não aconteceu. Das muitas vezes que se debateu a mudança nas regras de nomeação de árbitros, esperava que estivessem eles na linha da frente na luta por regras claras. Não aconteceu. Quando se exigiram novas tecnologias para a arbitragem, esperava que fossem os árbitros a tomar a dianteira. Não aconteceu. De todas as vezes que árbitros foram agredidos e ameaçados nos estádios, esperava uma posição de força, sem concessões. Não aconteceu.

Sei que criticar as arbitragens é o mais fácil. Umas vezes com razão – foi o caso da primeira jornada –, outras para disfarçar más exibições. Mas parece haver na arbitragem portuguesa uma convivência demasiado fácil com as águas turvas. É por isso perturbante ver os árbitros a boicotar um clube apenas porque um deles é, como tantas vezes acontece, criticado pelo seu mau desempenho. Porquê esta reação desproporcionada? Porque o Sporting é, dos três grandes, aquele que não conta nas contas dos obscuros corredores do poder do futebol nacional. Os árbitros não mostram, com este patético boicote, a sua força. Tornam apenas evidente a sua fraqueza perante os poderes instalados. Compensam os silêncios e as cumplicidades de sempre, mostrando as suas temerosas garras à presa mais fácil. É o que faz o fanfarrão. Não é o que faz o corajoso.


IN "RECORD"
27/08/11


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