22/11/2009

CONDE DA ERICEIRA

Luís de Meneses, 3º conde da Ericeira, (Lisboa, 22 de Julho de 163226 de Maio de 1690) foi um nobre, militar, político e historiador português.

Comendador das comendas de São Cipriano de Angueira, São Martinho de Frazão e de São Bartolomeu da Covilhã, todas da Ordem de Cristo, foi general de Artilharia durante a Guerra da Restauração e, posteriormente, no Conselho de Estado, foi Vedor da Fazenda sob o reinado de Pedro II de Portugal, cujo partido seguiu nas discórdias e intrigas palacianas que conduziram à deposição de Afonso VI de Portugal. Distinguiu-se por diversas reformas úteis ao país, considerando-se que a ele se deve o impulso inicial das manufacturas portuguesas. Por essa razão é considerado por alguns autores como o "Colbert" português.


Biografia

Era filho de D. Henrique de Meneses, 5º senhor do Louriçal, e de D. Margarida de Lima, filha dos 4º condes de Atouguia, João Gonçalves de Ataíde, e D. Maria de Castro. Irmão do 2.º conde da Ericeira, criou-se no paço desde os primeiros anos.

Com o advento da Restauração da Independência (1640), então com oito anos de idade, entrou ao serviço do Príncipe D. Teodósio de Bragança, o filho mais velho de D. João IV de Portugal.

Carreira militar

Em 1650, tendo decidido acompanhar o vice-rei do Estado Português da Índia, D. João da Silva Telo e Menezes, conde de Aveiras, que ia partir para o Oriente, foi persuadido a mudar de ideia por D. João da Costa, futuro conde de Soure, nomeado naquele ano como Governador das Armas da Província do Alentejo, a quem acompanhou. Serviu naquela região até ao fim da guerra, tendo atingido o posto de general da Artilharia. Combateu na batalha de São Miguel (1658), na batalha das Linhas de Elvas (1659), na batalha do Ameixial (1663) e na batalha de Montes Claros(1665), entre outras. Como recompensa por ter derrotado as tropas espanholas na passagem do rio Degebe, recebeu, entre outras mercês, o senhorio da vila de Ancião, onde se levantou, por ordem do soberano, um padrão, em que se colocou inscrição latina.

Com o advento da paz, foi nomeado Governador das Armas da Província de Trás-os-Montes (1673).

Carreira política: as "Pragmáticas" de 1686 e 1687

Apoiara claramente Pedro II de Portugal e a aristocracia na crise que culminou na abdicação de Afonso VI de Portugal (1667).

Em 1675 regressou a Lisboa, vindo a ser escolhido para deputado da Junta dos Três Estados, o Conselho Régio que administrava o Exército. Na mesma altura, foi também nomeado Vedor da Fazenda da repartição dos Armazéns e Armadas. Nesses postos, apoiou as ideias mercantilistas que Jean-Baptiste Colbert, ministro de Luís XIV de França, havia implementado em seu país, e introduzidas em Portugal por Duarte Ribeiro de Macedo, nas quais se inscrevem as medidas legislativas anti-sumptuárias e de obrigação de utilização de panos nacionais, como foi o caso da pragmática de 1677, que proibiu o uso de panos, chapéus, cintos, boldriés e talins estrangeiros.

Após a Restauração, a balança comercial portuguesa a todos preocupava, e a agravá-la, estava a crise no preço do açúcar do Brasil, que após a expulsão dos neerlandeses (1654), passara a sofrer forte concorrência do de Barbados e do de outras colónias francesas e inglesas, oferecidos a preços mais em conta. Em 1668 a arroba valia, na praça de Lisboa, 2.400 réis, em 1675, na mesma praça, apenas 1.000 réis. O argumento principal dos críticos da política económica portuguesa era não tanto a falta de artigos nacionais para compensação interna de consumo, mas os compromissos assumidos pelos tratados então em vigor, e pela possibilidade da recusa que os países estrangeiros fariam aos produtos de exportação portugueses.

Neste contexto, o conde de Ericeira tomou medidas importantes desde 1680, correspondendo-se com Luís de Vasconcelos e Sousa, 2° conde de Castelo Melhor, na Inglaterra, para promover o estabelecimento de fábricas de panos no Reino de Portugal. Para este fim fez vir mestres e oficiais daquele país, a título de criados da Rainha da Grã-Bretanha, D. Catarina de Bragança, que então se recolhia ao Reino. Essas medidas visavam tornar Portugal o mais que possível independente da produção estrangeira: à primitiva organização doméstica e artesanal opunha-se um sistema manufactureiro ainda que limitado, com legislação semi-proteccionista, reorganizando as indústrias existentes e implantando novas, de panos (sarjas, baetas e sedas), chapéus, cintos e vidros. Em 1686 renovou a proibição da importação de lanifícios e outros, dando um prazo de dois anos. Apesar disso, nunca os lanifícios ingleses deixaram de circular, mesmo ilegalmente. Mas foi avesso a proteccionismo absoluto e a excessos burocráticos. Na reforma da moeda, adoptou o processo de serrilha, para evitar o cerceio. Além dos estabelecimentos fabris nacionais, tentou aperfeiçoar a navegação e comércio com os territórios ultramarinos para facilitar o afluxo de matérias-primas e a colocação dos produtos manufacturados; adopção de medidas proteccionistas, afastando a concorrência de outros países no mercado nacional.

Com os mestres e oficiais estrangeiros, estabeleceu teares de tecer panos nas vilas do Fundão, Covilhã, Redondo e Portalegre, que protegeu, resultando em que dez anos depois, estavam fabricando excelentes panos. Os ingleses faziam as diligências para arruinar as fábricas, mas Ericeira as amparava e defendia, conseguindo do soberano a Pragmática de 1687, que lhe ditou, em que proibiu expressamente panos estrangeiros, negando-lhes o despacho nas alfândegas. Nos quatro anos em que as favoreceu a Pragmática, já supriam tais fabricas os panos para o reino e as Conquistas, vestiam as tropas do Exército e da Marinha e iam alguns para fora do Reino, principalmente muitos cortes de vestidos.

Apoiou também a produção de seda, com a plantação de amoreiras e o incentivo à criação de bichos-da-seda em terrenos baldios e em hortas. Em 1678 fez vir, da Itália, numerosos artesãos de sedas. A indústria de curtumes interessava-o, pela abundância dessa matéria-prima no Brasil, e proibiu a importação dos couros ingleses.

Vítima de depressão (descrita à época como ataques de melancolia), cometeu suicídio precipitando-se de uma janela do seu palácio em Lisboa, tendo morte quase que imediata. Os seus restos jazem na Capela-mor do Convento de Nossa Senhora da Graça, naquela cidade, no jazigo de seus ascendentes.

Casamento

Desposou, em 1 de Maio de 1666 no Convento de Santa Clara, a sua sobrinha, D. Joana Josefa de Menezes (Lisboa, 13 de setembro de 1651 - 26 de agosto de 1707, filha e herdeira de seu irmão, o 2º conde da Ericeira, D. Fernando de Menezes, e de D. Leonor Filipa de Noronha, dama da rainha D. Luísa de Gusmão. Dela se afirmou que: "Em discrição, piedade e formosura teve o primeiro lugar entre as senhoras de seu tempo e também nas estimações e favores da Rainha D. Maria de Sabóia e da Rainha da Grã-Bretanha, D. Catarina, de quem foi camarista." Senhora de grande erudição e poeta afamada, falava os idiomas espanhol, francês e italiano perfeitamente e tinha bons conhecimentos de latim. Imprimiu, em seu nome, um poema de trezentas oitavas no idioma castelhano: "Despertador del alma al sueño de la vida". Escreveu ainda seis loas, seis bailes, sonetos e romances no mesmo idioma. Tendo vindo a falecer aos cinquenta e seis anos de idade, jaz na capela-mor do Mosteiro da Anunciada em Lisboa.

Descendência

  1. D. Francisco Xavier de Meneses (1673 - 1743), 4º conde da Ericeira, 8º senhor da Casa do Louriçal.

Obra

Considerado um dos homens mais cultos de sua época, dedicou-se principalmente à história, sendo autor da obra História de Portugal Restaurado. Tinha perfeito conhecimento das línguas francesa, espanhola e italiana. Possuía magnífica biblioteca em seu palácio, decorado com pinturas de Charles Le Brun nas salas.

Entre as suas obras, contam-se:

  • "Compendio panegyrico da vida e acções do Excellentissimo Senhor Luiz Alvares de Tavora, conde de S. João, marquez de Tavora". Lisboa, 1674.
  • "Historia de Portugal Restaurado (Parte I)". Lisboa, 1679
  • "Historia de Portugal Restaurado (Parte II)". Lisboa, 1698 - Nesta última obra defendeu, na Introdução, a legitimidade da nova dinastia de Bragança, uma vez que a infanta D. Catarina, filha do infante D. Duarte e neta de D. Manuel I, duquesa de Bragança pelo casamento, havia sido ilegalmente afastada da sucessão por Filipe II de Espanha. Nela descreve o período de vinte e sete anos (1640 a 1668), após o qual se celebraram as pazes com Castela. A obra teve diversas impressões: a Parte I, dividida em tomos I e II, Lisboa, 1751; a Parte II, dividida em tomos III e IV, Lisboa, 1751; saiu pela terceira vez em Lisboa, em 1759.
  • "Exemplos de virtudes morales en la vida de Jorge Castrioto, llamado Scanderbeg, principe de los Epirotas y Albanezes, etc.,". Lisboa, 1688;
  • "Relação do felice successo que conseguiram as armas do Serenissimo principe D. Pedro, nosso senhor, governadas por Francisco de Tavora, governador e capitão general do reino de Angola, contra a rebellião de D. João, rei das Pedras e Dongo, no mez de dezembro de 1671"; saiu anónima e sem ano de impressão;
  • "Soneto em applauso do Panegyrico poetico que dedicou a el rei D. Pedro II o principe Seneschal de Ligne, Marquez de Arronches". Lisboa, 1685.

Deixou ainda alguns manuscritos, principalmente em língua castelhana, entre os quais se contavam duas comédias em verso.

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