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A cigarra e os frugais
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A cigarra e os frugais
É ingrata a tarefa de António Costa. Num roteiro pelos países mais resistentes a abrirem os cordões à bolsa, o primeiro-ministro tem a árdua tarefa de convencer os seus dirigentes, pressionados pelas opiniões públicas locais, de que as verbas destinadas a Portugal serão aplicadas bem e com rigor
Contra si, ou melhor, contra nós, há
décadas de fundos europeus desbaratados, desviados para outros fins.
Como ainda no domingo titulava em manchete o JN, "Fraude nos subsídios
europeus davam para pagar duas vezes a TAP". Assim é difícil mostrar aos
calvinistas do Norte e aos populistas da Europa Central, por razões
diferentes, é certo, a necessidade de contribuir de forma solidária para
ajudar à recuperação desta crise sem precedentes provocada por um
vírus.
Costa já recebeu em Lisboa os
primeiros-ministros de Itália e de Espanha e encontrou-se, ontem, com o
seu homólogo holandês. Hoje tem reunião marcada com o primeiro-ministro
húngaro. O objetivo é conseguir um bom acordo para Portugal ainda em
julho, embora não forçosamente durante o Conselho Europeu do próximo fim
de semana.
A União Europeia deverá
disponibilizar 750 mil milhões de euros em subsídios a fundo perdido. A
questão é saber as exigências dos chamados países frugais - estranha
forma de classificar um país.
Quererão seguramente alguma coisa. Ainda
temos fresca na memória as condições hercúleas impostas pela troika e o
que isso nos fez penar. Provavelmente os frugais pretendem os outros à
sua imagem e semelhança, eles, as formigas que olham para o Sul e veem
apenas cigarras a cantar ao sol. Lamento que lhes tenhamos dado tantas
razões para engordarem a desconfiança. Os números estão aí e retratam
uma realidade vergonhosa.
Em dez anos, a Polícia Judiciária apurou
desvios de fundos comunitários num valor de 2,3 mil milhões de euros - a
tal verba suficiente para salvar a TAP duas vezes.
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
14/07/20
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