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HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Cortes de salário na gravidez, falta de fardas e de instalações próprias.
O retrato das mulheres na PSP
A Associação Sindical de Profissionais de Polícia vai apresentar em Málaga esta terça-feira as conclusões de um estudo que coordenou sobre a as mulheres na PSP. Há várias preocupações na integração destas profissionais
"Infelizmente nada me surpreendeu nas conclusões deste estudo. É uma realidade e problemas que conhecemos no dia-a-dia. A polícia é uma fatia da sociedade e como ainda somos uma sociedade machista, na polícia há um maior peso os homens",
afirma Marisa Dolores, dirigente da Associação Sindical de
Profissionais de Polícia (ASPP), o maior sindicato da PSP que coordenou o
inquérito interno sobre as mulheres nesta força de segurança.
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BELEZA E EFICÁCIA |
Somente
10% do efetivo da PSP é constituído por mulheres - cerca de 2000. E
"mais preocupante", assinala a ASPP, "esse valor está praticamente
estagnado ao longo dos anos e coloca até em causa o serviço
operacional". Há registo de casos de mulheres grávidas que
perdem vencimento, uma situação que, explica Marisa Dolores, psicóloga e
agente desta força de segurança, "é uma ilegalidade, no mínimo moral":
quando as mulheres engravidam "são retiradas obrigatoriamente do
trabalho operacional e perdem os subsídios de patrulha e de turno e
deixam de fazer gratificados, o que significa um corte de cerca de 1/3
do salário".
Mas há mais problemas confirmados neste
relatório. No que diz respeito ao equipamento de proteção individual,
como os coletes antibala, e armamento, "não existe material adaptado às
mulheres, além de nem sequer existir para todos elementos policiais".
Além disso, as mulheres na PSP continuam sem ter instalações próprias,
vestiários, nomeadamente. E depois os cargos de chefia são
maioritariamente desempenhados por homens, sendo que a PSP, que tem
mulheres desde 1930, nunca teve uma mulher a dirigir os seus destinos.
Grávidas obrigadas a saírem das patrulhas
Marisa Dolores e
outros dirigentes da ASPP estarão em Málaga, Espanha, esta quarta-feira
para participar na conferência de encerramento do Projeto Europeu:
"EQUAL POLICE: European Police together toward more egalitarian
workplace", onde vão apresentar as conclusões do estudo português.
"Somos o país da Europa como menos mulheres na polícia", lamenta a
agente Marisa, lembrando casos como a Lituânia "onde são cerca de 50%"
ou mesmo a vizinha Espanha "que tem 15/20%". Na opinião desta dirigente
sindical, as principais razões para este desfasamento "têm a ver com as
dificuldades em conciliar a vida pessoal com a profissional. A maior
parte das mulheres na polícia chegam um dia ao momento em que têm de
escolher entre a carreira ou a família, enquanto aos homens nunca se
coloca essa questão".
Esta agente não duvida das "capacidades" da mulheres na PSP e gostava que houvesse "mais sensibilidade". "Não
se percebe porque uma operacional que fique grávida é logo obrigada a
sair das patrulhas e a ficar à secretária, ainda por cima perdendo parte
do vencimento. Está errado, pois a gravidez é inerente à condição de
ser mulher e nunca devíamos ser prejudicadas por isso",
sublinha. A solução encontrada por muitas mulheres para evitar estes
cortes no vencimento, explica ainda, "é meter baixa por gravidez de
risco, o que acaba por ser prejudicial à própria instituição, pois deixa
de ter aquele elemento ao serviço".
A ASPP/PSP faz um balanço "muito positivo da participação neste
projeto". Trata-se de um projeto europeu, organizado pelo Sindicato
Independente de Polícia da Andaluzia, fazendo ainda parte a Confederação
Espanhola de Polícia, também de Espanha. Além da ASPP/PSP, participam
organizações sindicais de Espanha, Itália, Lituânia e Roménia. "Além de
termos já demonstrado internamente os problemas com que a PSP se depara,
é muito importante levar as nossas preocupações a nível europeu e
trocar experiências com outras forças congéneres. Isto, num espaço
europeu que se pretende cada vez mais coeso e, acima de tudo, seguro",
salienta a direção deste sindicato.
Foi em 1930 que entraram as
primeiras mulheres para a PSP, sendo que no início apenas tinham funções
de apoio e assistência, uma realidade que se manteve até aos anos 70.
Em 1972 foi criado o primeiro curso de formação para mulheres agentes,
no qual 312 foram selecionadas entre as 14 mil que se candidataram, mas
ainda para ocuparem cargos administrativos, de modo a libertar os homens
para funções operacionais. Em 2019, as mulheres representavam pouco
mais de 10% dos efetivos.
* Num país onde a desigualdade de género é gritante estava-se à espera de quê?
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