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A Aliança de Santana
Quando a ‘geringonça’ se pôs de pé e as vacas começaram a voar,
pouca gente à direita quis compreender o real alcance do que tinha
acabado de suceder.
PSD e PS alternavam-se na governação, porque qualquer outra
solução era inviabilizada pela recusa do PCP. Esse muro, já de si uma
particularidade portuguesa, caiu por fim em 2015.
Como escrevi aqui num artigo chamado A direita tem um problema
(fevereiro de 2016), o mais difícil era ‘a primeira vez’. A política das
coligações (até as de geometria variável) tinha vindo para ficar, e com
ela tinha chegado o fim da alternância governativa entre PS e PSD.
Mais: o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi o
grande responsável pela normalização e democratização do PCP e do
Bloco, recusando-se a diabolizá-los e retirando-lhes o anátema de
antidemocráticos. É um ‘anti-Cavaco Silva total’, por assim dizer.
O PSD recusou-se a perceber, e por isso Pedro Passos Coelho não se
demitiu; por isso se agarrou como um náufrago à tese do ‘diabo’ ou à
boia de salvação de que o PSD teria em próximas eleições uma maioria
absoluta para governar.
A Europa é governada por coligações de vários partidos à direita ou à
esquerda, ou por blocos centrais. Tinham aparecido partidos novos em
vários países. Era uma questão de tempo até acontecer em Portugal.
Rui Rio e Santana Lopes sabem-no perfeitamente, e a questão
atravessou subliminarmente a campanha eleitoral para as diretas. Nenhum
acredita na maioria absoluta do PSD, mesmo que coligado com o CDS. Estão
os dois certos – mas dão respostas diferentes ao problema.
Vamos deixar-nos de paninhos quentes: Rui Rio não desdenha um bloco central, Santana Lopes quer alianças à direita.
Este dilema existe desde o nascimento do PSD e levou a cisões: sempre
houve gente mais próxima do PS e gente mais próxima do CDS, tudo isto é
muito normal e expectável.
E no caso de Santana, é das coisas mais coerentes e constantes da sua
vida política: começou na Nova Esperança a combater o bloco central e
continua a combatê-lo agora. Como não ganhou a liderança do PSD, foi
fazer o mesmo para outro lado.
Na prática, com o novo partido, Santana obriga a uma política de coligações à direita e impede um bloco central.
Está a contar com duas coisas a seu favor: com esta direção do PSD,
colaborante com o Partido Socialista, e com uma votação expressiva em
Lisboa e no Porto. Os dois centros urbanos que foram abandonados pelo
PSD e tiveram péssimos resultados autárquicos. Aliás, eu diria que a
Aliança foi feita a pensar nas eleições autárquicas de 2021.
Neste momento, esta dupla circunstância beneficia-o muitíssimo. Mas
basta o PSD voltar a ter uma liderança de oposição ao PS e que aposte
nos centros urbanos, e a Aliança será esvaziada. Mas enquanto o pau vai e
vem, folgam as costas…
IN "SOL"
02/09/18
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