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IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
02/09/18
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Vivemos num mundo melhor
Boas notícias não são tão noticiáveis como más notícias. Isso não é culpa dos media. É mais desafiador contar uma história positiva. Em muitos casos, a "notícia" não é que aconteceu alguma coisa, mas que uma coisa má já não está a acontecer.
É muito fácil formarmos a visão de que o mundo moderno está a
desmoronar-se. Somos constantemente confrontados com ataques de
negatividade: manchetes assustadoras, investigações com conclusões
alarmantes e estatísticas miseráveis.
Há
de facto muitas coisas no planeta com as quais nos devemos preocupar
muito. Mas se nos fixarmos nas histórias de terror perdemos o quadro
maior.
As
Nações Unidas concentram-se em três categorias de desenvolvimento:
social, económico e ambiental. Em cada categoria, olhando para o último
quarto de século, temos muito mais motivos de alegria do que motivos
para ter medo. Na verdade, este período tem sido marcado por progressos
extraordinários.
Socialmente, o
indicador mais importante é o tempo que cada um de nós vive. Em 1990, a
esperança média de vida era de 65 anos. Em 2016, já havia subido para
72,5. Em apenas 26 anos, ganhámos 7,5 anos de vida.
Um
pessimista pode sugerir que isso significa que temos mais 7,5 anos para
ficarmos doentes e infelizes, mas não é o caso. Em 1990, as pessoas
passavam quase 13% das suas vidas doentes e essa percentagem não
aumentou. E ainda que se diga que a desigualdade está pior do que nunca,
nesta medida mais vital, a desigualdade está a diminuir: a diferença
entre a esperança média de vida nos países pobres e ricos diminuiu
drasticamente.
Em termos de
desenvolvimento económico, um dos indicadores mais importantes é a
percentagem de pessoas em situação de pobreza. Agora, há muito menos
pessoas a viver em condições deploráveis. Em 1990, 37% das pessoas
viviam na pobreza extrema; hoje é menos de uma em dez. Em apenas 28
anos, mais de 1,25 mil milhões de pessoas saíram da pobreza - um milagre
que recebe pouca atenção.
Olhando
para o meio ambiente, um dos maiores assassinos é a poluição do ar em
ambientes fechados causada por pessoas pobres que usam estrume e madeira
para cozinhar e manter-se aquecidas. Em 1990, essa foi a causa de mais
de 8% das mortes; agora é responsável por apenas 4,7%. Isso equivale a
menos 1,2 milhões de pessoas a morrer por causa do poluição do ar em
ambientes fechados por ano, apesar do aumento da população.
Há
uma tendência semelhante em muitas outras estatísticas de
desenvolvimento ambiental. Entre 1990 e 2015, a percentagem do mundo a
praticar defecação a céu aberto caiu para metade, para cerca de 15%. O
acesso a fontes melhoradas de água aumentou em 2,6 mil milhões de
pessoas no mesmo período, para 91%. Mais de um terço da população
mundial ganhou acesso a água melhorada.
As
melhorias não ficam por aqui: o mundo está mais alfabetizado; o
trabalho infantil está a diminuir; estamos a viver num dos momentos mais
pacíficos da história; e a maioria dos governos do mundo são regimes
democráticos.
Max Roser, da
Universidade de Oxford, construiu um site abrangente para explorar dados
como estes. Max sugere que poderíamos pensar nestas mudanças de um
quarto de século em termos do que aconteceu nas últimas 24 horas: visto
dessa forma, só no último dia, a esperança média de vida aumentou em 9,5
horas; 137 mil pessoas saíram da pobreza extrema; e 305 mil tiveram
acesso a água potável mais segura. Os meios de comunicação poderiam ter
contado cada uma dessas histórias todos os dias desde 1990.
Mas
boas notícias não são tão noticiáveis como más notícias. Isso não é
culpa dos media. É mais desafiador contar uma história positiva. Em
muitos casos, a "notícia" não é que aconteceu alguma coisa, mas que uma
coisa má já não está a acontecer. Não capta a nossa atenção da mesma
maneira. Um estudo intrigante de 2014 descobriu que, mesmo quando os
participantes declararam que queriam ler histórias positivas, o
comportamento deles revelou uma preferência por conteúdos negativos (uma
preferência que eles nem perceberam).
Devemos
desafiar-nos a prestar mais atenção aos factos positivos. Quando as
pessoas são questionadas sobre se as condições de vida em todo o mundo
serão melhores daqui a 15 anos, 35% acredita que serão, e 29% acha que
vão piorar – quase um empate. Mas entre as pessoas que entendem que
muitas coisas no planeta já são melhores do que eram, 62% acredita no
progresso. Essa proporção cai para apenas 17% entre aqueles que não
conhecem os factos. A crença de que tudo está a piorar cria uma imagem
distorcida do que podemos fazer e deixa-nos mais amedrontados.
Consideremos
o cenário bastante comum em que os políticos e os meios de comunicação
aumentam o medo do crime, mesmo quando as estatísticas mostram que as
taxas de criminalidade nacionais estão baixas ou a descer. Podemos
acabar por dedicar mais atenção e recursos a resolver o desafio errado, e
temos mais policiamento nas ruas ou liberdades civis reduzidas, em vez
de políticas que promovem o bem-estar - mas são menos noticiáveis - como
melhorias nas escolas ou nos cuidados de saúde.
Enquanto
a percepção errada dos factos pode resultar facilmente em políticas
equivocadas e baseadas no medo, um reconhecimento mais equilibrado e
factual sobre o que a humanidade alcançou permite-nos concentrar os
nossos esforços nas áreas em que podemos alcançar os melhores resultados
(geralmente onde já nos saímos bem). Isso garantirá que o futuro possa
ser ainda mais brilhante.
* Director do Copenhagen Consensus Center e professor visitante da Copenhagen Business School.
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
02/09/18
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