07/09/2018

BJORN LOMBORG

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Vivemos num mundo melhor

Boas notícias não são tão noticiáveis como más notícias. Isso não é culpa dos media. É mais desafiador contar uma história positiva. Em muitos casos, a "notícia" não é que aconteceu alguma coisa, mas que uma coisa má já não está a acontecer.

É muito fácil formarmos a visão de que o mundo moderno está a desmoronar-se. Somos constantemente confrontados com ataques de negatividade: manchetes assustadoras, investigações com conclusões alarmantes e estatísticas miseráveis.

Há de facto muitas coisas no planeta com as quais nos devemos preocupar muito. Mas se nos fixarmos nas histórias de terror perdemos o quadro maior.

As Nações Unidas concentram-se em três categorias de desenvolvimento: social, económico e ambiental. Em cada categoria, olhando para o último quarto de século, temos muito mais motivos de alegria do que motivos para ter medo. Na verdade, este período tem sido marcado por progressos extraordinários.

Socialmente, o indicador mais importante é o tempo que cada um de nós vive. Em 1990, a esperança média de vida era de 65 anos. Em 2016, já havia subido para 72,5. Em apenas 26 anos, ganhámos 7,5 anos de vida.

Um pessimista pode sugerir que isso significa que temos mais 7,5 anos para ficarmos doentes e infelizes, mas não é o caso. Em 1990, as pessoas passavam quase 13% das suas vidas doentes e essa percentagem não aumentou. E ainda que se diga que a desigualdade está pior do que nunca, nesta medida mais vital, a desigualdade está a diminuir: a diferença entre a esperança média de vida nos países pobres e ricos diminuiu drasticamente.

Em termos de desenvolvimento económico, um dos indicadores mais importantes é a percentagem de pessoas em situação de pobreza. Agora, há muito menos pessoas a viver em condições deploráveis. Em 1990, 37% das pessoas viviam na pobreza extrema; hoje é menos de uma em dez. Em apenas 28 anos, mais de 1,25 mil milhões de pessoas saíram da pobreza - um milagre que recebe pouca atenção.

Olhando para o meio ambiente, um dos maiores assassinos é a poluição do ar em ambientes fechados causada por pessoas pobres que usam estrume e madeira para cozinhar e manter-se aquecidas. Em 1990, essa foi a causa de mais de 8% das mortes; agora é responsável por apenas 4,7%. Isso equivale a menos 1,2 milhões de pessoas a morrer por causa do poluição do ar em ambientes fechados por ano, apesar do aumento da população.

Há uma tendência semelhante em muitas outras estatísticas de desenvolvimento ambiental. Entre 1990 e 2015, a percentagem do mundo a praticar defecação a céu aberto caiu para metade, para cerca de 15%. O acesso a fontes melhoradas de água aumentou em 2,6 mil milhões de pessoas no mesmo período, para 91%. Mais de um terço da população mundial ganhou acesso a água melhorada.

As melhorias não ficam por aqui: o mundo está mais alfabetizado; o trabalho infantil está a diminuir; estamos a viver num dos momentos mais pacíficos da história; e a maioria dos governos do mundo são regimes democráticos.

Max Roser, da Universidade de Oxford, construiu um site abrangente para explorar dados como estes. Max sugere que poderíamos pensar nestas mudanças de um quarto de século em termos do que aconteceu nas últimas 24 horas: visto dessa forma, só no último dia, a esperança média de vida aumentou em 9,5 horas; 137 mil pessoas saíram da pobreza extrema; e 305 mil tiveram acesso a água potável mais segura. Os meios de comunicação poderiam ter contado cada uma dessas histórias todos os dias desde 1990.

Mas boas notícias não são tão noticiáveis como más notícias. Isso não é culpa dos media. É mais desafiador contar uma história positiva. Em muitos casos, a "notícia" não é que aconteceu alguma coisa, mas que uma coisa má já não está a acontecer. Não capta a nossa atenção da mesma maneira. Um estudo intrigante de 2014 descobriu que, mesmo quando os participantes declararam que queriam ler histórias positivas, o comportamento deles revelou uma preferência por conteúdos negativos (uma preferência que eles nem perceberam).

Devemos desafiar-nos a prestar mais atenção aos factos positivos. Quando as pessoas são questionadas sobre se as condições de vida em todo o mundo serão melhores daqui a 15 anos, 35% acredita que serão, e 29% acha que vão piorar – quase um empate. Mas entre as pessoas que entendem que muitas coisas no planeta já são melhores do que eram, 62% acredita no progresso. Essa proporção cai para apenas 17% entre aqueles que não conhecem os factos. A crença de que tudo está a piorar cria uma imagem distorcida do que podemos fazer e deixa-nos mais amedrontados.

Consideremos o cenário bastante comum em que os políticos e os meios de comunicação aumentam o medo do crime, mesmo quando as estatísticas mostram que as taxas de criminalidade nacionais estão baixas ou a descer. Podemos acabar por dedicar mais atenção e recursos a resolver o desafio errado, e temos mais policiamento nas ruas ou liberdades civis reduzidas, em vez de políticas que promovem o bem-estar - mas são menos noticiáveis - como melhorias nas escolas ou nos cuidados de saúde.

Enquanto a percepção errada dos factos pode resultar facilmente em políticas equivocadas e baseadas no medo, um reconhecimento mais equilibrado e factual sobre o que a humanidade alcançou permite-nos concentrar os nossos esforços nas áreas em que podemos alcançar os melhores resultados (geralmente onde já nos saímos bem). Isso garantirá que o futuro possa ser ainda mais brilhante.

* Director do Copenhagen Consensus Center e professor visitante da Copenhagen Business School.

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
02/09/18

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