.
Sustentabilidade
Sustentabilidade
Mais necessário que
um troféu numa gala é criar as condições para que o turismo em Portugal
continue a ser um caso de sucesso num contexto de permanente mudança.
Há cerca de um mês, participei numa conferência sobre o papel das Ciências Matemáticas no turismo sustentável, a Turismat.
Aquilo que para alguns pareceu uma conjugação estranha, ao nível da de
gelado com azeitonas, para mim foi óbvia. Afinal, ao longo do último
ano, escrevi aqui
vários artigos cheios de números, que procuraram trazer o debate sobre o
sector do turismo para o campo da racionalidade. E nada melhor que
informação estatística para cumprir esse papel (embora os factos não
consigam, muitas vezes, sobrepor-se a certas narrativas, mesmo que as
desmintam).
Quando o tema é a sustentabilidade, os
números fazem ainda mais sentido, porque ter um conjunto de indicadores é
fundamental. Sem ele, a visão inscrita na Estratégia Turismo 2027
de que o turismo deve ser um meio para o “desenvolvimento económico,
social e ambiental em todo o território” – visão que eu naturalmente
partilho – tornar-se-ia vazia. Ter dados é essencial para perceber onde
estamos, para definir onde queremos estar e para avaliar as políticas
implementadas em termos de prossecução de objectivos. No workshop ocorrido no INE, onde se divulgaram os resultados de retomada conta satélite do turismo, tivemos a boa notícia de que esse é um trabalho em curso.
A
minha apresentação foi a que se podia adivinhar vinda de uma
economista: cheia de gráficos. Já a do Pedro Moura, doutorado em
Estatística e Investigação Operacional, foi, de certo modo,
surpreendente. Veio ele mostrar-nos que a Matemática esteve envolvida na
construção de uma aplicação para a definição de circuitos temáticos
sustentáveis em Lisboa, ideia desenvolvida por uns seus alunos. Embora
centrada no papel da Investigação Operacional, a exposição dele ilustrou
que a inovação é um elemento relevante do turismo.
A
ligação do turismo à inovação será, para muitos, menos bizarra que à
Matemática, mas, ainda assim, pouco evidente. A actividade turística é
quase tão antiga quanto o próprio Homem e, talvez por isso, aparece sob o
rótulo de “tradicional”, o que frequentemente se associa a antónimo de
“inovador”. Vários estudos contestam esta ideia. E a Organização Mundial
do Turismo tem mesmo Prémios Excelência e Inovação no Turismo, cujos
vencedores da 14ª edição serão anunciados daqui a uma semana, em Madrid.
Portugal encontra-se nos finalistas: Tourism Training Talent
”,
o projecto do Turismo de Portugal na área da formação, pode trazer o
galardão para a inovação em políticas públicas e governança. Duplamente
importante, porque também é uma aposta na valorização dos recursos
humanos. E não será uma estreia, que já ganhámos em 2011 e em 2009.
Também já tivemos dois prémios para organizações não-governamentais no
Alentejo (2007 e 2013) e um hotel a receber uma menção honrosa em 2015.
Nos
últimos anos Portugal soube perceber as novas tendências, nomeadamente
ao nível da comercialização do destino, com a aposta nos meios digitais.
Mas a importância das novas tecnologias de informação e comunicação,
nas quais se incluem os smartphones, com as suas aplicações, ou
as redes sociais, não se resume ao papel de veículo da promoção. Elas
servem, igualmente, como base para a própria inovação do produto
turístico, criando nova oferta ou complementando a já existente. E mais
necessário que um troféu numa gala é criar as condições para que o
turismo em Portugal continue a ser um caso de sucesso neste contexto de
permanente mudança, em que novas tendências socioculturais,
demográficas, ambientais, económicas e tecnológicas emergem. Para que
seja sustentável.
* ECONOMISTA
IN "O JORNAL ECONÓMICO"
10/01/17
.
Sem comentários:
Enviar um comentário