Arriscar a saúde
A discussão foi feita há uma década e a
lei aprovada e Portugal juntou-se ao grupo de países que permitem às
mulheres interromper voluntariamente a gravidez até às dez semanas de
gestação em hospitais públicos. O processo é física e psicologicamente
complexo e a última coisa de que quem recorre à IVG precisa é que tudo
se torne ainda mais difícil. Agora, porém, uma mulher que se dirija a um
dos maiores hospitais de Lisboa para uma consulta arrisca-se a sair de
lá sem saber o que fazer. Da mesma forma como, em breve, aquelas que
estão em vias de ser mães arriscam ter de enfrentar o absurdo de terem
de escolher o dia em que visitam as urgências de Santa Maria, por
exemplo.
A falta de enfermeiros nos
hospitais atingiu este ponto de ridículo e a razão é simples de
entender: sem nada que os incentive a ficar, optam por sair para
unidades privadas ou mesmo para centros de saúde, onde as condições
financeiras, de trabalho ou a qualidade de vida que adquirem compensam
bem mais do que ficar. É um caso sério que alguns dos maiores hospitais
do país já ponderem fechar serviços fundamentais, como a ginecologia e a
obstetrícia, porque não têm profissionais suficientes para os garantir.
E é um problema que tem de ser resolvido rapidamente e ao mais alto
nível. Não criando barreiras à mobilidade e possibilidade de escolha
destes profissionais, mas antes garantindo-lhes condições que assegurem
que compensa ficar. O que inclui dar prioridade à contratação de meios
suficientes para que todo o sistema não torne a colapsar daqui por um
par de meses.
Se a despesa não pode
crescer, há que estabelecer prioridades, e essas aqui são claras:
profissionais em número suficiente e com capacidades reconhecidas,
equipamento de qualidade e funcional, instalações no mínimo decentes. Se
a saúde dos portugueses e a vontade indiscutível de que todos tenham
acesso a uma estrutura pública são preocupações assumidas, então os
meios para a sua concretização têm de ser assegurados. Não pode ser uma
coisa assim-assim. Sob pena de o próprio Serviço Nacional de Saúde ser
posto em causa.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
13/01/08
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