15/01/2018

JOANA PETIZ

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Arriscar a saúde

A discussão foi feita há uma década e a lei aprovada e Portugal juntou-se ao grupo de países que permitem às mulheres interromper voluntariamente a gravidez até às dez semanas de gestação em hospitais públicos. O processo é física e psicologicamente complexo e a última coisa de que quem recorre à IVG precisa é que tudo se torne ainda mais difícil. Agora, porém, uma mulher que se dirija a um dos maiores hospitais de Lisboa para uma consulta arrisca-se a sair de lá sem saber o que fazer. Da mesma forma como, em breve, aquelas que estão em vias de ser mães arriscam ter de enfrentar o absurdo de terem de escolher o dia em que visitam as urgências de Santa Maria, por exemplo.

A falta de enfermeiros nos hospitais atingiu este ponto de ridículo e a razão é simples de entender: sem nada que os incentive a ficar, optam por sair para unidades privadas ou mesmo para centros de saúde, onde as condições financeiras, de trabalho ou a qualidade de vida que adquirem compensam bem mais do que ficar. É um caso sério que alguns dos maiores hospitais do país já ponderem fechar serviços fundamentais, como a ginecologia e a obstetrícia, porque não têm profissionais suficientes para os garantir. E é um problema que tem de ser resolvido rapidamente e ao mais alto nível. Não criando barreiras à mobilidade e possibilidade de escolha destes profissionais, mas antes garantindo-lhes condições que assegurem que compensa ficar. O que inclui dar prioridade à contratação de meios suficientes para que todo o sistema não torne a colapsar daqui por um par de meses.

Se a despesa não pode crescer, há que estabelecer prioridades, e essas aqui são claras: profissionais em número suficiente e com capacidades reconhecidas, equipamento de qualidade e funcional, instalações no mínimo decentes. Se a saúde dos portugueses e a vontade indiscutível de que todos tenham acesso a uma estrutura pública são preocupações assumidas, então os meios para a sua concretização têm de ser assegurados. Não pode ser uma coisa assim-assim. Sob pena de o próprio Serviço Nacional de Saúde ser posto em causa.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
13/01/08

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