HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
Merkel pede resposta europeia
.ao corte de impostos de Trump
Em Davos, a chanceler alemã alertou que os países da União Europeia devem "responder com reformas" fiscais às mudanças americanas. E avisou o Reino Unido que o mercado único pressupõe a livre de circulação de pessoas.
Angela Merkel alertou esta quarta-feira, 24 de Janeiro, que os países
europeus vão ter de lidar com um ambiente fiscal mais competitivo, a
propósito da reforma fiscal recentemente aprovada nos Estados Unidos,
lembrando os esforços que estão a ser feitos pela Alemanha e pela França
para criar um regime comum em relação aos impostos que são pagos pelas empresas.
.
Durante uma intervenção no segundo dia do Fórum Económico Mundial, em que a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, destacou Portugal como "excelente exemplo",
a chanceler alemã sustentou, citada pela Reuters, que a Europa não deve
ficar a lamentar-se quando outros países mexem nos impostos que cobram,
devendo antes "responder com reformas" nos seus próprios regimes
fiscais.
Aquela que é considerada a maior reforma fiscal das últimas décadas nos Estados Unidos,
com um custo orçamental na ordem dos 1,2 biliões de euros, baixa de 35%
para 21% a taxa de imposto sobre os lucros (o equivalente ao nosso IRC)
e elimina a "alternative minimum tax", uma espécie de travão que
obrigava as empresas a terem uma tributação mínima de 20%. O sector
financeiro e o imobiliário são apontados como os maiores beneficiários
no curto prazo.
As alterações nas regras e nos estímulos
fiscais que Donald Trump conseguiu fazer passar no Senado terão efeitos
na maior economia do mundo, mas também nos seus parceiros comerciais, em
especial no Canadá e México, durante este período. Isso mesmo foi
estimado há dois dias pelo FMI, que no "World Economic Outlook Update"
escreveu que esta reforma fiscal contribui para cerca de metade da revisão em alta, para 3,9%, do crescimento global em 2018 e 2019.
Em
Davos, onde falou na véspera da chegada do líder norte-americano,
Angela Merkel assinalou que, em termos de política externa, a União
Europeia "deve tomar o destino nas suas próprias mãos". E ao mesmo tempo
que disse "lamentar muito" a saída do Reino Unido (Brexit), fez questão
de avisar que a pertença ao mercado único pressupõe as suas próprias
liberdades, incluindo de movimento dos cidadãos. Precisamente um dos
pontos-críticos para os britânicos nas negociações com Bruxelas.
Numa sessão plenária em que referiu que a decisão do Brexit deu à
União Europeia a "coragem para seguir em frente" com o projecto europeu e
que o mercado único digital deve ser uma prioridade, a líder germânica
assinalou ainda a importância do multilateralismo na cena internacional,
dramatizando que o mundo parece não ter aprendido as lições da
história, numa altura em que se assinala o centenário do fim da I Guerra
Mundial.
"Aprendemos as lições da história? Realmente
não", resumiu Merkel, sublinhando que o multiculturalismo que
reconstruiu a Europa e ergueu as instituições internacionais depois da
II Guerra Mundial está agora sob ameaça. E deixou um aviso sério sobre
as consequências das crescentes políticas isolacionistas. "Fecharmo-nos e
isolarmo-nos não conduzirá a um bom futuro. O proteccionismo não é a
resposta", concluiu Merkel, que está neste momento a negociar a formação de um governo de coligação com o SPD, liderado por Martin Schulz.
* Muito inteligente esta senhora, está a anos luz dos restantes dirigentes europeus.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário