11/05/2016

BENEDITA MENDONÇA

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Não é amor. 
Não é normal. 
É violência!

Amar é respeitar: não é magoar, insultar, bater, desconfiar, diminuir, agredir, manipular e violentar

 A pancada é bruta, uma mão larga a aproximar-se violentamente da minha cara. Seria essa a imagem a assombrar-me sempre que voltasse a pensar nele. A dor, apesar de forte e aguda, não deixa de ser momentânea, e o impacto em si revela-se ofuscado por tudo o resto. Sinto um ardor desconfortavel a queimar-me a face esquerda, que muito em breve se irá transformar numa escura combinação de cores. Em momentos destes, quando tudo parece ocorrer em lentos segundos, são estranhos os pensamentos que nos podem surgir. Pensei na maquilhagem que iria usar para o cobrir, na desculpa que iria inventar para o justificar e questionei qual seria a forma furiosa que o hematoma iria tomar desta vez.

“Sua puta!”. Um grito acompanhado por um olhar frio e agressivo. Este tipo de ferida é mais dificil de curar, atinge mais fundo. Lutei por segurar as lágrimas que me queriam escorrer pela pele agredida, a dor interior a tentar escapar, procurando unir-se com a expressão física do ataque a que ele me está a submeter. 

É a ultima vez, penso. Acabou. Não posso permitir mais isto. Mas...eu amo-o e ele ama-me. É só por isso que reage assim. São ciúmes, é amor. Nunca vou encontrar alguém que goste tanto de mim. E ele pede desculpa. É normal, cenas destas acontecem em relações. Certo?

A minha questão fica por responder, mais um golpe deixa-me estendida no chão. As minhas pernas imóveis e à mostra. Porque “usei uma saia demasiado curta”. E, no fim, isso facilitou-lhe o acesso que eu não permiti. Mais um abuso do meu corpo, mais um desrespeito...mais um ataque que eu não sei combater.

Esta cena representa o culminar de uma situação que é, infelizmente, mais comum do que muitos podem pensar. Mas não é assim que tudo começa. Primeiro, um predador tem que encurralar a sua vítima, usando um tipo de abuso mais subtil.

Existem diversas maneiras de se desrespeitar, de se violentar um parceiro. A violência psicológica é uma das mais perigosas. Enquanto que em muitos casos, como no anterior, este comportamento se pode inevitávelmente manifestar em agressão física, não é só este tipo de comportamento que caracteriza uma relação abusiva.

Durante a fase inicial é tudo bem diferente, és atingido com uma alta dose de amor, carinho e um exacerbado interesse na tua vida. Só algum tempo depois, começam as sugestões “inocentes”, que na realidade não são mais do que uma tentativa de controlo. Comentários desagradáveis sobre as tuas amizades, rotinas, hábitos e interesses, seguidos mais tarde de insultos e ciúmes absurdos. É importante salientar que reações irracionais seguidos de desculpas, pedidos de acesso à privacidade das tuas redes sociais e todo o tipo de conversas e interações que ocorrem no teu dia-a-dia com outras pessoas, não é amor, é falta de confiança e é mais uma maneira de tentar manter controlo sobre ti.

Sempre que o teu comportamento não corresponder ao que ele/a acha correto, vais sofrer de uma resposta abusiva por parte do teu agressor. Pode ser socialmente, emocionalmente ou sexualmente, até que por fim a violência física pode tornar-se uma ameaça bastante real.

Essa violência acontece, não é ficção, não se passa só nos filmes. É no entanto aqui que quem nunca passou por esta experiência, deixa de compreender o porquê de permanecer nessa relação. Porque não é só a famosa justificação do “Ele/a pediu desculpa, não vai voltar a acontecer”, até que se repete…e repete-se. O dilema é que já nos encontramos tão diminuidos sobre o controlo da outra pessoa, da sua ilusão de amor, mesmo que irracional, tão dependentes de relação, que pensamos não conseguir viver sem ela.

Mas é normal, certo? Ele ama-me, certo? É amor, certo?

NÃO! NÃO é amor. NÃO é normal. Ele NÃO te ama.
NÃO é NÃO. Se ele/a não respeita o teu não, não te respeita a ti. E amar é respeitar: não é magoar, insultar, bater, desconfiar, diminuir, agredir, manipular e violentar.

Não escondas mais a tua dor. Conta aos teus amigos, mesmo àqueles a quem renunciaste, conta aos teus pais, conta a todos. O caminho que te vai libertar deste labirinto, é um que não podes caminhar sozinho.

O silêncio é cúmplice da dor, por isso grita. Obriga-o a ouvir o teu NÃO, torna-o alto o suficiente para o mundo inteiro ouvir. Certifica-te que também tu o ouves, que o sentes e que o vives.

* O meu nome é Benedita Mendonça e tenho 17 anos. Frequento o 12º Ano no curso de Humanidades. Já fui jogadora de ténis...agora sou só preguiçosa. Sofro de um vício incurável por Coca-Cola, o que provavelmente me ajuda a perder horas de sono a ler ou a escrever. Dá-me jeito tornar essas horas em algo mais do que perdidas e é por isso que quero partilhar toda a vasta experiência que os meus 17 anos me ofereceram sobre a adolescência.

IN "VISÃO"
10/05/16

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