A SACROSSANTA
DOUTRINA DO MINETE
Os rapazes, assim que aprendem a habilidade de se sentar, conseguem olhar
para a sua pilinha, estando por isso, chegando à idade adulta,
absolutamente familiarizados com ela. É coisa que anda à vista, quase
como o nariz. Olham para ela porque vão fazer xixi, porque se querem
armar ao pingarelho, para ver se ela ainda lá está, enfim, uma vida inteira
de namoro. Nós não. Eu não sei se isto é culpa da natureza ou se de Deus-
nosso-Senhor que é homem, já se sabe, mas nós, até chegarmos à idade de
usar um espelho, nunca olhamos para a “abençoada” a não ser aquelas
moças que trabalham no circo e têm muita elasticidade desde pequeninas.
Nós não a vemos e não a mostramos. E não a mostramos porque, além de
não ser anatomicamente fácil andar com ela para a frente ou virada para
cima, não é simples mostrar aquilo de que não se conhece muito bem o
aspecto… Encerra alguma insegurança.
Assim, de segredo em segredo, de vergonha em vergonha, vai a mulher
fugindo ao dever que tem consigo mesma de escancarar as pernas e dar-se a
beijar, e vão os mancebos, tímidos e poltrões, alardeando por aí, que beijos
na “culpada” lhes fazem confusão.
Uns, bem-intencionados, tentam, vão lá, no escuro ou de olhos fechados, e
repenicam uns beijinhos ou com a ajuda didáctica dos filmes para adultos,
chegam a passar a língua ferozmente, como um corredor a pano, deixando
as suas mais que tudo um bocadinho desconsoladas, assim como quem diz:
mas é só isto?
São poucos os homens que sabem, na verdade, fazer um minete. Até
porque não existe realmente uma técnica infalível ou matemática para a
execução de uma coisa tão íntima, quanto pessoal.
São poucas as mulheres que se entregam ao supremo gozo de serem
beijadas, adoradas, sorvidas, numa rendição despudorada e orgulhosa da
sua feminilidade.
Primeiro, era bom que as mulheres, que agora até se depilam, enfeitam,
tatuam e inclusive põem cristais, olhassem muitas vezes para si. Não é para
“ela”, é para nós! Porque ali, no meio das pernas, está uma parte tão
importante do Ser, que é bem capaz de ser por isso que as antigas lhe
chamavam “boca do corpo”. Que percebêssemos que a vulva excitada e
húmida é absolutamente apetecível e bonita, uma flor carnuda a pedir para
ser mostrada e devidamente enaltecida.
Depois, os homens, eleitos por nós, para a nossa cama, para entrar no nosso
corpo, para receber e dar prazer, realizassem que não há melhor maneira de
fazer uma mulher sentir-se amada, ali entre quatro paredes, do que querer
olhá-la toda, conhecê-la, dedilhá-la e saboreá-la. Que não há técnica
perfeita, da mesma maneira que também não o há para degustar uma fruta a
não ser a polposidade da própria e a fome de quem come. Que não há
glória maior do que levar a sua mulher ao céu, ao infinito e fazê-la derreter-
se em si.
Talvez seja por isso que o sexo entre mulheres é tão diferente e diz, quem
sabe, por vezes, mais compensador. As mulheres são, na generalidade, mais
atentas aos detalhes e menos centradas no orgasmo próprio. A minha
querida Almerinda, mulher versada nas artes do amor, refere muitas vezes a
amiga francesa, que rapidamente passou a amante depois de lhe
experimentar as artes da boca… Que nenhum homem lhe tinha oferecido
tanto prazer ou ensinado tanto sobre o seu próprio corpo, que a alternância
com que a lambia com a ponta da língua para depois a abocanhar como se
fosse cair. Tinha sido o momento mais surpreendente de uma vida cheia de
afectos.
Não conheço a amiga francesa da Almerinda, confesso com alguma
amargura. Mas já tenho tido momentos felizes nesta coisa da felação. E vos
garanto, quando lhe chamam trombada, nada fazem pela aclaração do
procedimento, porque remetem muito mais para uma colisão e o que se
quer é encostar devagarinho. Um arrulho, como os pombos.
A coisa não é complicada, pelo menos daquilo que sei. E tenho para mim,
que o que eu gosto não há-de ser muito diferente do que faz as minhas
amigas felizes, lá está, com as pequenas e particulares variações.
Nós gostamos que nos olhem para a “abençoada”, é meio caminho andado
para que a mostremos bem. Gostamos que a explorem. Sentir a língua a
passear corpo a baixo, ou a cima, parando onde sente a pele eriçar-se,
recolhendo-se, para deixar que a boca chupe e sorva até aos centímetros
seguintes. Gostamos de a sentir afastar os lábios. Primeiro os grandes,
depois os pequenos, tal como nos cá de cima, e que curiosa e frenética lhes
faça pequenas cócegas que nos preparam, que nos entesam para lá do que a
bíblia aceitaria. Gostamos que ela nos açoitem o clitóris até que ele cresça
o suficiente para ser sugado, mordido, tragado e mesmo ali, antes do
orgasmo, abandonado para que a pequena vilã nos penetre hirta a preparar
caminho. Nos adentre onde bem lhe e nos apetecer, reconhecendo todos os
nossos buracos e deixando os anfitriões felizes. Isto feito, nós não nos
vimos… Vamo-nos! Para o paraíso e acompanhadas por quem para lá nos
enviou.
É claro que isto não é para meninos. É coisa de homem! Ou de mulher!
Dos crescidos. Com tesão e apaixonados. De um adulto que goste
realmente de uma mulher. Do cheiro da mulher, do sabor da mulher.
Quem quer uma coisa inodora e insípida pode sempre treinar naquelas de borracha
que até podem ser desinfectadas com lixivia.
E convém não ir lá directo, como quem arranca a fruta da árvore sem
querer trepar, lá porque a vulva é importante o resto da pele não deixa de o
ser e já diziam as nossas mães que não se entra em lado nenhum sem pedir
licença. Passeiem por nós, abram caminhos… E percebam que cada mulher
é única, que o que funcionou com a ex, não tem que necessariamente correr
bem aqui. Olhem para a nossa cara, para os nossos mamilos, para a barriga
que se contrai e apreciem, não fiquem lá enfiados como um cão com sede,
a ignorar o resto do mundo… Já que por acaso, nós também estamos ali.
E gostamos de vocês ou não vos daríamos o privilégio de olhar e tocar tão
profundamente em nós!
IN "CAPAZES.PT"
Sem comentários:
Enviar um comentário