21/05/2015

LUCY P. MARCUS

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A primavera 
dos accionistas continua

Estamos na época das assembleias-gerais – a altura do ano em que algumas das maiores empresas do mundo se reúnem para prestar contas aos accionistas e ter uma espécie de conversa com eles. Nos próximos meses, uma série de empresas vai falar sobre o que influenciou o seu desempenho no ano anterior, o que planeiam para o futuro e as decisões que os seus conselhos de administração têm tomado.
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Houve um tempo em que estas reuniões aconteciam sem muito alarido, a maior parte delas passavam despercebidas. Isso não é verdade desde há alguns anos. O enfraquecimento das condições da economia e o aumento da desigualdade têm levado mais pessoas a tornarem-se mais comprometidas e a ter interesse nas actividades das empresas e em quem as conduz. E, com esta mudança, a atenção tem passado dos presidentes e das equipas executivas para aqueles que antes estavam numa caixa negra: os membros dos conselhos de administração das empresas.

Em 2012, os accionistas e outros começaram a brilhar nos conselhos de administração, questionando as suas decisões e actividades e as dos seus membros individualmente e, assim, nasceu a Primavera dos Accionistas. As pessoas ficaram cansadas da surdez dos membros do conselho de administração que trabalhavam em quartos insonorizados, parecendo ignorar as realidades económicas e o estado de espírito do público. Queriam confrontar aqueles que decidem sobre as compensações frequentemente de arregalar os olhos dos executivos ou aprovam as decisões das empresas para empreender engenharias fiscais sofisticadas. As pessoas queriam saber se os membros do conselho de administração estavam, na realidade, a fazer o seu trabalho ou apenas a ocupar os seus lugares e a receber uma comissão simpática.

Muitas empresas e conselhos de administração esperavam que este aumento de interesse passaria rapidamente; em vez disso, amadureceu. O descontentamento continuou a aumentar e os investidores, colaboradores, políticos e público em geral agora querem conhecer não apenas as remunerações dos executivos, mas também a acentuada discrepância entre o que ganham os colaboradores melhor e pior pagos. Querem saber sobre os salários e sobre os contratos. Querem saber o que as empresas estão a fazer para lidar com as alterações climáticas, se são membros responsáveis da comunidade, como se comportam em zonas de conflito e muito mais.

Aqueles que fazem as perguntas já não se satisfazem em contestar de fora. Estão a tornar-se cada vez mais sofisticados sobre a forma de serem ouvidos, compram acções, seguram o microfone e olham os membros do conselho de administração nos olhos para que as suas questões façam parte das actas oficiais. E estão a colocar pressão sobre os principais investidores das empresas para que façam os membros dos conselhos de administração se explicar bem.

As questões colocadas e as declarações feitas podem ser, por vezes, cansativas. Mas muitas delas são legítimas e são uma lembrança importante para os conselhos de administração de que devem servir todo o ecossistema da empresa – colaboradores, clientes e também a comunidade. De facto, estas reuniões abertas são uma lembrança de que os membros do conselho de administração devem colocar as questões difíceis durante todo o ano, em vez de simplesmente carimbar as propostas da gestão ou seguir em frente.

Curiosamente, assim como o movimento para manter os conselhos de administração tem ganho maior tracção, algumas empresas adoptaram novas formas de convocar reuniões anuais de accionistas. Estas eram encontros bastante sóbrios. A gestão sénior das empresas ocupava os investidores e os membros do conselho de administração com o reporte de formalidades passo a passo, apresentavam resultados, faziam perguntas, votavam e seguiam em frente. Havia chá, café e biscoitos mas nada extravagante.

Nos últimos anos, contudo, houve uma tendência para uma atmosfera mais parecida com o Carnaval, com as empresas a trazer grandes nomes do entretenimento e a tornar o evento num acontecimento cheio de vitalidade. No ano passado, a reunião anual da Wal-Mart contou com a presença de Harry Connick Jr., Robin Thicke e Pharrell Williams. Em 2013, actuou Elton John.

Pelo contrário, outras empresas têm optado pelo extremo oposto e optado por reuniões totalmente virtuais. O conselho de administração reúne-se em frente a uma câmara para uma reunião com os accionistas em directo, recebem as perguntas antecipadamente e evitam os protestos completamente. Este ano, a HP juntou-se à Sprint e Martha Stewart Living Omnimedia neste caminho.

Há um mérito em ter uma reunião com uma componente virtual: as empresas são globais e, por isso, também o são os seus investidores, que podem participar sem ter de apanhar um avião. Mas uma reunião via "web" com uma plateia ao vivo seria a combinação ideal. E ainda que as empresas possam argumentar que as reuniões completamente virtuais poupam dinheiro – o que, claro, é verdade – os investidores não precisam de Robin Thicke. Vão contentar-se com bons números, uma discussão séria e um biscoito.

Os conselhos de administração e os gestores devem levar estas reuniões de forma séria. Parte do trabalho é enfrentar aqueles com alguma coisa em jogo. Preparar um circo ou esconder-se por trás das câmaras não vai evitar as perguntas difíceis. Um lugar à mesa da sala de reuniões vem com a responsabilidade de se levantar e fazer esta parte importante do trabalho – pessoalmente e sem acompanhamento musical.

Presidente-executiva da Marcus Venture Consulting

Project Syndicate, 2015

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
20/05/15

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