ESTA SEMANA NO
"DINHEIRO VIVO"
"DINHEIRO VIVO"
Farfetch.
It's a billion dollar portuguese company, baby!
É a mais recente empresa no ranking do The Wall Street Journal e é portuguesa: faz crescer Saint Laurent e Valentino a partir de Leça do Balio.
Os
ecrãs não param. Números e mais números a aumentar durante todo o dia,
em vários plasmas espalhados pela enorme sala de trabalho da Farfetch, em Leça do Balio.
Os números não refletem mais do que vendas: milhares de euros, libras e
dólares, em vestidos, sapatos, carteiras, saias e blusas de marcas como
Saint Laurent, Valentino, Dolce & Gabbana ou Givenchy, as mais vendidas pela empresa em mercados como os Estados Unidos, Reino Unido, Brasil e Austrália, China, Japão, Coreia e Alemanha.
A ideia do negócio veio da experiência: aos 8 anos, José começou a programar, aos 19, criou a primeira empresa e,em 2001, fundou a marca de roupa Swear, com sede e loja em Londres
[a loja entretanto fechou e a marca é vendida atualmente apenas
online]. Em 2007, chegou a um modelo de negócio que pretendia responder a
uma das maiores tendências mundiais. "Era bem claro que a internet ia
ser uma oportunidade, the next big thing [a próxima grande coisa]. E era óbvio que as boutiques e as marcas de pequena e média dimensão iam ter muitas dificuldades em construir essas plataformas individualmente. [A Farfetch]
é uma cooperativa digital. Juntámos os melhores criadores de moda, as
melhores boutiques, e criámos um conjunto de serviços que seria muito
difícil eles terem individualmente com qualidade e alcance mundial",
explica. Do ponto de vista do consumidor, o negócio também traz vantagens,
garante. "Permite comprar nas ruas de Paris, Londres ou Milão num só
site, de forma conveniente e segura. É um modelo não só vocacionado para
as pequenas empresas como também virado diretamente ao consumidor",
diz.
Em cada três peças vendidas na Farfetch, uma segue para os Estados Unidos. A empresa faz chegar mais de 1500 marcas de 300 lojas diferentes a cerca de 450 mil clientes espalhados por 180 países. O trabalho da Farfetch consiste em criar materiais de promoção - produções fotográficas, fotografia - e garantir a ponte entre clientes e fornecedores. É dessa relação que a empresa retira a margem. É aí que ganha dinheiro.
"Para as marcas o negócio é completamente incremental,
porque é uma venda que eles nunca teriam: não têm de pagar aluguer nem
todas as despesas associadas a uma loja física e é uma partilha de
margem entre nós e as lojas multimarca. Digamos que é interessante para
ambas as partes."
José Neves vive em Londres mas viaja a cada duas
semanas para Portugal. Aproveita para visitar a família, mas passa
grande parte do tempo a acompanhar de perto o trabalho dos escritórios
de Leça do Balio e de Guimarães, os dois que a Farfetch tem em Portugal e onde trabalham cerca de 275 dos mais de 700 colaboradores da empresa. Em Portugal, a equipa assegura toda a tecnologia, serviço ao cliente, partes financeira e administrativa.
Em Londres, 150 pessoas garantem o acompanhamento do marketing online e
offline, relações públicas e comunicação. O escritório britânico
alberga a equipa sénior de gestão. A equipa desdobra-se depois no Brasil
(75), Estados Unidos (80), Tóquio e Xangai, replicando as funções
asseguradas entre Portugal e Londres nos respetivos mercados. A equipa
de mais de 700 pessoas assegura a gestão de uma loja virtual que, se
existisse fisicamente, corresponderia a um mega espaço com cerca de um
milhão de metros quadrados luso-britânicos.
"A tecnologia Farfetch é 100% portuguesa.
Faz sentido centralizar. Portugal tem engenheiros e programadores a
trabalhar ao melhor nível e, sobretudo, com mais estabilidade: tanto em
Londres como em Silicon Valley é muito difícil e caro construir uma
equipa. Há sempre um unicórnio atrás da esquina. Em Portugal conseguimos
criar uma cultura e um valor muito fortes", explica José Neves ao
Dinheiro Vivo.
No início deste mês, a empresa anunciou o levantamento de uma nova ronda de financiamento de 86 milhões de dólares [cerca de 81,2 milhões de euros], o que faz da Farfetch uma das sete empresas da Europa avaliadas como milion dollar company, segundo o ranking do The Wall Street Journal,
que integra 78 empresas em todo o mundo. "Marca uma fase nova na
perceção da empresa a nível externo (...) mas não no que fazemos todos
os dias nem nos nossos valores. Continuamos a ter a mesma paixão pela
nossa missão. (...) Possivelmente, a mudança dessa perceção facilitará
contratações e parcerias mas continuamos com a mesma estratégia", diz
José, que já nem se lembra ao certo de um dos dias mais marcantes - em
números, é certo - da história da Farfetch.
A 21 de novembro do ano passado, a empresa faturou 8 milhões de dólares em apenas um dia
(Black Friday), um número redondo a que José não dá muita importância.
"Sou muito distraído nessas coisas", confidencia. "O mais difícil é
construir o negócio em si. Os números toda a gente sabe olhar para eles.
(...) Podemos chamar-lhe sorte mas, se não comprarmos o bilhete da
lotaria, ela não sai. Mas se trabalharmos em algo que realmente é a
nossa paixão, o nosso sonho, mais tarde ou mais cedo conseguimos lá
chegar."
* Um excepcional exemplo de inteligência empreendedora lusitana.
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