.
A ameaça
IN "CORREIO DA MANHÃ"
12/01/14
.
A ameaça
Já nos foi roubada tanta liberdade que é preciso reagir com firmeza para que não nos roubem mais um pedaço.
As sucessivas vergonhosas violações do segredo de
justiça, levaram a PGR a procurar perceber quais as razões para este
estado de coisas que confere à dignidade judicial estatuto de casa de
pasto. O relatório terá procurado razões e, no final, faz um conjunto de
propostas em que uma delas admite a possibilidade de escutas e buscas a
jornalistas para descobrir quem profanou um dever fundamental do
processo penal. Não passa de um primeiro passo para o regresso da
Censura. Do saber e não denunciar injustiças que danificam a finalidade
última do Estado de Direito: sermos um País com um mínimo de asseio.
.
.
O
dever de guardar segredo de justiça é obrigação dos funcionários do
Estado. Dever de juízes, de procuradores, de funcionários judiciais, de
polícias. O dever dos jornalistas é informar com retidão, dar-nos conta
do país e do mundo sem preconceito ideológico e político. São deveres
distintos e, muitas vezes, antagónicos. Porém, revela a história
recente, desde a célebre lei da rolha de Costa Cabral, passando pelas
diferentes formas de censura que temos vivido, que a restrição do
direito à liberdade de informar resultou sempre na diminuição de valores
essenciais da vida da comunidade e protegeu sempre os mais poderosos,
os negociadores dos mais escabrosos tráficos.
.
.
Uma
sociedade com direitos à informação cortados, sejam quais forem as
excepções constitucionais, não tem condições para ser digna. Violar o
segredo de justiça é uma dessas indignidades. Porém, quem o viola não é
quem o divulga mas quem tem de zelar por ele. E o estado miserável a que
chegámos é tal, que não escandaliza a imposição de critérios que
permitam escutar e buscar os profissionais, todos eles funcionários
públicos, que cometem este crime. Porque são os suspeitos do costume.
.
.
A
ser levada por diante a proposta que mete neste saco jornalistas e
meios de comunicação social, o problema ganha uma dimensão dramática.
Deixa de ser a violação do segredo de justiça que está em causa mas a
nossa própria liberdade. Já nos foi roubada tanta liberdade que é
preciso reagir com firmeza para que não nos roubem mais um pedaço que só
funcionará a favor dos criminosos que transformam o segredo de justiça
numa velha prostituta sifilítica. Pois que de criminosos se tratam. E
dentro do sistema judiciário. Basta!
Professor universitário
Professor universitário
IN "CORREIO DA MANHÃ"
12/01/14
.
Sem comentários:
Enviar um comentário