O medo às avaliações
É costume nesta época a imprensa dedicar-se, com afinco, aos balanços do
ano - na politica, na cultura, no desporto, no lazer -, embora raramente
em relação a si própria…
E, no entanto… Alastram as movimentações, os
rumores, e já ninguém duvida de que em 2014 haverá empresas de
comunicação social a mudarem de mãos, ou, mesmo, de perfil.
Na
imprensa, há títulos que envelheceram, sem terem a coragem de se olharem
ao espelho, embevecidos com as suas opções editoriais - híbridas ou
redutoras -, ligados, por vezes, a minorias influentes, e a projectos
que arriscam o futuro por falta de sustentabilidade, na dependência de
mecenatos que não duram sempre.
Um dos exercícios mais
elucidativos do autismo de várias publicações é observar a forma como
iludem as suas fraquezas - procurando escamotear a penosa realidade que é
a fuga de leitores e a consequente quebra de vendas -, quando são
divulgados os resultados do controlo de tiragens, efectuado pela APCT (a
associação responsável pela recolha e tratamento desses dados).
Os
jornais e revistas, em declínio de circulação e de vendas, ao
desvalorizarem o seu insucesso, lembram os partidos políticos nas noites
eleitorais, quando nenhum quer admitir que perdeu…
Não é sério. Mas é assim.
Vivemos
uma época de transformações estruturais profundas, com as redes sociais
a 'competirem' com os media tradicionais e a contaminarem-nos, a
televisão a invadir a net, e as rádios a fazerem pela vida,
desdobrando-se em canais temáticos online, privilegiando a música e a
informação.
À medida que os equipamentos digitais embaratecem e
alcançam uma difusão mais maciça - sejam tablets, smartphones ou
ultrabooks -, a imprensa fica mais ameaçada, se não se reconverter.
O
papel será substituído, definitivamente, a prazo, pelas versões
digitais de jornais e pelos e-books? Em consciência, ninguém saberá
prevê-lo.
Nos Estados Unidos, esse enorme laboratório onde se
desenham as principais tendências globais, publicações tão respeitáveis
como a Newsweek ou The Christian Science Monitor abandonaram
praticamente as edições em papel e refugiaram-se online.
E a
recente aquisição do The Washington Post por Jeff Bezos, o génio que fez
da Amazon um gigante, apaixonado pela economia digital, não deixará,
decerto, sossegados, os jornalistas que há muito se habituaram a
conviver com os princípios e os valores defendidos pela família Grahm,
que encarava o jornalismo com um espírito quase missionário. O Post vai
mudar. E não será uma simples operação de cosmética.
Por cá, com
um mercado de leitores escasso e em debandada para outras paragens -
também por culpa de redacções que teimam em produzir jornais sem
cuidarem de averiguar o que pensam os seus destinatários -, as
perspectivas não são animadoras.
Afinal, para além dos professores, também há jornalistas e gestores de empresas de media que fogem aos testes de avaliação.
Têm
medo de descobrir que imprimem jornais para públicos que já não
existem, um erro clássico do umbiguismo ideológico e conceptual que já
ditou a morte de vários títulos.
Houve professores que,
pateticamente, rasgaram o papel dos testes de avaliação. Oxalá os
jornalistas não queiram rasgar o seu… São os meus votos para 2014!
IN "SOL"
07/01/14
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