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HOJE NO
"CORREIO DA MANHÃ"
Padres isentos de revelar abusos
A Igreja aprovou um código de conduta para casos de pedofilia que dispensa os padres de denunciarem abusos sexuais de menores de que tenham conhecimento.
Na sequência de uma determinação do Vaticano, agora adoptada pelos bispos portugueses, os sacerdotes apenas ficam obrigados à instauração imediata de procedimento canónico, estando dispensados de comunicar os crimes à polícia. Devem, sim, aconselhar as vítimas ou as suas famílias a participarem o caso às autoridades.
"Esta norma decorre da ordem jurídica portuguesa, em que não há obrigação de denúncia, excepto para os funcionários públicos", disse o Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, sublinhando a "excepção" para os padres que dirigem instituições de solidariedade, pois "os funcionários das IPSS são equiparados a funcionários públicos".
A Igreja compromete-se a prestar "todo o apoio e ajuda terapêutica" às vítimas, mas exclui eventuais indemnizações porque "o delito de um padre não é um delito da Igreja".
* Às vezes vale a pena invocar a jurisdição se isso significar a omissão de "paneleirices" praticadas por indíviduos que representam a igreja,cometem actos em nome da igreja, dizem que são a igreja viva mas no fim de contas não são a igreja.
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2 comentários:
Afirma o Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa que "o delito de um padre não é um delito da Igreja" como querendo lavar as mãos de um delito profundamente enraizado na cultura da igreja romana. Não fuja com o rabo da seringa, sr.cardeal-patriarca!
Os episódios de pedofilia que, pouco a pouco, vão-se manifestando por todo o mundo, evidenciam contradições estruturais da instituição Igreja. É claro que cada pedófilo deve responder individualmente perante as vítimas e perante a justiça, mas a responsabilidade individual não absolve a responsabilidade da instituição.
Bento XVI e grande parte dos bispos falam de tolerância zero para com os padres pedófilos, curiosamente utilizando uma linguagem de extrema direita, mas ignoram a procura das raízes do fenômeno na estrutura da própria instituição eclesial. Tinha que ser aí mesmo, na estrutura do sagrado, que se deveria aplicar a tolerância zero. É por demais conhecida a relação estreita entre sexo e poder. Já para os gregos e romanos o falo era símbolo do poder. Na Roma antiga, as dimensões e a forma do pénis não raramente favoreciam a carreira militar e política. Tudo o que se ergue aprece ter uma referência fálica. Obeliscos, campanários, torres, o báculo, a pastoral, a mitra episcopal, que coisa são se não símbolos fálicos?! Não é por acaso que na igreja romana o poder é reservado ao sexo masculino e negado em absoluto às mulheres.
A pedofilia é interna a esta relação entre sexo e poder. Quem procura crianças para satisfazer o seu apetite sexual, fá-lo para exprimir a própria sede de domínio para com uma criatura mais frágil. É esta sede de domínio a raiz mais profunda da pedofilia. É esta sede de domínio que deveria ser extirpada da estrutura do sagrado.
E que dizer das lavagens cerebrais feitas nas homilías e nas catequeses ou nas aulas de moral onde se procura incutir nos fiéis o sentimento de culpa e de pecado. Como uma mãe possessiva a Igreja parece querer manter os seus fiéis numa perene condição infantil. Não querendo ser mal interpretado, vem a vontade de chamar a tudo isso “pedofilia estrutural” da Igreja que endoutrina homens e mulheres de forma acrítica de modo a permanecerem perenemente crianças. E a sacralização do poder eclesiástico, a teologia e a pastoral do desprezo do corpo, do sexo e do prazer, a condenação das relações entre sexos que não seja consagrada pelo sacramento do matrimónio, não pertence tudo isso ao domínio da violência?
É hora de criar-se um movimento em grande escala para restituir ao cristianismo o sentido da libertação do sagrado, enquanto realidade separada, libertação não apenas de opressões econômicas e políticas, mas também psicológicas, ético-morais, simbólicas. Talvez a pedofilia não desapareça de vez, mas sem dúvida sofrerá um golpe profundo e não apenas os padres pedófilos.
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