10/02/2025

LUÍS TAVARES BRAVO

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Quem mais pode ser
a fábrica do mundo?

A China é, desde há várias décadas, a chamada fábrica do mundo. E este é um fator geopolítico preponderante que tem levantado inclusivamente alertas sobre a excessiva dependência do ocidente do gigante asiático, e sobre o que poderia acontecer se esta cadeia sucumbisse por alguma razão, e qual o impacto sistémico que poderia ter sobre a economia mundial. Hoje, muita da narrativa política norte americana passa por trazer a produção para casa. Diversificar da dependência chinesa, e em certa medida evitar que esta se transforme de forma efetiva em mais do que a maior fábrica do mundo, mas também na maior potência tecnológica e industrial, superando os Estados Unidos. E, numa primeira frente, procuram-se alternativas, para evitar a excessiva dependência. Mas estas são poucas e limitadas para os novos desafios industriais.

Numa primeira reflexão, é preciso dizer que o caminho do sucesso não foi trilhado de forma rápida, nem fácil. Levou várias gerações até que a China se transformasse no que é hoje. E investimento sério e coordenado – onde também a mão de ferro de um regime, que nunca transitou para uma democracia, ajudou a criar. Durante anos, o país criou desta forma o ecossistema de produção ideal próspero que incluía infraestruturas fiáveis, fornecimento eficiente e acesso a financiamento.

Em segundo lugar, para além do tempo que investiu a construir este ecossistema, o gigante asiático é também um dos poucos países que também é rico em recursos naturais essenciais. A conjugação destes fatores ajudou as empresas a subir na cadeia de valor, desde a produção de roupas e brinquedos até telemóveis e veículos elétricos. A China concebeu as suas redes de produção para aproveitar ao máximo a sua força de trabalho. Ou seja, o que inicialmente começou por ser visto como um país de grande e mão-de-obra acessível, transformou-se num mercado apetecível, e capaz de produzir com qualidade também para fora de portas. Afinal, a mão-de-obra de baixo custo é abundante em muitas partes do mundo, desde África até à América do Sul – mas estas têm falhado em tornarem-se centros de produção, e dificilmente serão capazes de o fazer no curto prazo.

Por fim, e em face da polarização comercial, dos receios causados durante a pandemia, e aumento significativo das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos – as quais a Europa provavelmente acabará por acompanhar – os países e as grandes economias estão cada vez mais a adotar uma estratégia de diversificação. A chamada estratégia de “China mais um” está a conquistar adeptos, mas é muito complexa de materializar no curto prazo. No entanto, países como Índia ou México estão na primeira linha para o papel de diversificação das principais economias ocidentais, mas mais por questões de proximidade geopolítica, do que de economia e infraestrutura, onde claramente estão ainda a uma larga distância de poder substituir a China no papel de fábrica do mundo. No entanto, e como os desenvolvimentos dos anos recentes demonstram relativamente à Rússia, ficar em situação de elevada dependência de uma só nação constitui uma fragilidade. É preciso começar. Afinal, seja no mundo dos ativos financeiros ou na geopolítica, a diversificação é a chave principal de uma gestão equilibrada.

* Economista, e Presidente do Internacional Affairs Network

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