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A biotecnologia
A maioria do solo de Portugal é ocupado por área florestal e agrícola, bem como uma área marítima de relevância mundial, pelo que há um grande potencial do setor da bioeconomia no nosso país. Mas como é que isso pode ser aproveitado para contribuir para uma economia mais forte?
Segundo o relatório publicado pelo Bio-based Industries Consortium (BIC), Portugal é referenciado como estando numa posição privilegiada para liderar a transição para a bioeconomia na Europa. No entanto, para que tal aconteça, é fundamental investir em biotecnologia, isto é, na aplicação da ciência e tecnologia aos organismos vivos para a produção de conhecimento, bens e serviços que possam contribuir para esta mudança de paradigma.
Nos últimos anos, a ciência tem vindo a evoluir e a desenvolver soluções que poderão vir a gerar novas oportunidades na área do melhoramento vegetal, como é o caso das Novas Técnicas Genómicas (NGTs). As NGTs são ferramentas inovadoras que permitem desenvolver, de forma precisa, rápida e eficiente, novas variedades de plantas melhoradas, capazes de responder de forma mais eficaz aos stresses bióticos e abióticos provocados pelas alterações climáticas, exigir um menor uso de fatores de produção e/ou garantir maiores produtividades ou melhores composições nutricionais das culturas. Em suma, têm potencial para contribuir para uma agricultura mais sustentável e capaz de produzir alimentos suficientes para uma população mundial em crescimento.
Após mais de uma década de hesitações, a Comissão Europeia publicou, no passado dia 5 de julho, um pacote de medidas que visa reforçar a resiliência dos sistemas alimentares e da agricultura da Europa, e que contempla, pela primeira vez, a possibilidade de utilização de NGTs para melhoramento vegetal a nível Europeu. Caso este pacote de medidas venha a ser aprovado, será possível acelerar a colocação no mercado de variedades mais sustentáveis e possibilitar aos produtores agrícolas e florestais o acesso a uma maior disponibilidade de plantas resistentes à seca e mais resilientes aos efeitos das alterações climáticas, ao mesmo tempo que permitirá reduzir a necessidade de utilização de produtos fitofarmacêuticos e tornar a prática agrícola mais sustentável.
De uma forma geral, esta nova abordagem permitirá contribuir para a redução da dependência externa da União Europeia ao nível da produção agroalimentar e florestal e contribuir para a resiliência e sustentabilidade dos sistemas agroalimentares e florestais a nível Europeu. É, assim, fundamental iniciar a discussão sobre o impacto e as oportunidades que este novo pacote de medidas pode trazer a nível nacional, de forma a preparar todos os atores para as implicações que esta nova abordagem pode trazer à produção nacional.
Outra das áreas onde a biotecnologia pode servir de catalisador da bioeconomia prende-se com a valorização de recursos biológicos. São cada vez mais as soluções biotecnológicas que permitem valorizar resíduos agrícolas, agroindustriais ou da indústria florestal para gerar produtos de elevado valor acrescentado ou substitutos de produtos de origem petroquímica, contribuindo para a economia circular e a sustentabilidade dos sistemas agroambientais. Também a valorização de recursos endógenos tem vindo a ser potenciada.
São ainda muitos os desafios a ultrapassar, sendo importante discutir um enquadramento regulamentar e institucional favorável à mudança de paradigma tecnológico que está já em curso, mudança que deve ser prevista e preparada, mas que não pode ser parada. Estes serão alguns dos tópicos que irão ser discutidos no próximo BIOMEET, encontro anual do setor da biotecnologia, que vai decorrer nos dias 25 e 26 de setembro, organizado pela P-BIO, Associação Portuguesa de Bioindústria, e que tem o tema da biotecnologia como catalisador da bioeconomia como uma das suas prioridades.
É certo que os avanços resultantes da aplicação da biotecnologia na bioeconomia irão permitir, no futuro, criar riqueza através de aumentos substanciais de valor usando menos recursos e de forma mais eficiente, garantindo a sustentabilidade económica, ambiental e social do mundo rural. Por isso, é essencial debater este tema com profundidade, já que poderá ser um motor particularmente relevante para a nossa economia
* Secretária-Geral da P-BIO
IN "O NOVO" - 28/09/23..
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