.
Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
30/09/2022
MÁRIO JOÃO FERNANDES
.
IN "iN" - 30/09/22 .
126-CINEMA
29/09/2022
ISABEL CAPELOA GIL
.
A Ponte
O tempo é de incerteza, mas a falta de aspiração endémica do país, também não ajuda. Uma inflação galopante, a ameaça de um conflito à escala global, a que se somam as alterações climáticas, e as micro-desgraças do dia a dia, parecem apenas demonstrar que, quando a alma é pequena, nada vale a pena. Compensamos o desânimo com o refúgio à sombra do manto acolhedor do Estado, que transforma magros apoios em alavancas perenes de um sistema social, político e económico reconciliado com a mediocridade. E que torna esses apoios justamente estruturantes da atividade económica num país onde, há décadas, nada se passa sem o beneplácito do poder político. A maior conquista deste sistema endémico é, podemos dizê-lo, uma colonização do ânimo e da subsequente capacidade de aspirar.
Porque a literatura sempre esteve um passo à frente, permitam-me recordar um pequeno conto de Franz Kafka, escrito em 1916/17, chamado justamente A Ponte. Ora esta ponte, construída sobre um abismo, é uma edificação esquecida, por onde ninguém passa. E se ninguém por lá passa, então está em causa a sua própria natureza de ponte. Apesar de tudo, ainda que seja irrelevante e ninguém a atravesse, uma ponte só deixa de ser ponte quando cai. Um dia, um homem de bengala, aproxima-se da edificação, bate no solo com a bengala e salta sobre o empedrado. A ponte adormecida, que toda a vida se havia mantido imóvel a olhar fixamente para o riacho que passava por baixo de si, sentiu uma enorme curiosidade de ver quem assim perturbava o seu descanso. Afinal, quem é que assim ousava reclamar a sua natureza de ponte. Movida pela curiosidade, vira-se para olhar para cima. Ora, onde já se viu uma ponte virar-se? Mal se virou, inevitavelmente caiu. E foi justamente ao cair que realizou a missão para que fora edificada.
As estruturas arquitetónicas - completas e robustas ou frágeis e em ruínas - são uma presença recorrente na escrita kafkiana e servem como estratégias simbólicas da decifração do mundo. A ponte, descrita com traços humanos - tem mãos e pés -, representa na verdade o indivíduo como ponte, que possibilita o encontro e estabelece relações. Mas uma ponte por onde ninguém passa não cumpre a sua função de ordenação da geografia, tal como o ser humano que não ousa empenhar-se no diálogo com os outros, que ousa criar e transformar, não assume em pleno a sua humanidade, e, em contexto político, a sua cidadania. Tal como a ponte que encontrou o desígnio, no momento mesmo do seu colapso, também é com uma humanidade falível, mas que não deixa de arriscar e que se assume eloquentemente humana a cada ato falhado, que as histórias de Franz Kafka nos confronta.
O maior risco que os indivíduos correm neste tempo quase irreal e de testemunho do impossível é sair de si e encontrarem a diferença que nos ameaça, venha ela sob a forma de um Coronavírus, do migrante, do antagonista político, do concorrente de negócios, daquele que ameaça a nossa segurança. Vivemos em sociedades obcecadas com a contenção do risco, que existe fora de nós. Essa é aliás a história da modernidade e da sua narrativa ambivalente. Por um lado, acreditamos que somos pequenos deuses, iluminados pela ciência e capazes de dominar as ameaças naturais. Por outro, temos consciência da nossa enorme fragilidade que torna a nossa existência insuportável.
É tempo de ousarmos sair do nosso confortável adormecimento e de nos virarmos, como a ponte de Kafka, ainda que isso possa significar um risco de destruição do tempo antigo. Porque é arriscando que nos reconciliamos com a grandeza aspiracional da nossa humanidade comum.
* Reitora da Universidade Católica Portuguesa
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" - 29/09/22.
.
tєςภ๏l๏ɠเคร ๔є ς๏ภรtгยς̧ค̃๏
เภςгเ́vєเร ợยє vคlє๓ ค թєภค vєг
.
DITADƲRA ROSA (ɑ sɑɠɑ cσɳtiɳʋɑɾɑ́)
Título original: INACEITÁVEL EM DEMOCRACIA
* A deputada do PS Isabel Guerreiro pediu hoje que uma intervenção do deputado da Iniciativa Liberal Carlos Guimarães Pinto fosse apagada das gravações do Parlamento e excluída da acta da reunião da Comissão de Administração Pública, Ordenamento do Território e Poder Local.
Esta tentativa de censura deveu-se apenas ao facto de o deputado liberal ter questionado a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, acerca da notícia vinda ontem a público de que uma empresa detida pelo marido da governante recebeu mais de 100 mil euros de fundos comunitários, ao mesmo tempo que a mulher tutela as entidades responsáveis pela gestão dos fundos.
Face ao evidente conflito ético, Carlos Guimarães Pinto apontou duas alternativas a Ana Abrunhosa: ou o seu marido devolve o dinheiro que recebeu ou a ministra deve demitir-se. A ministra recusou-se a responder, enquanto a deputada fazia sucessivos apartes.
A Iniciativa Liberal há muito que vem dizendo que uma maioria absoluta do PS é um rolo compressor para a democracia. Este tipo de casos, com conflitos de interesses evidentes, sucedem-se uns atrás dos outros e o PS comporta-se como se nunca devesse justificações a ninguém. Estas condutas inaceitáveis e de tentações censórias têm de ter consequências.
O PS não é dono da democracia.
O que se passou hoje não se trata de uma nódoa que cai no pano. Com o PS já não se vê pano, só se vêem nódoas.
NR: A senhora deputada Isabel Guerreiro foi inoculada com o vírus "ditadura rosa", é um exemplo vivo de desconsideração da ética quando a lei é favorável. Aguentem-se votantes do PS o pior está para vir..
126-CINEMA
28/09/2022
.
VII- ᚺᛁᛢᚾᛜ́ᚱᛁᚣ ᚧᚣ ᛖᚣᚾᛊᛖᚣ́ᚾᛁᛈᚣ ᚹᚣᚱᚣ ᚹᚱᛜᚪᛊᛢᛢᛜᚱᛊᛢ
ᛊ ᚾᚣᛖᛒᛊ́ᛖ ᚹᚣᚱᚣ ᛈⳘᚱᛁᛜᛢᛜᛢ
5 - APOLÓNIO E AS CÓNICAS
(CONTINUA PRÓXIMA QUARTA)
* Professor: João Bosco Pitombeira
.
NR: De novo o sábio professor Pitombeira para explicar mais história da matemática, se acha que não gosta de matemática aprenda a gostar com este mestre.
O "APOLÓNIO" não é fácil mas suscita curiosidade. Para quem não é matemático aconselhamos a rever o vídeo anterior, o conjunto é de sete, coisa pouca...
SÉRGIO DUNDÃO
.
Os seis efeitos
nas eleições de 2022 em Angola
O primeiro efeito é o fim da maioria
qualificada do MPLA. O que significa que nenhum partido consegue per se
realizar uma revisão da Constituição e que a UNITA passou a ter o poder
de vetar qualquer projecto de alteração constitucional.
A última crónica relativamente às eleições gerais angolanas obriga-nos a analisar os efeitos dessas eleições no sistema de governo e de partido, dentro de uma lógica funcional e de interdependência dos subsistemas do sistema político, como nos ensinam David Easton e Dieter Nohlen.
O primeiro efeito é o fim da maioria qualificada do MPLA. O que significa que nenhum partido consegue per se realizar uma revisão da Constituição e que a UNITA passou a ter o poder de vetar qualquer projecto de alteração constitucional, o que não sucedia desde as eleições de 1992. À luz da CRA de 2010, são necessários dois terços dos deputados em efectividade de funções para promover alterações ao texto constitucional, precisamente 147 deputados num parlamento com 220 assentos.
O segundo efeito diz respeito ao efeito multiplicador. A UNITA passou a poder indicar mais representantes em inúmeros órgãos públicos, como a Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana, a Comissão Nacional Eleitoral e o Tribunal Constitucional (TCA). Todavia, o MPLA indicará mais membros nesses órgãos, porque conserva a maioria absoluta.
O terceiro efeito está relacionado com o impacto nos partidos. Os partidos APN e P-NJANGO serão extintos porque na legislação angolana prevê-se que “os partidos que ficam abaixo dos 0,5% de votos devem ser extintos por decisão do TCA”. Apenas cinco partidos conseguiram garantir representação parlamentar, sendo que os três pequenos partidos elegeram todos os deputados (dois para cada) no círculo nacional. Ainda assim, somente o MPLA e a UNITA constituirão grupos parlamentares. O MPLA e a UNITA concentraram 97,3% da representação dos 220 deputados, sendo que ambos obtiveram 95,4% e 100% deputados do círculo nacional e provincial, respectivamente.
O quarto efeito prende-se com o duplo círculo. O MPLA, com 51,17% dos votos, conseguiu uma representação de 124 (56,36% dos deputados). Conquistou um bónus de 5,19% de representação, que se traduziu em mais 11 deputados. Se fosse retirado o efeito do duplo círculo, o MPLA teria apenas 113 deputados. A UNITA, com 43,95% dos votos, ficou com 90 deputados, quando deveria ter obtido 97 deputados. O PRS teve dois deputados quando poderia eleger três deputados.
A CASA-CE elegeria dois deputados, enquanto a APN e o P-NJANGO conseguiriam eleger um deputado, respectivamente. Os restantes partidos (FNLA e PHA) manteriam, cada um, os seus dois deputados. Alterações representativas demonstram o forte impacto do duplo círculo no sistema eleitoral angolano, conforme explicado na minha obra Sistema Eleitoral Angolano e Eleições em Contexto de Pós-guerra: Um Estudo das Eleições de 2008, 2012 e 2017.
O quinto efeito diz respeito ao efeito do sistema de lista fechada que gera um privilégio a favor dos cabeças-de-lista dos 5 partidos angolanos com representação parlamentar. Os seus cabeças-de-lista, depois de derrotados do apuramento presidencial, consagraram-se como deputados, o que não sucedeu, com João Lourenço e Esperança da Costa, números 1 e 2, respectivamente, da lista do MPLA. Mas, por exemplo, Adalberto da Costa Júnior e Abel Chivukuvuku são agora deputados quando concorreram para os cargos de Presidente da República e Vice-Presidente da República, respectivamente.
O sexto e último efeito relaciona-se com a representação feminina. O PHA foi único partido como uma candidata presidencial (eleita deputada), e o MPLA apresentou uma candidata à vice-presidência, tendo sido eleita para este cargo. Foram eleitas 73 mulheres, representando 33,2% dos deputados. O MPLA continua a ser o partido que mais elege mulheres, com 62 (36 através do círculo nacional e 26 no provincial).
* Investigador
IN "O JORNAL ECONÓMICO" - 25/09/22.