31/03/2022

ANTÓNIO JOSÉ GOUVEIA

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Nada será como antes, 
será bem pior

Quando Portugal se lançou numas eleições legislativas, que terminaram com a maioria absoluta do PS, António Costa estava longe de imaginar que, para além da pandemia e de uma crise inflacionária, se juntaria a guerra na Ucrânia. Todos sabemos o quanto Portugal é uma pena leve que corre ao sabor dos acontecimentos internacionais.

O Governo que toma hoje posse foi pensado para fortalecer a liderança socialista num ambiente de gestão da recuperação económica pós-pandémica, onde os 17,6 mil milhões do Plano de Recuperação e Resiliência terão um papel fundamental. Aliás, com os fundos europeus, o país poderá vir a receber um valor global de cerca de 58 mil milhões de euros para executar até 2029.

Os efeitos do conflito entre ucranianos e russos fizeram caducar abruptamente todos os planos. O que se espera de Costa é que tenha a noção de cavar novas trincheiras provocadas pela guerra e ver as suas consequências económicas. 

Exige-se rapidez, mas também resistência ao impacto. Bastará transmitir aos portugueses, sem populismos nem alarmismos, mas com verdade, a gravidade da situação. Todos nós já estamos a sentir isso no bolso. O problema é que, perante este cenário, infelizmente, vamos senti-lo ainda mais. A questão não radica só na destruição da Europa como a vivíamos em dezembro, que já não era famosa. Manter as sanções à Rússia tem um alto custo para os portugueses e europeus. 

Não há soluções mágicas que atenuem o sacrifício de estarmos do lado dos ucranianos e, mesmo com os acordos conseguidos na última cimeira do Conselho Europeu por António Costa e Pedro Sánchez, o problema agravado da subida de preços irá continuar. Vamos ficar mais pobres, isso é uma certeza. Este vai ser o terceiro empobrecimento súbito do país neste milénio, deixando marcas nas gerações mais jovens e hipotecando as expectativas de muitos milhões de cidadãos. Ainda bem que temos o respaldo da União Europeia, mas tal não deve permitir que nos encostemos, porque a viagem vai ser dura. Nada será como antes porque será bem pior.

* Editor-executivo

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - 30/03/22.

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