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APDP, hoje, tão ou mais
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APDP, hoje, tão ou mais
que nunca! 94 anos a criar
apoio às pessoas com diabetes
Estamos cá porque somos necessários. Pelas exigências de uma doença tão complexa. Pela exigência de políticas que combatam a diabetes, prevenindo-a e possibilitando que a esperança e a qualidade de vida destas pessoas sejam iguais à da restante população.
Comemorar 94 anos num período de pandemia e de incompreensão do que é
a diabetes, de qual o seu impacto na vida das pessoas e da sociedade,
não é fácil.
Uma palavra é merecida para aqueles que têm morrido, exatamente
porque a diabetes agravou o impacto da infeção pelo vírus SARS-CoV-2.
Uma palavra para aqueles que quotidianamente, hora a hora, cuidam de si,
avaliando, ajustando o tratamento e controlando a sua situação. Os que
estão a trabalhar, em teletrabalho ou em confinamento. Uma palavra para
os que criaram e desenvolveram esta instituição filantrópica e
benemérita, a APDP – Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal.
Muita força, muita dedicação, muita determinação, em fazer valer um dos
seus desígnios iniciais: fazer com que as pessoas com diabetes vivam e
trabalhem como se não tivessem uma doença. Devolver as pessoas à
sociedade!
“Que força é essa?”, perguntava Sérgio Godinho. É uma força,
existente em todas as pessoas com diabetes, forjada numa forma de vida
que lhes é imposta, nunca pedida ou desejada, de controlo diário de uma
doença. Vinte e quatro horas sob vinte e quatro horas! Viver a doença
não com o sentimento de derrota mas de desafio, de obrigação de se
suplantar. Fazer o que todos os cidadãos fazem e cuidar de si, como só o
próprio o pode fazer.
Este ano vivemos uma situação única. Apesar de a pandemia nos afetar a todos de forma diferente, há evidência de um maior risco nas pessoas com diabetes (link is external)
se forem atingidas pelo coronavírus SARS-CoV-2. Não há nenhum país que
não o afirme, não há nenhuma organização, da OMS ao CDC, passando pelas
entidades sanitárias de todo o mundo: a diabetes é um enorme risco se
for complicada com a covid-19! É a literatura científica que, ao avaliar
os resultados, permite essa conclusão. Por isso, não entendemos e não
aceitamos a decisão injustificável do Governo (link is external)
de retirar a diabetes da lista de doenças beneficiárias do regime
excecional de proteção no âmbito da covid-19, colocando de parte um
conjunto de pessoas que procuram cuidar o melhor de si para terem a
melhor saúde possível.
A proteção de pessoas em risco e mais vulneráveis é
demasiado séria para poder ser ignorada em função de putativas
necessidades económicas.
Não podemos, pois, deixar de exigir a correção deste retificativo que
apagou a diabetes e a hipertensão. Reunimos com os grupos parlamentares
e esperamos que a situação seja rapidamente resolvida. Que a sua
palavra seja respeitada. Qualquer discriminação não faz qualquer
sentido. As pessoas querem proteger-se e o nosso papel só pode ser
ajudá-las a protegerem-se. Ninguém pode estar contra o mundo destas
pessoas e dos seus familiares.
A APDP já passou, e ultrapassou, grandes desafios. Da
coragem em pôr as pessoas a auto-injetarem-se, da necessidade de
arranjar insulina nos primeiros anos após a sua descoberta, do período
da Segunda Grande Guerra, em que a insulina escasseou, após a invasão
nazi da Dinamarca. Desafios na implementação de novos modelos de
acompanhamento e de assistência, a maioria das vezes disruptivos para a
época, desafios na área da inovação e das novas tecnologias e desafios
no combate à estigmatização das pessoas com diabetes. Nestes dois meses
de adversidade, adaptámo-nos às circunstâncias, implementando um sistema
de teleconsultas, criando uma linha de atendimento telefónico acessível
a todos os portugueses com diabetes e um serviço domiciliário de
entrega de medicamentos a sócios e utentes, sem descurar consultas e
tratamentos presenciais sempre que necessários.
O médico Ernesto Roma criou a APDP em 1926 com o
objetivo de apoiar as pessoas com menos recursos materiais. Manuel Sá
Marques adaptou-a aos tempos modernos e integrou-a no SNS, após a sua
criação. À medida que se foi conhecendo a diabetes, a APDP tornou-se
também uma casa da Educação e Apoio Social e, com o melhor conhecimento
das complicações tardias da diabetes, uma instituição multidisciplinar
de apoio, acompanhamento e tratamento das pessoas com diabetes.
Estamos cá porque somos necessários. Pelas exigências de uma doença
tão complexa. Pela exigência de políticas que combatam a diabetes,
prevenindo-a e possibilitando que a esperança e a qualidade de vida
destas pessoas sejam iguais à da restante população.
Pelas pessoas com diabetes e com elas. Por si e pelos seus.
Contem connosco!
* Médico, presidente da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), dirigente do Bloco de Esquerda
IN "PÚBLICO"
13/05/20
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