20/07/2019

PAULO BALDAIA

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O tarot da política

Se as sondagens, que utilizam métodos científicos, não adivinham resultados, apenas indicam tendências, não se aconselha que os analistas e os comentadores de política se ponham a lançar búzios com a pretensão de acertar no que vai acontecer à vida dos políticos. Mas no defeso, num tempo em que já ninguém faz aquilo para que foi eleito, porque estão ocupados a tentar fazer-se eleger de novo, parece não haver nada de mais sedutor para fazer.

Já há quem adivinhe que Mário Centeno vai continuar ministro para sair dois anos depois, se não for direto para o Banco de Portugal ou para um lugar na Europa. Dito assim, convém recordar que também já houve quem dissesse que estar vivo é o contrário de estar morto. E há quem tenha a certeza que Pedro Nuno Santos vai mesmo ser líder do PS. E que Costa vai ser candidato à Presidência da República, coisa que Marcelo Rebelo de Sousa também será, obrigando o atual primeiro-ministro a um compasso de espera de mais cinco anos.

Há um consenso generalizado, o de que o PSD vai perder as eleições. Mas esta é fácil de acertar porque nunca, em lado nenhum do Mundo, um partido que está no Governo perdeu as eleições depois de reduzir a taxa de desemprego para metade. Até quem deita as cartas percebe que o bem mais precioso para um eleitor é ter como ganhar a vida. E, se o PSD vai perder, há quem consiga antever que Rui Rio vai agarrar-se como lapa a um lugar onde, manifestamente, não é feliz. Parece pouco provável. 

Sendo fácil de adivinhar que o Bloco de Esquerda não terá problemas com o próximo resultado eleitoral, também se percebe que a vida de Catarina Martins não se vai alterar no que à liderança do Bloco diz respeito. Mas o lugar no Governo, que parecia provável há poucos meses, é já uma miragem, mesmo para o mais optimista dos militantes do BE. 

No outro lugar do banco de trás, onde se senta o PCP, dá para ver mais nuvens nos horizontes. Não é a carta da morte, mesmo que ela se faça acompanhar de uma foice, mas as sondagens e, sobretudo, os resultados das duas últimas eleições, fazem adivinhar a chegada do Diabo. Perante um terceiro mau resultado, parece certo que não será apenas Jerónimo de Sousa a ficar em causa, a estratégia de apoio a um governo do Partido Socialista pode ser rejeitada pela maioria dos militantes comunistas.

Sobra o PAN, a quem saiu a estrela. Todos esperam por um novo grupo parlamentar e há até quem lhes adivinhe o Mundo todo pela frente, o mesmo é dizer que sem maioria absoluta, a sorte do PAN acabará por ser a sorte do PS.

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
16/07/19

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