O inferno da Samsung
Quem diz que “toda a publicidade é boa publicidade” não está bem a ver o inferno em que a Samsung está metida. Literalmente.
Ao entrar no aeroporto de Los Angeles às
seis da manhã, a caminho do Texas, encarei mais uma restrição a
adicionar a todos os outros regulamentos de segurança para quem voa:
passou a ser proibido embarcar com um Galaxy Note 7, tanto na mala de
mão como na bagagem de porão.
Quem diz que “toda a publicidade é boa publicidade” não está bem a ver o
inferno em que a Samsung está metida por causa do novo smartphone.
Literalmente.
Quase 100 exemplares do dispositivo
explodiram, incendiaram-se ou deitaram fumo nas últimas semanas, vários
dos quais já versões novas, que não deviam ter o mesmo problema na
bateria que levou à recolha inicial. Não basta que a Samsung tenha
parado a produção do smartphone e decidido descontinuá-lo, nem que a
T-Mobile ofereça vouchers de 25 dólares como compensação aos
utilizadores que forem lá entregar o seu Note 7 em troca de outro.
Quantos irão escolher um Samsung? O impacto deste desastre na reputação da empresa sul-coreana não pode ser subestimado. É um golpe duro na maior fabricante mundial de telemóveis e um golpe de sorte para a Apple e para a Google, que acabam de lançar os mais recentes topos de gama (iPhone 7 e Pixel).
Quantos irão escolher um Samsung? O impacto deste desastre na reputação da empresa sul-coreana não pode ser subestimado. É um golpe duro na maior fabricante mundial de telemóveis e um golpe de sorte para a Apple e para a Google, que acabam de lançar os mais recentes topos de gama (iPhone 7 e Pixel).
Ontem, soube-se que a Samsung usou um
laboratório interno para testar a conformidade das baterias usadas no
Note 7, que estão na origem dos incêndios. É uma prática incomum –
praticamente todas as outras fabricantes recorrem a laboratórios
independentes para certificar a segurança das baterias.
São vendidos perto de dois mil milhões de telemóveis por ano e é muito rara que este tipo de problemas ocorra. Estatisticamente, o número de Note 7 que pegaram fogo é pouco significativo, tendo em conta o total. Mas esta é uma indústria em que o risco de incidentes tem de ser zero.
O smartphone anda na mala, no bolso, no carro. Fica a carregar na mesa-de-cabeceira durante a noite (já agora, não faça isso. Dá cabo da bateria). Encosta-se ao ouvido, põe-se na secretária de trabalho. Não pode explodir. Não pode sequer deitar fumo ou queimar as mãos depois de acabar de carregar. O smartphone tem de ter risco zero de incêndio.
A ironia é que as baterias de ião de lítio usadas nos smartphones de hoje são altamente inflamáveis. A camada de plástico que separa o lado negativo do positivo é muito fina, e qualquer pequena disrupção pode causar um curto-circuito. O líquido inflamável aquece e uma explosão é quase inevitável.
São vendidos perto de dois mil milhões de telemóveis por ano e é muito rara que este tipo de problemas ocorra. Estatisticamente, o número de Note 7 que pegaram fogo é pouco significativo, tendo em conta o total. Mas esta é uma indústria em que o risco de incidentes tem de ser zero.
O smartphone anda na mala, no bolso, no carro. Fica a carregar na mesa-de-cabeceira durante a noite (já agora, não faça isso. Dá cabo da bateria). Encosta-se ao ouvido, põe-se na secretária de trabalho. Não pode explodir. Não pode sequer deitar fumo ou queimar as mãos depois de acabar de carregar. O smartphone tem de ter risco zero de incêndio.
A ironia é que as baterias de ião de lítio usadas nos smartphones de hoje são altamente inflamáveis. A camada de plástico que separa o lado negativo do positivo é muito fina, e qualquer pequena disrupção pode causar um curto-circuito. O líquido inflamável aquece e uma explosão é quase inevitável.
Pode olhar-se para isto como um problema da
Samsung, que permitiu um erro de produção, um erro de testes ou um erro
de conceção. Mas eis a questão maior, que deve preocupar toda a
indústria: os utilizadores andam há anos a queixarem-se que as baterias
dos smartphones não duram nada.
Ao mesmo tempo, pedem mais potência e maior capacidade de processamento em carcaças mais finas e elegantes. As fabricantes entraram numa batalha de engenharia para melhorarem a performance das baterias nos novos modelos, que obviamente são mais finos e têm melhor performance. De cada vez que se comprime muita potência num espaço muito pequeno, corre-se o risco de criar uma pequena bomba-relógio. É o que andamos a pedir às fabricantes, basicamente: “Dêem-me uma bateria quase invisível que dure dois dias enquanto faço três horas de vídeos ao vivo para o Facebook em LTE.”
A Samsung não é a primeira fabricante a passar pela humilhação de uma recolha mundial de telemóveis por questões de segurança, e provavelmente não será a última. Em vez de os fãs da Apple se rirem da desgraça da rival, apontando que a pressa que a Samsung teve em lançar um smartphone antes do iPhone 7 deu para o torto, o ideal era repensar o frenesim com as baterias destes mini-computadores que usamos 12 horas por dia.
Que nunca desligamos. Que puxamos freneticamente do bolso a qualquer vislumbre de minuto morto. Repensar a tecnologia, ou o que esperamos dela. É difícil ter performance, segurança e durabilidade ao mesmo tempo. Das três, duas. Quais é que queremos?
Ao mesmo tempo, pedem mais potência e maior capacidade de processamento em carcaças mais finas e elegantes. As fabricantes entraram numa batalha de engenharia para melhorarem a performance das baterias nos novos modelos, que obviamente são mais finos e têm melhor performance. De cada vez que se comprime muita potência num espaço muito pequeno, corre-se o risco de criar uma pequena bomba-relógio. É o que andamos a pedir às fabricantes, basicamente: “Dêem-me uma bateria quase invisível que dure dois dias enquanto faço três horas de vídeos ao vivo para o Facebook em LTE.”
A Samsung não é a primeira fabricante a passar pela humilhação de uma recolha mundial de telemóveis por questões de segurança, e provavelmente não será a última. Em vez de os fãs da Apple se rirem da desgraça da rival, apontando que a pressa que a Samsung teve em lançar um smartphone antes do iPhone 7 deu para o torto, o ideal era repensar o frenesim com as baterias destes mini-computadores que usamos 12 horas por dia.
Que nunca desligamos. Que puxamos freneticamente do bolso a qualquer vislumbre de minuto morto. Repensar a tecnologia, ou o que esperamos dela. É difícil ter performance, segurança e durabilidade ao mesmo tempo. Das três, duas. Quais é que queremos?
Em Los Angeles
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IN "DINHEIRO VIVO"
18/10/16
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