Sem pés nem cabeça
A solução mista de circulação de trânsito e peões na rua dos
Mercadores é paradigmática de algumas soluções encontradas para a cidade
de Ponta Delgada, nos últimos anos…
Basta recuar a 2009 para lembrar que à data da reabertura desta rua, e
a par com a justa homenagem aos calceteiros pelo seu trabalho
extraordinário, a autarquia decidiu que por cima daquele belíssimo
passeio circularia, além do comum cidadão, todo o tipo de trânsito…
Agora, novo caso deu à luz na cidade. Falo, claro está, das
improvisadas ciclovias de Ponta Delgada que ocupam a faixa direita da
estrada, entre o Clube Naval e o Forno da Cal, em São Roque, durante os
fins de semana.
Não se pode dizer que a ideia de ter ciclovias em Ponta Delgada não é
uma belíssima ideia, porque é, de facto. Porém aquelas, além de nos
parecerem inseguras e absurdas, não deixam de nos fazer lembrar a
solução mista da rua dos Mercadores…
Em quase todas as cidades do país há planos de redes de ciclovias
urbanas, que disponibilizam aos cidadãos, inclusivamente, bicicletas na
cidade, para serem usadas pelos habitantes e turistas.
Ainda recentemente, por exemplo, Torres Vedras anunciou estar a
executar obras, com vista à construção de novas ciclovias e à
reformulação de outras para estarem de acordo com as regras do novo
código da estrada. Em homenagem ao ciclista Joaquim Agostinho, natural
deste concelho, a autarquia batizou as bicicletas de “Agostinhas”…
Quando as coisas são feitas com tempo, há possibilidade de fazê-las
bem e com imaginação. Quando são feitas assim às “três pancadas”, o
resultado é o que se tem visto nas últimas duas semanas: “Baias e
cordinhas” a fazer de conta que se fez qualquer coisa… Uma lástima.
Podia o PSD que tem a maioria na Câmara Municipal de Ponta Delgada,
há mais de uma década, ter feito um maior investimento em políticas de
transportes públicos, que favorecessem a mobilidade no maior concelho
dos Açores? Podia. Mas a autarquia tem sistematicamente negligenciado
essa aposta, focando a sua intervenção numa política de mobilidade
exclusivamente dedicada ao automóvel, nunca sendo sequer capaz de
decidir a construção da tão famigerada central de camionagem ou de criar
faixas de autocarros que deviam funcionar nas horas de ponta e ser
melhor articuladas com os minibuses…
Já houve tempo suficiente para haver um maior investimento nesta
área, incentivando transportes alternativos, como scooters e bicicletas,
assim como investindo na maior utilização dos transportes públicos,
juntando-se a isso investimento na qualidade das paragens de autocarros,
um sistema de comunicações inteligente com informação electrónica sobre
horários e percursos. Nada disto é novo. Os vereadores do PS de Ponta
Delgada bem que têm insistido. Mas nada. Há muito tempo que a autarquia
de Ponta Delgada se podia ter empenhado nestas e noutras soluções.
Primeiro o Senhor Vice-Presidente da Câmara, José Manuel Bolieiro
preferiu o Museu do Niemeyer. Agora, o Senhor Presidente da Câmara, José
Manuel Bolieiro (sim, o mesmo) prefere um Pavilhão Desportivo na
cidade.
Tudo por aqui é feito sem “pés nem cabeça”. Quando assim é, com mais
ou menos variações, o cantor que era António de primeiro nome, já
avisava: “o corpo é que paga”…
Para lá vamos…
IN "AÇORIANO ORIENTAL"
05/06/13
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