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Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
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Com o sacrifício dos salários e do investimento estruturante, ressoam no debate orçamental ecos de outros tempos.
Em Outubro, este orçamento mereceu o chumbo da esquerda porque era mau. Hoje, sob o surto inflacionista, ele tornou-se ainda pior. Por três razões:
Primeira, o orçamento desiste de quem trabalha. Ao recusar atualizar salários enquanto a inflação galopa, corta rendimentos. O governo argumenta que é preciso ter calma, que a inflação pode ser passageira. Mas o argumento é duplamente falso. Por um lado, a quebra já verificada nos salários reais permanecerá, mesmo quando a inflação diminuir. Por outro, é o próprio governo que prevê uma inflação de 4% em 2022 e confirma que os preços continuarão a subir no próximo ano. Fernando Medina assume, assim, que haverá mais quebra de poder de compra e que ela será permanente.
Segunda, o debate orçamental confirmou que a maioria absoluta recua mesmo face aos modestos compromissos que o PS tinha assumido. Lembra-se de ouvir António Costa reiterar o objetivo de fazer convergir o peso dos salários no PIB com a média europeia? A ministra Vieira da Silva já assumiu o recuo do governo. Lembra-se de ouvir António Costa embandeirar a erradicação das carências de habitação digna até 2024, no meio século do 25 de Abril? O ministro Pedro Nuno Santos já excluiu esta possibilidade. Lembra-se de António Costa repetir, há pelo menos cinco anos, o compromisso de que garantiria médico de família a toda a população? Depois das eleições, a intenção caiu do Programa de Governo; e hoje há menos médicos por habitante que no tempo da troika. Uma após outra, a maioria absoluta vai metendo as promessas na gaveta.
Terceira, este é um orçamento de injustiça. Enquanto recusa aumentar o salário mínimo à taxa da inflação, o PS mantém o regime de privilégio para residentes não habituais (que só no ano passado custou ao Estado 900 milhões de euros). Por que razão o governo, enquanto retém o investimento que responderia à degradação dos hospitais, rejeita taxar as mais-valias de quem faz milhões em criptomoedas e não contribui com um único cêntimo? Enquanto condena os trabalhadores do Estado à perda abrupta de poder de compra, o PS recusa uma taxa sobre os lucros extraordinários verificados na energia, uma medida recomendada pela Comissão Europeia, pela OCDE e pelo FMI?
Toda a política orçamental do Governo está, portanto, subordinada a um objetivo de direita: cumprir as regras do Tratado Orçamental e reduzir o défice, “custe o que custar”, mesmo que Bruxelas tenha suspendido essas regras por mais um ano. Fechado há muito o parêntesis da geringonça, o orçamento da maioria absoluta do PS - “o mais à esquerda de sempre”, lembra-se? - deixa a direita com falta de críticas.
Com o sacrifício dos salários e do investimento estruturante, ressoam no debate orçamental ecos de outros tempos. Não é para menos. Sentado na sua maioria absoluta, o Partido Socialista volta a um muito conhecido papel: o de melhor aluno dos piores professores.
* Deputada. Dirigente do Bloco de Esquerda. Economista
IN "EXPRESSO" - 27/05/22.
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putin HUYLO
putin é um canalha
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À medida que os passos iam ficando para trás, contou-me o que cada loja pela qual passávamos tinha sido e o que vendia, onde viviam alguns dos seus amigos quando ali também ele tinha vivido com os seus pais. A conversa prolongou-se precisamente ao passarmos pela casa onde viveu, à frente da qual ficava o hotel onde há anos se instalava quando ia a S. Miguel e onde também ficámos nessa viagem. Falou-me dos centros de conspirações oposicionistas. Caminhávamos nas ruas de Ponta Delgada e as histórias multiplicavam-se como os passos que dávamos naquela noite amena de setembro do ano passado. Partindo ou não daí, falou-me de literatura, de história, de filosofia, de política... e de jornalismo, claro.
Eram sempre assim as conversas com Mário Mesquita. Tinha uma cultura invulgar, uma inteligência superior, um humor distinto e estava permanentemente atualizado. Tinha lido sempre muito e continuava a ler tudo. E tinha verdadeiramente prazer em falar sobre tudo. Eu, que nesses momentos só queria ouvi-lo, fiquei sempre espantado porque nunca deixava de pedir a minha opinião. E aí vinha o debate, a troca de argumentos que o deliciava. Generoso, atento ao pensamento do outro, rapidamente tirava do bolso uma série de autores, que logo relacionava com os temas em discussão e aconselhava a leitura.
Disse-me uma vez que se pedisse a alguém para ler um texto e não recebesse nenhuma crítica, o texto não tinha sido seriamente lido. Claro que a primeira vez que me pediu para ler um texto que tinha acabado de escrever eu tremi. Mas, uma vez mais, a sua generosidade: ouviu atentamente, conversou comigo sobre o texto e procurou integrar as observações. Exigente, crítico, profundo, rigoroso, não deixou nunca, porém, de estar aberto a outros olhares e ângulos de análise. Procurava-os, de resto. Só não tinha paciência para discursos banais. Desses fugia.
Nesse setembro do ano que passou, estávamos em Ponta Delgada para apresentar, no Teatro Micaelense, o livro em sua homenagem, que tive o privilégio de organizar com Tito Cardoso e Cunha, Cláudia Henriques e Carlos Rilley, ao qual se associaram tantos colegas de universidades de todo o país - A Liberdade por Princípio (Tinta-da-China, 2021). Depois de Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian, era ponto assente que o livro tinha de ser lançado em S. Miguel. Para Mário Mesquita, a sua terra e o mar que a envolve, constituíam um apelo constante. Ele podia dizer, como Vitorino Nemésio, "Quando penso no mar, o mar regressa/ A certa forma que só teve em mim -/ Que onde ele acaba, o coração começa".
Esses foram dois momentos de grande alegria, porque todos estávamos a prestar uma justa homenagem a uma figura ímpar da cultura e da academia portuguesas, uma referência de integridade, um cidadão empenhado, um defensor da ética e do rigor jornalístico, da liberdade. Esta é a homenagem que lhe devemos, lembro-me de lhe ter dito. Sorriu, com aquele sorriso que também era só dele.
Mário Mesquita que chegou a Lisboa para estudar direito, mas com o firme propósito de praticar jornalismo, não deixa de prosseguir - e intensificar - a atividade política que iniciara nos Açores com António Borges Coutinho, Ernesto Melo Antunes, José Medeiros Ferreira, Jaime Gama ou Eduardo Paz Ferreira. Um percurso tão bem conhecido como oposicionista à ditadura, integrando a Ação Socialista Portuguesa, participando nas campanhas eleitorais da oposição, como fundador do Partido Socialista, tendo estado presente no congresso em Bad Münstereifel, em abril de 1973. Deputado Constituinte aos 25 anos, a Mário Mesquita se fica a dever, em grande medida, o articulado respeitante à Comunicação Social da Constituição de 1976, em defesa da liberdade de imprensa e do pluralismo nos media. Na imprensa, depois do República (1971-1975) e Jornal Novo (1975), é diretor-adjunto (1975-1978) e, com apenas 28 anos, passa a diretor (1978-1986) do Diário de Notícias e, mais tarde, do Diário de Lisboa (1989-1990).
Ao longo do seu percurso, que cruza inúmeras experiências (da FLAD à ERC, passando pelo Conselho de Imprensa e tantos outros órgãos), manteve uma coerência inabalável nos seus princípios, mantendo sempre igualmente uma enorme coragem. Combativo por natureza, viveu intensamente o período revolucionário, erguendo a voz em defesa da liberdade, e foi construtor do Portugal democrático. Depois, optou pelo jornalismo, pelo ensino e pela investigação. Lecionou em várias instituições de ensino superior (Universidade de Coimbra, Universidade Nova de Lisboa, Universidade Lusófona, Escola Superior de Comunicação Social, etc.), mas não só: criou cursos de jornalismo, pensou e definiu planos de estudo, marcando profundamente sucessivas gerações de jornalistas, assim como de investigadores e professores que hoje se encontram em lugares de destaque em diversas universidades.
Mário Mesquita foi, sem dúvida, quem melhor pensou e escreveu sobre jornalismo em Portugal. O pioneirismo e a profundidade da sua vasta obra colocam-no no patamar cimeiro dos estudos sobre o jornalismo e o seu contributo para a afirmação desta área como campo científico em Portugal foi absolutamente determinante. O seu O Quarto Equívoco: O Poder dos Media na Sociedade Contemporânea (MinervaCoimbra, 2003), quase vinte anos passados da sua publicação, continua a ser uma obra incontornável e de grande atualidade.
Cidadão empenhado que sempre foi, na linha que atravessa a sua vida, a palavra liberdade é, porventura, a que surge mais nítida, porque por ela se bateu sempre. Nos últimos anos, mesmo contra a corrente, mesmo votando vencido, ela esteve sempre lá. Era mote das suas posições, do seu pensamento, do que escreveu. Um dia, quando se fizer essa história, isso dela constará.
Há poucos dias, quando conversámos por telefone antes de a cirurgia o levar cedo demais, e dela também falámos, falou-me da ida a Madrid, em abril de 1972, onde se encontrou com Mário Soares, que, exilado em Paris, foi a Espanha levar exemplares do recém-editado Le Portugal Baillonné. Estavam também Maria Barroso, Abranches Ferrão, Gustavo Soromenho, Isabel Soares, todos para trazerem livros para Portugal. Sabendo que me encontro a escrever sobre o tema, contou-me histórias da viagem, do livro e de como aproveitou a viagem para fazer uma entrevista a Soares a ser publicada no República. E, como tantas outras vezes, deu-me outras pistas e hipóteses para este estudo.
Lá estava, na última conversa que sem sabermos estávamos a ter: o político, o jornalista e o professor. E o aluno, que nunca deixou de o ser.
* Professor na Escola Superior de Comunicação Social e Universidade Lusófona
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" - 28/05/22 .
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COISAS DA MINHA CABEÇA
NR: A actual "ditadura rosa" sabe de tudo o que se passa no país e manipula como bem lhe apetece toda a actividade económica e social.
A saúde mental em Portugal é como um filho indesejado que só não acabou em aborto porque já tinha passado o prazo legar para a "interrupção". A "ditadura rosa" está cheia de habilidades que arrastam para debaixo do tapete o doente mental, ou tem dinheiro e trata-se na clínica privada ou saltita de morfo em morfo.
Os portugueses devem estar satisfeitos no modo como votaram em finais de Janeiro. Em Portugal sempre que há uma maioria absoluta o preço pago pelos portugueses é muito caro. Voltámos ao tempo de "deus, pátria e autoridade".
Nos próximos quatro anos vamos ter milhares de exemplos de como a "ditadura rosa" estará ao lado dos mais fortes com um excelente serviço de maquilhagem. Sempre afirmámos que António Costa é o melhor político português, deixa a léguas os seus adversários, mas nunca dissemos que serve bem o país ou é um bom político.