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Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
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Como vai Costa gastar
o dinheiro europeu
Numa linguagem simples e direta o plano de Costa é este: nenhum. Digo isto porque daquilo que o primeiro-ministro comunicou aos partidos e ontem mesmo no Parlamento aos portugueses em geral, apenas constam meras metas indicativas de áreas aparentemente preferenciais e as suas macro quantificações financeiras.
Esta semana António Costa chamou os partidos à sua presença para explicar as ideias que tem para o denominado plano de recuperação e resiliência que é como quem diz, o muito dinheiro que a Europa vai enviar para Portugal nos próximos anos. Para falar dele alerto que o vou fazer de uma forma que todos os portugueses percebam evitando termos jurídico-económicos muito bonitos, mas incompreensíveis ao cidadão comum. Portanto, numa linguagem simples e direta o plano de Costa é este: nenhum. Digo isto porque daquilo que o primeiro-ministro comunicou aos partidos e ontem mesmo no Parlamento aos portugueses em geral, apenas constam meras metas indicativas de áreas aparentemente preferenciais e as suas macro quantificações financeiras. De específico ou concreto, nada, o que faz do plano um mero catálogo de declarações de intenção.
Aquilo que parece claro é apenas o total de verbas envolvidas que na soma entre PT2020, Plano de recuperação europeu e quadro financeiro plurianual 2021-2027 representará qualquer coisa como 57,9 mil milhões de euros em subvenções, o que trocando por miúdos fará entrar anualmente nos cofres do Estado qualquer coisa como 6,4 mil milhões de euros. Portanto, muito dinheiro, talvez só comparável, contextualizando com as diferenças de época, aos fundos recebidos durante os governos de Cavaco Silva, mas ao contrário desses, alocados ao etéreo.
Depois, há ainda uma divisão em três grandes áreas de investimento preferencial, a saber, resiliência, transição climática e transição digital, o que muito concretamente quer dizer que o dinheiro recebido será canalizado para preparar o país face a crises que possam surgir no futuro, mas não para solucionar os problemas causados por esta. É como se estivéssemos a varrer o lixo para debaixo do tapete.
Perante esta circunstância o meu primeiro sentimento é de grande preocupação, preocupação que se adensa quando reparo que as verbas a aplicar nas três áreas antes mencionadas são absoluta e claramente desequilibradas entre aquilo que é o setor público e o setor privado, o que potenciará de novo o despesismo e deboche financeiro da máquina do Estado em detrimento do fortalecimento de uma classe média que é pedra base da sustentação económica do país. Classe média essa que se encontra completamente depauperada que é como quem diz, falida.
Tanto assim é que se verificarmos as verbas que António Costa indicou para a rubrica “Transição Digital”, nela verificaremos que as verbas disponibilizadas para a administração pública são praticamente três vez mais que as disponibilizadas para as empresas. Ou seja, simplificando, e isto num cenário de boa gestão o que não é apanágio dos governantes portugueses, para mais quando são socialistas, haverá muito mais dinheiro para o Estado se modernizar do que para o cidadão comum poder modernizar o seu tecido empresarial.
O resultado disto será um Estado cada vez mais presente e gastador o que nunca se compadecerá com a mudança de paradigma económica que o país precisa para vingar. Em suma, o conjunto de ideias que Costa apresentou são uma vez mais uma mão cheia de nada, assim tipo, “deixa lá vir a massa que depois logo se vê o que se dá, a quem se dá, como se dá e para o que se dá”. Ou seja, é o socialismo no seu expoente máximo, governação à vista e toca para diante. Todos nós já sabemos como estas coisas costumam acabar no nosso país.
Tudo na base da faraónica obra pública, muitas vezes dispensável, e no aumento da despesa estatal quando o desejável é exatamente o contrário. Temo por isso que uma vez mais se vá repetir o que em 40 anos aconteceu. Gastar em tudo menos no necessário, distribuir dinheiro por todos os agentes sociais e/ou económicos menos pelos que realmente precisam e no fim, de novo, o cidadão comum, terá de pagar. Não é este o país, o primeiro-ministro, o Governo, nem o plano de recuperação económico que precisamos.
IN "i" - 25/09/20
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Não é tempo de vacilar
Mais de 20% dos trabalhadores em Portugal recebem o salário mínimo nacional. São pessoas que desempenham profissões essenciais ao funcionamento da economia e da sociedade.
Asseguram os supermercados, o abastecimento de mercadorias, a higiene e limpeza, a recolha de resíduos ou as entregas de bens ao domicílio. Trabalham no comércio, na indústria e nos serviços. A pandemia retirou-as da invisibilidade de sempre, mas o reconhecimento da sua importância não se traduziu em salário.
Em Portugal, os salários são tão baixos que muita gente depende deste patamar mínimo. Daí a importância do compromisso do Governo com uma trajetória de aumento do SMN até aos 750€ no final desta legislatura, em 2023.
Para que seja equilibrada e possa acontecer sem sobressaltos, esse aumento deveria ser repartido no tempo: 635 euros em 2020, e depois mais 35-40 euros ao ano. Em 2023, o salário mínimo estará ainda longe de garantir uma vida digna a todos os que dele dependem, mas terá permitido recuperar algum poder de compra essencial.
Porém, engana-se quem pensa que o salário é apenas uma condição de dignidade e respeito por quem trabalha. O salário é também uma das bases fundamentais da economia. Se a crise anterior provou alguma coisa, é que o pensamento mesquinho que nos diz que cortar salários ajuda o crescimento económico e as empresas está profundamente errado.
Sem salário não há poder de compra, sem poder de compra não há consumo, não há vendas, nem confiança para sustentar a economia. Manter e até aumentar os salários é, por isso, uma das mais eficazes medidas anticrise, como ficou demonstrado na legislatura anterior, quando o acordo PS-Bloco permitiu elevar o salário mínimo até 600 euros.
É portanto errado que o Governo recue no compromisso de aumentos sustentados do SMN. Do ponto de vista simbólico, é crucial manter os compromissos assumidos, mostrando que os erros do passado não vão ser repetidos. É tempo de rejeitarmos a ideia de que as crises se resolvem pelo corte de direitos e rendimentos. Do ponto de vista prático, aumentar o salário mínimo é importante para suportar a economia do país.
Dirão alguns que as empresas não aguentam tal movimento, mas esse é um argumento que não podemos aceitar. Por um lado, porque, muitas vezes, as empresas que mais contestam os aumentos são as que menos dificuldades enfrentam. Para essas, o que está em causa é trocar uma pequena parte dos lucros por salários. Para outras, as dificuldades são reais. Esses casos merecem análise, porque não podemos ter um setor empresarial que só sobrevive à conta de tão baixos salários. Em contexto extraordinário de crise, no entanto, é papel do Estado apoiar essas empresas. E é para isso que os fundos estruturais devem também servir: manter as empresas e apoiar os salários.
O país já conhece e não esquece a receita da Direita para lidar com a crise. Se o Governo aprendeu a lição da geringonça, e se quer uma resposta com apoio da Esquerda, não pode vacilar no que é essencial.
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - 22/09/20
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Procura-se:
visão estratégica para o Interior!
António Costa Silva já apresentou uma “Visão Estratégica para a recuperação económica”, mas falta uma visão estratégica para o interior, mais uma vez ignorado.
No que ao interior diz respeito, o que este documento faz é cristalizar a mesma visão que tem ao longo dos anos e das governações devastado os territórios interiores, despindo-os de serviços, de oportunidades, de qualidade de vida e de pessoas.
O que de concreto sai desta tal “visão estratégica” é a imagem do interior como um armazém de matérias-primas, de minas a ser exploradas, de floresta a ser alimento para centrais de biomassa e de terrenos a mono-cultivar. Até esquecemos que aqui há gente merecedora das mesmas condições e oportunidades que qualquer pessoa neste país.
Mas impera perceber uma coisa: enquanto o paradigma sobre o interior de Portugal não se alterar, enquanto a extração mineira não for seriamente ponderada tendo em conta as populações locais, enquanto a solução para a biomassa for somente alimentar centrais, em vez de a aproveitar para regenerar os solos exaustos da monocultura, enquanto perspectivas economicistas prevalecerem em relação a perspetivas que coloquem as pessoas em primeiro plano, o discurso do combate às alterações climáticas e da necessária transição energética não passará disso mesmo: um discurso, longe de ser efetivado.
Com “visões” como esta apresentada por António Costa Silva, o campo de visão continuará a estar afastado do interior, permitindo que continue a ser território e gentes votadas ao esquecimento. Continuaremos sem serviços postais satisfatórios, com ferrovia insuficiente, com transportes públicos erráticos, sem coesão de oportunidades e com estradas e vias rodoviárias decadentes.
Estradas cortadas como se a ninguém servissem ou fizessem falta, isolando ainda mais as povoações e as pessoas, materializando o vazio que têm sido as políticas para o interior. Como exemplo disto mesmo, recorro ao inaudito caso da Estrada Nacional 228, que infelizmente não será caso único.
A EN228 liga a EN16, em Castro Daire, à IP3 em Mortágua, passando nos concelhos de São Pedro do Sul, Vouzela, Viseu e Tondela e seguindo para Travanca do Mondego, concelho de Penacova, já no Distrito de Coimbra. Uma via cuja importância se torna óbvia vendo os pontos que liga.
Mas a EN228 (pasme-se!) encontra-se cortada em Queirã, no concelho de Vouzela, desde um temporal em dezembro de 2019. Enquanto a estrada está ao abandono, cortada num ponto, e abatida noutro, com a circulação impossibilitada ou condicionada, apenas tendo, alegadamente, começado a receber intervenções de reparação esta semana, há populações cujo socorro está comprometido e famílias com faturas mensais de deslocações a aumentarem centenas de euros.
Esta é uma situação simplesmente inconcebível e inaceitável, como tantas outras que se vão somando e quase normalizando o abandono dos territórios cá de dentro. Os problemas do interior são já estruturais e não solucionáveis com medidas ou investimentos estilo “penso rápido” ou com ministérios de faz de conta. É preciso perceber os problemas que existem e o que leva as pessoas a terem de sair do interior, para depois construir uma resposta séria, estruturada e integral. Procura-se, urgentemente, uma visão estratégica para o interior!
IN "INTERIOR DO AVESSO"
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