A curva da felicidade
e o número de filhos
Em matéria de filhos, a soma das partes não é aritmética linear. A cada nova adição, a felicidade cresce mais do que o produto que lhe foi somado
A
melhor surpresa do mundo chegou-me em forma de vida: quando estava de
“assunto despachado” (já ninguém sequer ousava perguntar quando é que
vem o quarto, naquele jeito tão português de se meter na vida alheia),
nada de fraldas ou chuchas pela casa, três filhos crescidos e respetiva
parafernália infantil oferecida a perder de vista, eis que fiquei
grávida outra vez. Faz hoje dois anos que a minha vida voltou ao
rebuliço das noites mal dormidas, fraldas sujas, choros e febres. A
melhor coisa do mundo.
Ter filhos faz mal à carteira (sobretudo em Portugal) mas tão bem à alma. Sei, por experiência própria, que os filhos multiplicam as alegrias e dividem as tristezas. Fazem disparar os decibéis, mas encolher as angústias. Subtraem-nos tempo, mas acrescentam capacidade de organização e superação. Fazem aumentar a carga de trabalhos mas relativizar as preocupações com o trabalho. Causam estrias, dores de costas, rugas e cabelos brancos, mas fazem-nos descobrir melhores versões de nós próprios, mais completas, mais generosas, mais bondosas.
Que me perdoe Pitágoras, mas tenho a certeza que em matéria de número de filhos, a soma das partes não é aritmética linear. A cada nova adição, a felicidade cresce mais do que o produto que lhe foi somado. Um mais um não é igual a dois. Dois mais um não é igual a três. E então três mais um não é mesmo igual a quatro. É muito mais, é muito melhor.
Os filhos são, de longe, os melhores ansiolíticos e anti-depressivos. Não sou só eu que o digo. No relatório sobre a satisfação de vida dos europeus do Eurostat - onde Portugal figura como sempre bastante abaixo da média europeia, apenas atrás da Bulgária e ao lado de países como Grécia, Hungria e Chipre – uma evidência ressalta: as famílias com três ou mais filhos são as mais felizes.
Numa escala de 0 a 10, em que zero é o máximo da infelicidade e o 10 um êxtase, os homens sozinhos com menos de 65 anos foram os que se disseram menos satisfeitos com a vida (6,6 pontos), enquanto os agregados familiares com dois adultos e pelo menos três filhos estão no topo no ranking da alegria, com 7,4 pontos. Muitos outros trabalhos científicos conduzidos em países desenvolvidos apontam no mesmo sentido. A curva de felicidade entre os casais é sui generis - o segredo é não ter filhos, ou ter muitos, concluiu um estudo mais antigo (de 2011) da The State of Our Union (um observatório sobre o estado do casamento na América, bastante conservador, note-se). Um estudo da universidade Edith Cowan, em Perth (Austrália), divulgado no ano passado, conduzido por psicólogos durante cinco anos, concluiu que famílias com quarto ou mais crianças têm mais satisfação com a vida.
O quarto filho é em tudo igual ao primeiro. O mesmo entusiasmo pateta com as primeiras conquistas, a mesma alegria irracional a cada etapa normal do seu crescimento. Só que ao quarto filho já nos esquecemos das fraldas e das chuchas quando saímos, não metemos gorros em dias de vento e não ligamos nenhuma à introdução alimentar faseada nem às tosses com expetoração ou às febres abaixo dos 40ºC.
Perguntam-nos frequentemente, como é que damos conta do recado, se ambos trabalhamos. Dando, pois então. Com a enorme vantagem de termos emprego e uma vida confortável – quantos não têm a mesma sorte? E falhando, é certo, muitas vezes. Falhamos grandiosamente em todas as frentes – não somos os pais mais presentes do mundo, não somos os trabalhadores mais workhalic de Portugal, não somos os filhos e netos mais fantásticos, não somos os amigos mais divertidos para os copos. Mas falhamos o melhor que conseguimos. Procurando fazer a cada dia um bocadinho melhor, com a certeza que amanhã vamos descabelar-nos na mesma, berrar e violar muitas das bonitas regras dos livros de psicologia infantil.
Ter filhos faz mal à carteira (sobretudo em Portugal) mas tão bem à alma. Sei, por experiência própria, que os filhos multiplicam as alegrias e dividem as tristezas. Fazem disparar os decibéis, mas encolher as angústias. Subtraem-nos tempo, mas acrescentam capacidade de organização e superação. Fazem aumentar a carga de trabalhos mas relativizar as preocupações com o trabalho. Causam estrias, dores de costas, rugas e cabelos brancos, mas fazem-nos descobrir melhores versões de nós próprios, mais completas, mais generosas, mais bondosas.
Que me perdoe Pitágoras, mas tenho a certeza que em matéria de número de filhos, a soma das partes não é aritmética linear. A cada nova adição, a felicidade cresce mais do que o produto que lhe foi somado. Um mais um não é igual a dois. Dois mais um não é igual a três. E então três mais um não é mesmo igual a quatro. É muito mais, é muito melhor.
Os filhos são, de longe, os melhores ansiolíticos e anti-depressivos. Não sou só eu que o digo. No relatório sobre a satisfação de vida dos europeus do Eurostat - onde Portugal figura como sempre bastante abaixo da média europeia, apenas atrás da Bulgária e ao lado de países como Grécia, Hungria e Chipre – uma evidência ressalta: as famílias com três ou mais filhos são as mais felizes.
Numa escala de 0 a 10, em que zero é o máximo da infelicidade e o 10 um êxtase, os homens sozinhos com menos de 65 anos foram os que se disseram menos satisfeitos com a vida (6,6 pontos), enquanto os agregados familiares com dois adultos e pelo menos três filhos estão no topo no ranking da alegria, com 7,4 pontos. Muitos outros trabalhos científicos conduzidos em países desenvolvidos apontam no mesmo sentido. A curva de felicidade entre os casais é sui generis - o segredo é não ter filhos, ou ter muitos, concluiu um estudo mais antigo (de 2011) da The State of Our Union (um observatório sobre o estado do casamento na América, bastante conservador, note-se). Um estudo da universidade Edith Cowan, em Perth (Austrália), divulgado no ano passado, conduzido por psicólogos durante cinco anos, concluiu que famílias com quarto ou mais crianças têm mais satisfação com a vida.
O quarto filho é em tudo igual ao primeiro. O mesmo entusiasmo pateta com as primeiras conquistas, a mesma alegria irracional a cada etapa normal do seu crescimento. Só que ao quarto filho já nos esquecemos das fraldas e das chuchas quando saímos, não metemos gorros em dias de vento e não ligamos nenhuma à introdução alimentar faseada nem às tosses com expetoração ou às febres abaixo dos 40ºC.
Perguntam-nos frequentemente, como é que damos conta do recado, se ambos trabalhamos. Dando, pois então. Com a enorme vantagem de termos emprego e uma vida confortável – quantos não têm a mesma sorte? E falhando, é certo, muitas vezes. Falhamos grandiosamente em todas as frentes – não somos os pais mais presentes do mundo, não somos os trabalhadores mais workhalic de Portugal, não somos os filhos e netos mais fantásticos, não somos os amigos mais divertidos para os copos. Mas falhamos o melhor que conseguimos. Procurando fazer a cada dia um bocadinho melhor, com a certeza que amanhã vamos descabelar-nos na mesma, berrar e violar muitas das bonitas regras dos livros de psicologia infantil.
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Germanófila por educação, entranhou-se-lhe o método e uma certa ética alemã, além do gosto por Kartoffelsalat. Estudou para advogada e chegou a pensar que ia ser constitucionalista (se conseguisse sobreviver ao tédio que a toga lhe inspirava), mas viu a luz no jornalismo. 10 anos na economia, em que passou por vários títulos, deixaram-lhe o vício pelos números. No Expresso, onde editou a revista durante 7 anos, aprofundou múltiplos interesses, que vão da ciência à política.
Gadget freak, atenta às tendências globais, devoradora de revistas, esteta q. b.. Precisa de wireless como de água potável e destressa a cozinhar. Quatro filhos, um marido, um cão e uma pão de forma chamada Marisol. Sim, é loira, e então?
**Directora Adjunta
IN "VISÃO"
04/03/16
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