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Entrevista com Deus
- Balanço de 2013
Nota do Autor - Como todos os portugueses, vejo com algum receio o
ano que se aproxima. As previsões do ministro das Finanças e a leitura
de um fígado de um salmão não são inteiramente fiáveis. Por isso, nada
melhor que esquecer as previsões e passar, de imediato, para o balanço
de 2013, com a ajuda da Mão Que Tudo Embala.
Fiquem com uma entrevista exclusiva com Deus, e o nosso agradecimento ao Professor João César das Neves, que nos deu o contacto.
Negócios: Olá, Deus. Antes de mais, obrigado por ter aceitado o nosso convite para fazer um balanço do ano de 2013.
Deus:
O prazer é todo meu. Como criador de todo o Universo, e coordenador do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, sinto que é também
uma obrigação.
Negócios: Como deve saber, os portugueses, que restam, estão muito preocupados com o ano de 2013. Acha que têm razões para isso?
Deus:
O que eu posso afirmar é: a certeza de que Portugal é capaz de reformar
o Estado e as suas instituições; a certeza de que querem uma sociedade
mais justa do que foi até hoje; a certeza de que a vossa economia será
competitiva no mundo globalizado; a certeza de que os dias mais
prósperos e mais felizes do vosso País estão à vossa frente. Quando este
Governo tomou posse…
Negócios: Como?! Desculpe interromper, mas isso é o discurso que o primeiro-ministro fez no Natal.
Deus: Não é nada.
Negócios: É, sim senhor. Ele tem um estilo único - moralista e castigador - que o Senhor nunca conseguiria imitar.
Deus: Raios! Fui apanhado. Pensava que só eu é que tinha visto. Continuem a ouvir o que ele diz e depois queixem-se. Raio de azar.
Negócios: Mas, afinal o que é que se passa?!
Deus:
Eu confesso. A realidade é que, nos últimos tempos, não tenho prestado
grande atenção a Portugal. Tem havido uma certa falta de supervisão da
minha parte, mas tem uma explicação. Eu sou monárquico e, desde que
mataram Dom Carlos, fiquei chateado e deixei de me preocupar com o vosso
destino.
Negócios: Quer dizer que, desde 1 de fevereiro de 1908, nunca mais quis saber de nós?!
Deus: Exactamente .
Negócios: Mas… estão, porque é que ouviu o discurso do PM?
Deus:
Eu explico. Eu nunca mais pensei em vocês, até que, há coisa de um mês,
enviaram-me um "e-mail" com um vídeo do Marcelo Rebelo de Sousa sobre
Portugal e fiquei assustado. Estive para fazer o Marcelo subir ao Céu,
para me explicar melhor aquilo (que eu só vi a versão do youtube), mas,
como ele está sempre ocupado e há quem sinta a sua falta, achei que era
mais simples Deus descer à Terra. Por isso, na passada quarta-feira,
usei a minha autoridade e estive na RTP e pedi para ver os brutos do
discurso do PM.
Negócios: E o que é que achou?
Deus:
Pareceu-me que ele usa tinta no cabelo. E achei mal ele ter tirado o
burro e a vaca do presépio. Ele acata demasiado depressa as ordens que
vêm de alemães.
Negócios: Mas, se se interessou por Portugal, suponho que, entretanto, já saiba alguma coisa sobre o nosso futuro.
Deus: Sabe que a Humanidade é uma equipa e eu, como treinador principal, não gosto de personalizar.
Negócios: Está a fugir à questão…
Deus: Isso é impossível. Eu não posso fugir a uma questão, porque sou omnipresente.
Negócios: Isto era suposto ser um balanço sobre 2013 e até agora não nos disse nada.
Deus:
A culpa é sua que não me sabe espremer. Experimente pôr esta cabeleira
gigante, igual à da Felícia Cabrita, a ver se eu não lhe respondo tudo o
que lhe der jeito.
Negócios: Vou pôr… Está ao contrário. Assim pareço o irmão do Pinto da Costa Já está.
Deus: Fica-lhe bem. Agora, experimente pôr esta mini-saia que eu aqui trago…
Negócios: Chega! Diga-nos, por favor, alguma coisa sobre o nosso futuro!
Deus: Está bem, dona Felícia. Ora, Deus pode afirmar que vocês, no dia 23 de Setembro de 2013, vão regressar…
Negócios: aos mercados?!
Deus: Não. Posso afirmar que vocês, no dia 23 de Setembro de 2013, vão regressar ao dracma. Pimba! Que me diz a isto?
Negócios: Ao dracma?! Isso não faz sentido! O dracma é a antiga moeda da Grécia.
Deus:
Ui! Espera lá… Enganei-me. Portugal não é a Grécia. Eu faço sempre
confusão. Nunca me lembro disso. Que chatice. Trouxe o dossier do futuro
dos gregos para 2013 e deixei o vosso no carro.
Negócios: Então e agora?! Ficamos sem saber nada sobre o futuro do nosso país?
Deus:
Pois. Quer dizer, sabendo isto dos gregos, já podem ficar com uma ideia
do que vos vai acontecer. É fazer as contas… Se calhar até é melhor
assim.
Negócios: É duro pensar que 2013 vai ser apenas outra vez
mais do mesmo. O 2013 não traz nada positivo? Não há nada bom no mundo
que aí vem?!
Deus: Pelo contrário. Vêm lá grandes tempos! De fortuna, de progresso, de… sabe ler mandarim?
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
28/12/12
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