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IN "SETUBALENSE"
12/05/20
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Defender o SNS
da avidez dos privados
Todos sabemos que o SNS padece de um problema de saúde crónico. Chama-se desinvestimento e tem sido mantido governo após governo como parte de uma estratégia de desmantelamento do serviço nacional de saúde.
Sem SNS capaz de responder às necessidades está estendido o tapete aos
privados. Das gestões privadas dos hospitais públicos, às
contratuatalizações para internamento de doentes, passando pelos
cheques-cirurgia ou pelas centenas de milhões de euros em convenções
para meios complementares de diagnóstico e terapêutica, os privados têm
tido sempre a porta aberta ao lucro financiado por dinheiros públicos.
Conhecemos a narrativa: a gestão privada é que é, os privados têm
melhores equipamentos, instalações e até profissionais. Para o público, a
narrativa dos que vivem à custa do orçamento do SNS é, obviamente, a
oposta: faltam as instalações, os equipamentos, os profissionais, blá
blá blá.
Mas, entretanto, aconteceu uma pandemia. E o que se viu? Os
privados foram os primeiros a abandonar o barco e a fechar portas
enquanto nas TV’s asseguravam que ali estavam para o que fosse preciso e
a postos para ajudar incondicionalmente o combate à crise sanitária.
Claro que não tardou até esclarecerem que afinal, a “ajuda” era para ser
paga. O tratamento dos doentes com Covid19 teria de ser financiado pelo
SNS para compensar a perda de receitas que tiveram com a pandemia.
O que se viu, foi que quem assegurou, sem arredar pé, a prestação de
cuidados de saúde durante a pandemia, foi o serviço nacional de saúde
mesmo com os profissionais no limite das suas forças.
A diferença entre público e privado é cristalina: o público garante a
universalidade, trabalha para que todos tenham acesso aos serviços e
não deixa ninguém para trás. O privado trabalha para um único fim: a
acumulação de lucro.
Sem surpresa, os privados são novamente os primeiros da fila para
“ajudarem” o SNS a recuperar as consultas e cirurgias que foram adiadas e
que constituem agora uma exigência e esforço acrescidos. O governo já
anunciou, entretanto, a intenção de recorrer aos privados, pagando-lhes,
para recuperar esse atraso. No fundo, premiando-os por não terem feito
nada para ajudar.
Esta estratégia é profundamente errada e é também uma afronta aos
milhares de profissionais do SNS, dos médicos aos auxiliares de saúde,
dos enfermeiros aos técnicos de diagnóstico e terapêutica, dos
administrativos aos assistentes operacionais, que estiveram na linha da
frente arriscando a sua própria segurança e das suas famílias.
O que deve ser feito agora é reforçar o SNS porque já sabemos que em
tempos de aflição é só com ele que podemos contar. Para isso é essencial
a contratação definitiva de todos os profissionais de saúde contratados
temporariamente para responder à pandemia; a manutenção da autonomia
das instituições para contratação e aquisição de bens e serviços; o
financiamento necessário para que seja o SNS a assegurar os meios
complementares de diagnóstico e terapêutica; aumento do horário de
funcionamento dos serviços e blocos operatórios; a criação de uma rede
dedicada à COVID-19, garantindo o contínuo acesso de todos os
profissionais a equipamentos de proteção individual, a subsídio de risco
e ao reconhecimento automático dos casos de profissionais contagiados
com Covid19 como doença profissional; o reforço das linhas de apoio para
a Saúde Mental e o financiamento necessário à implementação do Programa
Nacional de Saúde Mental.
Defender o SNS da avidez dos privados é o que garante que qualquer
pessoa tenha acesso aos serviços de saúde de que necessita. E isso não é
coisa pouca.
IN "SETUBALENSE"
12/05/20
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