09/03/2016

MANUEL ANTÓNIO ASSUNÇÃO

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Crise dos refugiados? 
             De quem?

No final do mês passado, teve lugar na Universidade de Aveiro uma sessão da Plataforma de Apoio aos Refugiados. Tratou-se de um evento muito participado, incluindo um elevado número de instituições sociais da região que demonstraram estar preparadas, há já bastante tempo, para apoiar, acolher e integrar os refugiados. Está assim demonstrada, se necessário fosse, a generosidade abundante de larguíssimos setores da sociedade portuguesa. Então, onde está o problema?
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O problema está em que, enquanto 160 000 pessoas se amontoam na Grécia e em Itália, não há refugiados para acolher! Porque, apesar da esmagadora maioria dos cidadãos europeus apoiar uma distribuição equitativa que envolva todos os países, assiste-se a um impasse geoestratégico da União, com o autoritarismo a tomar conta de alguns países do Leste, esquecidos dos valores democráticos e de como foram ajudados ainda há bem menos de um século em circunstâncias comparáveis. A Europa continua a agir por reação: aqui, como na crise financeira, como na crise securitária superveniente ao fenómeno a que estamos a assistir. Por reação e sempre tardia!

Deixamos que o nosso território comum europeu se afunde, de um modo crescente, nas suas contradições, enquanto outros arriscam a vida para vir viver connosco. Os refugiados esperam recolocação por tempos incomensuráveis enquanto poucos minutos separaram a decisão do Parlamento britânico e o bombardeamento da Síria. E o Líbano, país com muitas dificuldades, acolhe um imigrante por cada três libaneses! Exemplos, entre muitos outros, que nos têm de envergonhar.

Escrevo, também, num dia de cimeira com a Turquia muito importante para a Europa. Seria bom que conseguíssemos reduzir o que nos divide e encontrar denominadores comuns, permitindo que as conquistas dos últimos 60 anos sejam preservadas. Seria fundamental que a política de braços abertos e o valor da solidariedade falassem mais alto. Porque a crise não é, obviamente, dos refugiados; é da Europa.
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Seria fundamental que a política de braços abertos e o valor da solidariedade falassem mais alto. Porque a crise não é, obviamente, dos refugiados; é da Europa.

* Reitor da Universidade de Aveiro

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
08/03/16

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