HOJE NO
"PÚBLICO"
Antiga ministra da Justiça de Timor admite processo contra juízes portugueses
A ex-ministra timorense da Justiça Lúcia Lobato, condenada em 2012
por participação económica em negócio, disse esta terça-feira à Lusa que
vai estudar a hipótese de avançar com um processo judicial contra dois
juízes portugueses que podem ter prejudicado o seu caso.
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O
semanário Expresso noticiou no passado sábado que o Supremo Tribunal de
Justiça (STJ) português anulou uma pena de 40 dias de suspensão que o
Conselho Superior da Magistratura (CSM) tinha aplicado à juíza Margarida
Veloso, uma antiga inspectora judicial em Timor que denunciou e acusou
dois colegas portugueses de manipular e influenciar o processo judicial
que levou à condenação a uma pena de prisão de Lúcia Lobato.
"A
recorrente (Margarida Veloso) denunciou factos notoriamente integrantes
de graves ilegalidades e irregularidades procedimentais susceptíveis
de, no mínimo, serem causa de grave prejuízo para a arguida Lúcia
Lobato", refere o acórdão do conselheiro Oliveira Mendes, divulgado pelo
semanário, referindo-se à actuação de Rui Penha e Cid Geraldo, dois
desembargadores colocados em Timor e alvo das denúncias da juíza.
Margarida
Veloso fora alvo da pena de suspensão por denunciar ao CSM que os
juízes em causa, que mantiveram a condenação da ex-ministra timorense,
não foram isentos, citando um email em que um deles se congratula com a
decisão.
Recorde-se que Lúcia Lobato foi condenada em
2012 a cinco anos de prisão por participação económica em negócio por
prejuízo ao Estado timorense de 4.200 dólares, tendo recebido a 30 de
Agosto de 2014 um indulto do Presidente timorense, Taur Matan Ruak.No
entanto, um pedido de "habeas corpus" (libertação imediata) foi
rejeitado pelo Tribunal de Recurso.
"Fui informada da
notícia [do Expresso], mas ainda estou à espera de receber o acórdão do
STJ para que o analise em detalhe com os meus advogados. Naturalmente
que vou estudar a possibilidade de avançar com processos contra os
juízes", disse à Lusa Lúcia Lobato
"O Tribunal Supremo
português não se pronunciou sobre os factos, mas confirmou que o meu
processo estava errado, que os juízes não aplicaram a lei como deve ser.
Isto é um facto que devo considerar muito seriamente", afirmou.
Lúcia
Lobato considera que a decisão do STJ português confirma o que sempre
disse: "eu não fui julgada por magistrados, fui julgada por mafiosos e
como timorense não admito e nunca admitirei isso".
"A
justiça deve ser administrada por juízes com capacidade e isenção. Eu só
peço justiça e que o tribunal julgue e se pronuncie e se alguém tiver
sido culpado que seja condenado", afirmou.
Lobato
considera que a decisão do STJ não a surpreende e que vem confirmar o
que sempre disse, que o seu processo "não estava a ser bem conduzido",
reafirmando a sua convicção de inocência.
"Não cometi
nenhum crime e recebi aquela condenação. E quando recebi a denúncia da
juíza Margarida Veloso fizemos uma queixa contra esses dois juízes
portugueses, a juíza timorense Natércia Gusmão e o juiz Luis Goia, mas a
queixa foi arquivada em tempo recorde. Em apenas duas semanas, um
recorde para Timor", afirmou.
"O recurso que fiz sobre
esse arquivamento ao Procurador-Geral da República, em 2013, ainda nem
sequer teve resposta", afirmou. Recorde-se que na queixa que apresentou
ao CSM em Fevereiro de 2013, Margarida Veloso considera que as decisões
relativas a este processo "padecem de erros jurídicos susceptíveis de
contender com a Justiça, no caso concreto, e com o sistema de justiça no
seu todo".
A ex-inspectora relata que, após a decisão
sobre o pedido de ‘habeas corpus’, recebeu um email de Rui Penha, que
conjugado com o teor das decisões tomadas no caso Lúcia Lobato, a levam a
concluir que "a independência dos tribunais" de Timor-Leste "pode ser
posta em causa".
Margarida Veloso alertava na sua
queixa que, atendendo aos factos referidos no email, um dos juízes
internacionais do caso (também identificado na denúncia) decidiu a
desfavor da antiga ministra sob ameaça de não ver o seu contrato
renovado.
Segundo factos relatados, a ameaça de
não-renovação do contrato terá partido de uma magistrada timorense,
Natércia Gusmão (actual presidente em funções do Tribunal Supremo), caso
este decidisse a favor da libertação de Lúcia Lobato, através da
aceitação do pedido de 'habeas corpus'.
"Convém frisar
que a gravidade dos factos não se circunscreve ao caso concreto, e
muito menos por a arguida ter sido uma destacada figura do anterior
Governo de Timor Leste, mas porque compromete de forma irremediável o
sistema judicial no seu todo, sobretudo num país em que o sistema de
justiça está numa fase embrionária e de consolidação", refere a carta
enviada ao CMS a que a Lusa teve acesso na altura. Há dois anos, esta
questão e a expulsão de juízes e funcionários judiciais portugueses de
Timor, motivou a suspensão da cooperação judicial entre os dois países.
* Não nos interessa quem tem razão mas a confiança na justiça fica abalada.
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