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HOJE NO
"JORNAL DE NOTÍCIAS"
Grupo de 25 militantes do Bloco
abandona o partido
Um grupo
de 25 militantes do Bloco do Esquerda (BE), entre os quais dois irmãos
do ex-coordenador bloquista Francisco Louçã, decidiram desvincular-se do
partido, descontentes por "pouco" restar do seu "projeto original de
ser uma força política em alternativa à sociedade existente".
Numa
carta enviada esta terça-feira à Mesa Nacional do BE, inicialmente
noticiada pelo jornal i e entretanto divulgada nas redes sociais, os
agora ex-militantes justificam a sua tomada de posição com a
impossibilidade de "ignorar o caminho de institucionalização dos últimos
anos que transformaram o partido, de instrumento de luta política, num
fim em si mesmo".
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"O
taticismo de decisões, o jogo da comunicação na sua forma burguesa, a
ausência de qualquer ativismo local inserido numa estratégia de
construção do partido, a progressiva ausência de pensamento crítico
acompanhada pela hostilização da divergência interna e profundo
sectarismo com outras forças de esquerda, transformaram o Bloco de
Esquerda num projeto reformista centrado na sua sobrevivência",
acrescentam os signatários, que criticam a reação do partido aos
"incidentes" recentemente registados no Bairro da Jamaica, no concelho
de Seixal.
A 20 de janeiro, cinco
moradores daquela urbanização precária e um agente da PSP ficaram
feridos na sequência de uma intervenção policial, parcialmente gravada
em vídeo, que culminou com acusações de racismo e violência excessiva
por parte das autoridades. O episódio foi prontamente criticado no
Twitter pela deputada bloquista Joana Mortágua, mas acabou por ser
Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo e assessor parlamentar do BE, a
ganhar destaque, com uma publicação no Facebook, na oposição à atuação
da PSP.
"É esse taticismo que justifica
a posição tíbia a propósito dos incidentes recentes no Bairro da
Jamaica no Seixal ou o desconforto sentido por ter sido um seu militante
e assessor, Mamadou Ba, que protagonizou a denúncia de serem as forças
policiais responsáveis por um racismo sistémico dirigido contra
africanos e afrodescendentes dos bairros pobres. Ao ocultar esse racismo
sistémico das forças de segurança e dos agentes do Estado, o Bloco
coloca-se no lado errado do combate antirracista e perde espaço junto de
uma geração que perdeu o medo e que trava os combates decisivos do
nosso tempo", lê-se na missiva.
Em ano
de eleições europeias e legislativas - agendadas, respetivamente, para
26 de maio e 6 de outubro - os agora ex-militantes bloquistas contestam
ainda o apoio do BE "a um governo que perpetua a austeridade" e
sublinham que, depois de contados os votos, "o país continuará
profundamente desigual, a precariedade continuará a crescer nas relações
de trabalho, o capital a ser um instrumento da sua própria acumulação".
"A
esquerda que varreu o projeto revolucionário para debaixo do tapete,
numa tentativa de ganhar respeitabilidade, não será assim tão diferente
da esquerda que dele abdicou há muito. As duas convergem no conformismo
fatalista que transforma o capitalismo no único sistema possível e a sua
alternativa socialista em utopia alucinada. Pela nossa parte,
continuaremos o combate, pelos meios ao nosso alcance, para uma
alternativa que não se limite a gerir o sistema existente, mas que
procure os caminhos para sua superação revolucionária. Para nós, a
militância no Bloco de Esquerda acabou.
Começamos de novo quando ainda
está tudo por fazer", concluem os signatários.
Contactada pelo JN, fonte oficial do BE escusou-se a comentar esta tomada de posição.
* Sem comentário e aguardamos que o tempo nos revele as consequências.
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