HOJE NO
"OBSERVADOR"
FMI pinta retrato negro
da banca portuguesa
Relatório de estabilidade financeira diz que banca nacional está entre as piores europeias no malparado, rácios e rentabilidade. E avisa para impacto orçamental significativo de mais apoios à banca.
Os mais baixos rácio de capital, ao lado dos bancos italianos, uma
das maiores exposições ao crédito malparado e uma das rentabilidades
mais baixas na União Europeia.
Esta é a descrição desanimadora
que o Fundo Monetário Internacional (FMI) faz da banca portuguesa no
relatório de estabilidade financeira, divulgado esta quarta-feira.
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O
retrato do FMI é feito a partir dos números relativos ao primeiro
trimestre do ano que apontam para um rácio médio de capital de maior
qualidade (Core Tier 1) de 11,4%, um nível de incumprimento de crédito
de 15,7% e um retorno negativo dos ativos dos bancos — de 2,5% — e do
capital (investimento dos acionistas) — de 0,2%. Os números servem para
sustentar o alerta do Fundo:
"Os passivos contingentes que resultarão dos apoios públicos ao setor bancário podem ter um impacto significativo na posição orçamental portuguesa, elevando o risco de um ciclo vicioso adverso que envolva bancos e dívida pública.”
Desde o primeiro
trimestre foram conhecidas as necessidades de recapitalização da Caixa
Geral de Depósitos, cujo plano prevê um reforço de 5.160 milhões de
euros, numa dimensão que fez levantar o receio de que outros bancos irão
também precisar de capital adicional.
A referência ao setor
bancário português surge depois de uma análise à resposta italiana de
criação de um veículo para gerir ativos problemáticos das instituições
locais — uma solução que Portugal também quer aplicar, mas que tem de
passar no apertado crivo das ajudas de Estado da Comissão Europeia — e
às falhas de capital detetadas nos testes de stress ao Monte dei Paschi
di Siena, o banco mais antigo do mundo que anunciou logo a realização de
um reforço de capitais.
Relatório não refere Deutsche Bank
O documento que avalia a saúde do setor financeiro a nível mundial e
os seus principais riscos é contudo omisso em relação ao Deutsche Bank,
que o próprio FMI sinalizou num
outro documento — Programa de Avaliação ao Setor Financeiro, divulgado
no final de junho, como o banco sistémico que representava o maior risco
para o sistema financeiro mundial.
O maior banco alemão voltou
recentemente a despertar os nervos nos investidores, na sequência da
notícia de que os Estados Unidos estavam a preparar a aplicação um multa gigantesca contra a instituição.
Perante
os desafios do sistema bancário europeu, entalado entre um nível
excessivo de crédito malparado e rentabilidades esmagadas pelas baixas
taxas de juro e pela banca digital, o FMI apela a uma solução europeia que permita remover os ativos de má qualidade dos balanços dos bancos,
com um custo menos elevado do que o atual. Esta solução, combinada com
reformas para acelerar os processos de insolvência e reduzir o risco de
investimentos em crédito malparado, poderia potencialmente aumentar em
20% o preço que os terceiros estariam dispostos a pagar por esses
ativos.
Uma análise simples ao impacto das reformas defendidas
pelo Fundo para resolver o problema dos empréstimos de má qualidade
indica que seria possível passar de perdas de 85 mil milhões de euros em
capital regulamentar para um reforço de 64 mil milhões de euros.
O FMI indica ainda que existe muita margem para melhorar a performance operacional dos bancos europeus, em particular via a racionalização da rede. Há cada vez mais responsáveis do setor a alertar para o excesso de bancos e de banca no mercado europeu.
Sobre as ameaças ao sistema financeiro mundial, o FMI faz um diagnóstico ambivalente. Por um lado, os riscos atenuaram-se no curto prazo, mas subiram no médio prazo.
A
evolução positiva no imediato deve-se à recuperação dos preços das
matérias-primas, em particular do petróleo, a algum ajustamento nos
mercados emergentes e a um alívio das preocupações com o crescimento na
China. E mesmo o efeito choque do Brexit, depois de conhecido o
resultado do referendo britânico à saída da União Europeia, já foi
suavizado após o pânico inicial nos mercados.
Já os riscos a médio
prazo estão a subir, devido a um cocktail que resulta da travagem do
crescimento das economias e da perspetiva dos mercados de que os tempos
de inflação e juros baixos são para continuar.
O FMI alerta ainda para o
clima de incerteza política em muitos países e para o aumento das
desigualdades que estão a dar força a movimentos populistas e a políticas de olhar para dentro.
São desenvolvimentos que podem tornar ainda mais difícil a resposta
política e das instituições monetárias, expondo as economias e os
mercados a choques adicionais e reforçando os riscos de deslizamento
para a estagnação económica e financeira.
* O FMI é cada vez mais uma organização serventuária dos donos do dinheiro e cada vez menos uma instituição séria.
Estranhamos:
- Ausência de comentário à crise vigárica do Deutsche Bank.
- Que não tenha referido sobre a situação grave da banca portuguesa que esta se deve principalmente às trafulhices de banqueiros, políticos e altos funcionários da Administração Pública.
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