.
Um copo de vinhoao final da tarde?
Se olharmos com atenção surgem nos nossos bairros e avenidas,
mercearias, bares de petiscos e lojas de vinho, todos com sugestões de
vinho a copo e alguma coisa para picar quando o sol se põe.
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, já dizia Luís de Camões. Alteram-se os hábitos, procuram-se novas dinâmicas e rotinas, é mesmo assim a vida. Por vezes vamos muito a um sítio ou estamos com determinadas pessoas e depois por alguma circunstância deixamos pura e simplesmente de passar por ali. De repente as pessoas em Portugal começaram a descobrir os finais de tarde e a aproveitá-los de forma bem diferente. Talvez por influência da diversidade cultural que se sente ou apenas porque se adoptam cada vez mais estilos de vida saudáveis onde se privilegiam os sonos e se respeitam as manhãs. Na nossa vizinha Espanha, por exemplo, é hábito há muito instituído e em Inglaterra também, ir beber um copo com amigos ou colegas de trabalho assim que finda o serviço. É uma forma de descontrair, de limpar um pouco a cabeça e de conseguir desligar do esforço diário, de rentabilizar melhor os dias e de lhes dar um pouco de animação.
Em Lisboa é por isso cada vez mais frequente vermos gente nas ruas e passeios da cidade a usufruir de uma bebida e a confraternizar. Para isso muito ajudou a renovação dos quiosques que sofreram uma lavagem e se transformaram para dar uma nova oferta aos turistas e aos locais. Assim como qualquer reflexo natural da lei da oferta e da procura surgem novos e diferentes espaços que oferecem soluções para estes novo público alvo. Se olharmos com atenção surgem nos nossos bairros e avenidas, mercearias, bares de petiscos e lojas de vinho, todos com sugestões de vinho a copo e alguma coisa para picar quando o sol se põe. Na zona de Campo de Ourique, Amoreiras e São Bento parecem nascer como cogumelos e como costumo frequentemente andar por ali a pé, não deixo de notar com curiosidade que os mesmos estão sempre cheios, com os lugares sentados todos ocupados e gente de pé.
Na Rua João Anastácio Rosa que dá para o Jardim da Estrela, ao lado do antigo Outro Tempo Bar, existe agora um bar de vinhos chamado Pinot. É propriedade de uns canadianos, apaixonados pela bebida, tem petiscos diferentes todas as semanas e pouco se ouve falar português, tal é a mescla de nacionalidades que o procura. Se seguirmos nessa rua e descermos até São Bento, mais propriamente a meio da Rua de Santo Amaro, é a vez do Senhor Uva, mais um Wine Bar como o próprio nome indica. Este tem a particularidade como consequência do sucesso ter aberto também do outro lado da rua. Assim, é natural que se por ali passar, ver um empregado a levar petiscos de um lado para o outro. Saladas e pratos mais saudáveis com um toque de requinte e bons vinhos que lhe dão alma e uma boa energia. É também muito procurado por estrangeiros que aliás invadiram esta zona da cidade, sobretudo os franceses.
Na Artilharia 1, junto ao famoso restaurante italiano Trattoria, é a vez da Mercearia Pachecas. Por ali pode encontrar legumes e fruta fresca, comprar diversos produtos artesanais ou fazer mesmo o seu pequeno evento. Uma das grandes apostas é o vinho a copo ao final de tarde que pode acompanhar com excelentes tábuas de queijos e enchidos ou sanduíches bem agradáveis. O que têm em comum estes três espaços? Cada vez que passo por qualquer um deles estão cheios. Gente de copo na mão, sorrisos e bons finais de tarde. Essa é a nova tendência de quem não abdica de viver e até ajuda a evitar o trânsito de regresso a casa!
* Economista. Gestor de conteúdos.
IN "iN" - 08/05/25
NR: Fantástico Melga, há bares para os sem abrigo beberem um copito e morfarem umas tapas? Este país do copito ao final da tarde é o país real, é o país do qual interessa falar e sopram depois no balão ou há tolerância?.
Sem comentários:
Enviar um comentário