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Quo vadis Angola?
Chegados aos 45 anos da independência de Angola, que caminhos o futuro nos reserva? Coube-me o desafio de apontar perspectivas e fazer um pouco de “futurologia”.
Não seria justa se dissesse que 45 anos depois nada mudou, mas se questionar a minha mãe e todos os da sua geração dir-lhe-ão que não foi com esta Angola que sonharam e que esperavam outras condições de vida para os seus concidadãos.
Somos actualmente 30,81 milhões de habitantes, aqueles que constam dos censos porque têm documentação, e maioritariamente jovens. Há mais de um milhão e trezentas mil crianças fora do sistema de ensino precisando este de 6.000 escolas e 40.000 novos professores; a população inactiva com mais de 15 anos aumentou 14,3%, o que equivale a 257.350 pessoas e a 4,7 milhões de desempregados.
Necessitamos de uma melhoria do serviço de cuidados primários de saúde com a criação de mais unidades de atendimento nas comunidades, o reforço da monitorização de grupos vulneráveis como mulheres e crianças, apoio nutricional, um bom plano de vacinação e um suporte durante a gravidez e parto.
No que diz respeito à habitação, até à data, dos 164 municípios foram abrangidos 130 e das 26 mil habitações apenas construídos 12 mil fogos, contando o país com 31 centralidades.
As mulheres são as que mais se formam, mas os cursos escolhidos pelos jovens são maioritariamente de Ciências Sociais, representando aproximadamente 35%.
Segundo dados de 2017, 500 mil cidadãos procuraram os centros urbanos sendo o PIIM – Programa Integrado de Intervenção dos Municípios, criado este ano, uma solução possível para o êxodo rural, pois um grande número destas pessoas vai engrossar a taxa de 60% da população que subsiste graças ao mercado informal.
Mediante este cenário, quo vadis Angola?
Acredito que o caminho passe por uma mudança que leve a uma melhoria da capacidade de gestão e governança assente em princípios éticos e na consciência da responsabilidade e papel de servir. Uma melhoria tecnológica, financeira, contabilística e comportamental, práticas e programas para diminuir a iniquidade, a falta de emprego, assim como para aumentar o fornecimento de serviços básicos como água ou energia.
Encontramo-nos na posição 149 do Índice de Desenvolvimento Humano numa lista de 189 países, temos um sector público grande e envelhecido e outros sectores sem desenvolvimento, um ambiente de negócios difícil e continuamos “petrodependentes”…
O caminho terá de passar por uma aposta na educação e formação, com a abertura de mais centros de formação profissional, pela criação de uma relação entre estes e as empresas, por uma capacitação dos docentes universitários para que tenhamos mais mestres e doutores e um aumento da investigação científica. A par de programas governamentais de apoio ao empreendedorismo e apoio do sistema bancário para a concessão de crédito.
Penso que 45 anos após a independência precisamos de reencontrar-nos e redesenhar o nosso sentido de pertença, pois só conscientes dos enormes desafios que enfrentamos mas com vontade de alterar o presente poderemos ter um futuro diferente.
Estarei a ser utópica?
* Licenciada em história
IN "O JORNAL ECONÓMICO" - 07/11/20
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