11/06/2020

LISA RICE MADAN

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Um aliado 
em tempos conturbados

Nos últimos anos temos assistido a múltiplas crises globais com grande impacto nas relações internacionais. No entanto, encontramo-nos neste momento no meio de uma das mais assustadoras: a pandemia de covid-19. Para além da perda de vidas humanas e alterações aos estilos de vida, o vírus põe também em causa a ordem internacional.

A crise é de facto não só o maior teste à moderna arquitetura mundial como também a oportunidade mais flagrante para demonstrar que apenas através de uma colaboração global organizada poderemos vencer esta ameaça comum e reconstruir um mundo melhor.

Os efeitos desta doença puseram em evidência as desigualdades inerentes que habitam as nossas sociedades.

Neste contexto, neste mês de junho, os membros das Nações Unidas planeiam eleger os assentos não permanentes do Conselho de Segurança para o período de 2021-2022. O Canadá está a competir por um dos lugares. Caso sejamos eleitos, identificámos cinco prioridades para o nosso mandato: promover uma paz sustentável, fazer face às alterações climáticas, promover a segurança económica e reforçar a igualdade de géneros e o multiculturalismo.

O Canadá é o único candidato que colocou a segurança da economia como tema central da sua candidatura ao Conselho de Segurança. Aliás, durante os últimos quatro anos, o Canadá tem lutado por um crescimento mais inclusivo através do Grupo de Amigos para o Financiamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que fundou com a Jamaica. Temo-nos empenhado para superar o fosso entre os investidores do setor privado e os ministérios das Finanças em todo o mundo, alavancando o potencial económico das nações em desenvolvimento.

O governo canadiano compreende que a paz requer oportunidades económicas para impedir conflitos e manter tréguas frágeis. O primeiro-ministro do Canadá Justin Trudeau fez desta a pedra angular da sua presidência do G7 em 2018.

Presentemente, face a uma pandemia, o Canadá desdobra-se em esforços para atender a necessidade de alívio da dívida e assegurar as cadeias de abastecimento e a segurança alimentar. Assim sendo, de forma a responder à crise, o Canadá anunciou uma contribuição de 850 milhões de dólares canadianos [cerca de 560 milhões de euros] para apoiar os esforços globais no combate à covid-19 e um donativo de 600 milhões de dólares canadianos para a investigação de uma vacina através da Gavi, The Vaccine Alliance. No dia 28 de maio, o primeiro-ministro Trudeau, o seu homólogo jamaicano Andrew Holness e o secretário-geral das Nações Unidas António Guterres convocaram uma reunião extraordinária de alto nível para encontrar respostas à devastação económica causada pela pandemia covid-19.

Para além disso, o Canadá não se esqueceu dos demais desafios globais que o mundo enfrenta. Contribuiu igualmente com 47,5 milhões de dólares canadianos [31 milhões de euros] para a erradicação da poliomielite e 306 milhões de dólares canadianos [200 milhões]para apoiar as agências das Nações Unidas e as organizações da sociedade civil na assistência humanitária aos mais vulneráveis.

O Canadá e Portugal são aliados naturais. A visita que o primeiro-ministro António Costa realizou ao Canadá em maio de 2018, acompanhado por uma delegação política e empresarial, evidenciou os nossos interesses, princípios e valores comuns. Preocupamo-nos com os mesmos assuntos e eu espero sinceramente que as nossas cinco prioridades encontrem eco em Portugal. Aqueles de nós que acreditam na extrema importância da cooperação internacional na promoção de prosperidade, segurança e direitos humanos básicos devem unir-se e trabalhar afincadamente de forma a assegurar que as instituições que sustentam a ordem internacional assente em regras se adequem às exigências do século XXI.

O Canadá tem um historial comprovado nas áreas prioritárias da sua candidatura. Presidimos à Comissão de Paz das Nações Unidas e somos membro ativo da Aliança para o Multiculturalismo e do Grupo Lima para restaurar a democracia na Venezuela. Lideramos um grupo de membros da Organização Mundial de Comércio, conhecido por Ottawa Group, para solucionar alguns dos desafios que colocam o sistema de comércio multilateral sob pressão. Encabeçamos os Vancouver Principles para a proteção de crianças em conflitos armados e a Iniciativa Elsie para mulheres em operações de paz. Lançámos também a Ocean Plastic Charter durante a nossa presidência do G7 porque julgamos fundamental proteger os oceanos a nível global.

O Canadá é uma jovem nação multicultural que, em certa medida, serve de espelho do mundo; em parte, fruto dos 500 mil cidadãos de descendência portuguesa. Temos a humildade de ouvir e comprometemo-nos a representar um vasto leque de pontos de vista à mesa do Conselho de Segurança. Juntos, deixando ninguém para trás, uniremos forças para construir um sistema global pós-covid-19 que esteja mais bem preparado para servir todos os países. Unidos podemos tornar o mundo mais pacífico, inclusivo e sustentável.

* Embaixadora do Canadá em Portugal

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
06/06/20

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