Foram as algas
E as
folhas no caminho. Foi com uma combinação de factores externos que
Fernando Pimenta, campeão europeu de canoagem, justificou o 5.º lugar na
final de K1 1000 metros antes de baixar o pano verde e amarelo nos
Jogos Olímpicos. Após a prova, interrompeu o choro de desânimo pela
necessidade de explicar e logo muitos saltam do sofá onde permaneceram
enfiados todo o ano para confundir explicação com justificação. Mas
Fernando Pimenta, como tantos outros que se "limitaram" a terminar
provas entre os dez primeiros à escala planetária, não tem de se
justificar. Sinal dos tempos, muitos dos "desfazedores" de personalidade
profissionais das redes sociais não conhecem outra profissão. Não
percebem a relevância dos obstáculos inesperados, mas não resistem a
retirar do baú o seu passado de prática desportiva durante dez
intermitentes meses na escolinha de futebol do tio ou dos saltos para a
água a que não têm coragem de chamar mergulhos na piscina de verão que
até aparentava ter dimensões olímpicas. É só ler o mundo pelo feed para
ir fundo. Parece que todos, sem excepção, estão sujeitos à crítica.
Menos os críticos.
No dia em
que um radialista não se queixar do ruído que lhe aparece na via no
momento do directo, talvez compreenda. No dia em que um artista não
lamente o desequilíbrio do som de palco e o feedback inesperado, também.
Na ocasião que não faça o ladrão queixar-se da velocidade do veículo
policial ou o agente da autoridade censurar o custo das tão antigas
fardas, tremo. Quando todos os "desfazedores" pararem de lamentar o jogo
de sorte e azar das circunstâncias da sua vida e fizerem soar as
trombetas que anunciam o fim das suas reivindicações por melhores
condições de trabalho, aí talvez perceba. Até lá continuarei a pensar
que os pormenores fazem a diferença em competições de atletas ao mais
alto nível e que as algas e as folhas podem ter tanta importância no
sucesso da prova de um canoísta como o ruído tem influência no insucesso
da entrevista. Ou a qualidade técnica num espectáculo ou o equipamento
do veículo na rendição ou no assalto. É mesmo um assalto de carácter
zurzir em atletas por não conseguirem medalhas. Como se não tivessem
sido capazes, na esmagadora maioria dos casos, de dar o que já é imenso.
Como
tal, desporto escolar e infraestruturas, cultura desportiva e menos
patriotismo bacoco ao sabor do medalheiro. Com uma medalha da brava
Telma no coração, fiquei a contar quantos dos "desfazedores" estão no
top 100 das suas profissões à escala planetária. É uma conta certa,
juro. Não duvido que os objectivos do Comité Olímpico de Portugal foram
irrealistas ou demasiado ambiciosos. Mas no ano em que conseguimos a
nossa segunda melhor pontuação olímpica de sempre, espanta-me como o
desporto preferido de tantos não é o futebol mas antes o jogo da
sardinha. Só parece haver duas opções: acertar ou levar.
O autor escreve segundo a antiga ortografia
* MÚSICO E ADVOGADO
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS
24/08/16
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS
24/08/16
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