IRS vai mudar radicalmente em 2015?
O período de consulta pública do
anteprojecto da reforma do IRS termina amanhã. O Governo vai depois
decidir quais as propostas que quer implementar e tentar o consenso
político.
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O IRS do próximo ano deverá trazer novidades importantes
para os contribuintes. O Governo quer reformar o imposto sobre as
famílias em 2015 e para isso nomeou uma comissão que propõe alterações
profundas ao imposto.
Se as todas as propostas forem adoptadas, os
contribuintes podem contar com
alterações radicais no IRS.
Algumas das medidas mais emblemáticas são a consideração de todos os
membros da família no cálculo do imposto e não apenas do estado civil do
contribuinte (casado ou solteiro) e a introdução de um valor fixo nas
deduções à colecta.
Na prática, se esta medida for acolhida pelo
Executivo, as deduções com as despesas de saúde, educação, casa, entre
outras deixam de existir e os contribuintes passam a ter um montante
fixo que no máximo poderá ser de 331 euros. A possibilidade de os casais
casados entregarem a sua declaração de IRS em separado e a recomendação
para reduzir a sobretaxa são também das alterações que se destacam.
O anteprojecto da reforma está em consulta pública até amanhã,
passando, a partir de 1 de Outubro, para as mãos do Governo a tarefa de
analisar e decidir quais as medidas que irá aplicar. Um dos objectivos
do Executivo será depois tentar o consenso político com a oposição,
nomeadamente com o PS como aconteceu com a reforma do IRC feita no ano
passado. No entanto, desta vez, a meta pode ser dificultada pelo momento
político que o PS atravessa - a discussão será feita já depois das
primárias para eleger o líder do partido socialista - e cerca de um ano
antes das eleições legislativas, que estão agendadas para Outubro.
Mas nem todas estas propostas da comissão reúnem consenso quer entre
especialistas quer no seio do Governo. A redução da sobretaxa, por
exemplo, tem sido objecto de sinais contraditórios da parte do Governo. O
CDS já, por várias vezes, afirmou que em 2015 deveria ser dado um sinal
de alívio da carga fiscal, mas, do lado do PSD, o discurso é mais
cauteloso.
Em entrevista ao Diário Económico, o ministro da Economia,
Pires de Lima reconheceu que "todos temos consciência que quem vive do
seu trabalho hoje paga um nível de impostos enorme, mesmo para
rendimentos medianos", e acrescentou que "seria desejável que a reforma
do IRS se inicie em 2015", embora não queira assumir uma posição
definitiva antes do Orçamento do Estado para o próximo ano. Já a
ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, tem tido um discurso mais
recuado em relação à descida deste imposto, fazendo-o depender da
margem orçamental.
Da parte dos fiscalistas esta medida reúne consenso, na medida em que
é considerada um dos elementos mais distorcivos do IRS como imposto e
peca por ser apenas uma recomendação e não uma proposta concreta como já
frisou a fiscalista Anabela Silva, da consultora da EY, o que pode
prejudicar a sua concretização. "Estamos perante uma recomendação e não
uma proposta de alteração, não sendo adiantadas pela comissão propostas
concretas nesta matéria, contrariamente ao que seria de esperar".
A
recomendação fica também "bastante aquém das propostas constantes da
reforma fiscal espanhola que propôs uma descida acentuada das taxas de
tributação, para os vários escalões de rendimentos (prevendo o Governo
Espanhol uma descida de 12,5% em termos médios)".
Menos consensual é a proposta para as deduções fixas. O fiscalista
Samuel Fernandes de Almeida, por exemplo, discorda "frontalmente da
solução", porque "a simplificação do sistema não pode justificar a
possibilidade de dedução de encargos não suportados" É que o montante da
dedução pode ir até aos 331 euros e será a regra para todos os
contribuintes, que não precisam de apresentar facturas. Para Fernandes
de Almeida "este sistema coloca em crise a efectiva personalização do
imposto e a consideração da situação de cada agregado".
A introdução de um quociente familiar, em que o rendimento bruto é
dividido pelo número de membros do agregado familiar e não apenas por
dois (caso o contribuinte seja casado) e a tributação separada dos
casais são mais unânimes. Esta última chegou mesmo a ser admitida pelo
secretário de Estado dos Assuntos Fiscais antes de a comissão ser
nomeada.
* Atenção que vem aí mais um imposto que pintaram de verde para nos enganar.
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