18/10/2022

JOÃO GONÇALVES

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Medina revisto 
e aumentado

Fez agora mais ou menos um ano que Fernando Medina perdeu a Câmara de Lisboa. Na última encarnação como edil, António Costa transportou-o para "número dois", embora o efectivo acabasse por ser o arquitecto Manuel Salgado, de má memória.

Costa saiu para o PS e entregou o múnus municipal a Medina. Medina não esteve, primeiro, à altura da maioria absoluta do antecessor nos Paços do Concelho. Por fim, acabou a ter de largar a Câmara para Moedas. Ter constituído Salgado o seu segundo real, embora Duarte Cordeiro ocupasse esse lugar, não o ajudou. E uma infinita arrogância também não. 

Eis que, por eleição antecipada, Costa formou um terceiro Governo com maioria PS. O luto político de Medina encurta-se inesperadamente. É colocado em sexto na hierarquia política do executivo, embora seja o ministro das Finanças. Tem à frente dele criaturas "neutras" como as senhoras da Defesa e da Justiça, caciques vulgares e ambiciosos como o da Administração Interna, e formiguinhas porta-estandartes como Mariana V. da Silva. Ou seja, o homem tinha tudo para se sentir humilhado politicamente. Pura ilusão. Medina agarrou-se ao orçamento para 2023 e ao "acordo de concertação social" como gato a bofe, sob o sorriso paternalista de Costa que o deixou esvoaçar. Aí, Medina apareceu por tudo o que era televisão, em entrevistas, culminando no "Expresso" do último fim-de-semana. Impressionou os patrões com o seu pragmatismo antigeringonça. 

Convenceu alguns comentadores de Direita que o apreciam. Elogiou Marcelo, que apoiou na reeleição, fazendo de conta que não percebeu um ou outro "recado" presidencial inócuo. Para além disto, defende o seu orçamento como um não socialista do "meio" político o podia fazer. Colocou-se à direita dentro do Governo e "arrumou" com o poetastro da Economia que, em resposta geral e abstracta, inventou que em Portugal se despreza o lucro. Não se veja, aqui, um elogio a Medina por parte de quem, modestamente, contribuiu, pelo menos pela palavra e pelo voto, para a sua remoção em Lisboa. 

Parecem-me apenas factos. Que na ecologia do PS talvez tenham alguma relevância. Vem aí uma nova privatização da TAP, em muito piores condições da ocorrida na era de Passos Coelho. Medina sabe isso. Não é por acaso que não existe qualquer referência à triste empresa no OE de 2023. Pedro Nuno Santos e Duarte Cordeiro, o do Ambiente, são consabidamente más companhias políticas de Medina. Não me esqueço, por outro lado, que este antigo secretário de Estado de Sócrates foi o mais "assertivo", como agora se diz, quando se tratou de o PS renegar em definitivo o exilado da Ericeira. 

O FMI não gostou do OE de Medina. E ele com isso. Está noutra.

* Jurista

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - 17/10/22.

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