CR7 2023
Não
há sorriso ou correria que resista se CR7 se resolver candidatar à
Presidência do Governo Regional. Quem concorre nesse dia?
Na
América, Oprah Winfrey discursa nos Globos de Ouro. Para surpresa dos
inocentes, opõe-se ao assédio sexual, e recorda a caminhada dos
desfavorecidos e excluídos da América prometida, onde às tantas – e
apesar dos seus triunfos – se inclui.
Abrem as parangonas: Oprah
para Presidente. Oprah 2020. Trump comenta, desdenha, diz que ganharia.
Os republicanos contorcem-se. Os democratas deleitam-se. Hollywood
assina de cruz. Os media rejubilam. Os jornais lançam editoriais. O povo
diverte-se. Oprah é a criança da profecia, o paliativo e o antídoto, o
Anti-Trump.
Só que Oprah não é o oposto de Trump, mas o seu paralelo.
No
rescaldo das eleições, alguém – inteligente, que merecia melhor do que o
anonimato – comentou, na CNN, que Kennedy foi o candidato da TV, Obama o
candidato das redes sociais, e Trump o candidato do reality show. A
eleição de Trump seria o estado terminal da democracia, o triunfo do
sensacionalismo sobre a razão, a degradação moral e eleitoral para que
Tocqueville alertava já no século XIX.
É muito assim. Oprah não é
o antídoto, mas mais um sintoma do advento de uma realidade virtual que
vai, entre surreais aplausos, substituindo a vida. Não é a razão contra
a sensação, é o sensacionalismo oposto, se se quiser. É a ponta de
lança de uma luta – de audiências, porque em prestígio empatam – entre o
The Oprah Show e o The Apprentice, o reconhecimento de que na América,
governa quem melhor apresente e se apresente a ela.
Mau sinal,
portanto. Trump vs. Oprah não é o auge da experiência política. É o
título de um filme desastre, ou de um daqueles combates a 3D entre
animais perigosos que se faz por graça na National Geographic – o
Tubarão vs. Crocodilo, a Pantera vs. Pitbull, o Javali vs. Lince da
Malcata, e por aí adiante.
Esta coisa de cada idiota ter um
púlpito é capaz de nos fazer algum mal. Veja-se que políticos e
eleitores acordaram, tacitamente, que o governo se deve orientar pelos
critérios do entretenimento. E temos governantes convencidos de que, com
uma consultoria de imagem, conseguem a quadratura do círculo, e
encantar governando como um Obama, um Marcelo, ou um Papa Francisco.
Só
que não. E quando dão por si envolvem-se, junto com os eleitores, num
jogo que não dominam nem compreendem, que não é o deles nem o da coisa
pública – e que no limite os atira, abraçadinhos, afectuosos, e em
recíproca deseducação, para o primoroso charco garantido a toda a
lagartixa que aspira a jacaré. Só então percebem, talvez, que só com um
módico de reserva e distanciamento se preservam dos sentimentos
voláteis e das exigências irracionais que fatalmente afligem quem decide
sobre as vidas dos outros.
Na Madeira, o fenómeno vai dando os
seus primeiros passos. Porque a oposição finalmente percebeu, vive-se um
misto de encantamento e perplexidade com o valor eleitoral de um
sorriso, de um boato, de uma gravata, de um desfile ou de uma Volta à
Cidade, e com o desvalor de tudo o resto.
Por enquanto, o jogo
vai-se jogando. Porque o eleitorado é que manda, o político vai saltando
à corda com a linha entre popularidade e populismo. Um vício derivado
de outro, mais antigo, o de julgar que – na vida e na política – ganhar é
tudo.
Como os americanos vão porém percebendo, é possível ganhar
mal. E é possível perder pela forma como se ganha. Afinal existe, fora
do Governo e dos profissionais da gestão pública, quem melhor desempenhe
a celebridade e quem mais granjeie popularidade. Basta constatar, por
exemplo, que não há sorriso ou correria que resista se CR7 se resolver
candidatar à Presidência do Governo Regional.
Quem concorre nesse dia?
Que podem os jornais contra aquele Instagram? Quem lhe tira - numa
estimativa conservadora, antecipando cerca de 15% de mal resolvidos e
fãs de Messi – a maioria de 85% com que augura cilindrar os outros
desgraçados? Nem o Tubarão da National Geographic.
Brinquem, brinquem. CR7 2023.
* ADVOGADO
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
14/01/18
.
Sem comentários:
Enviar um comentário