25/03/2025

NUNO MARQUES

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Vulgarizar a indignidade 

Com o passar do tempo, a data de 21 de fevereiro de 2022 será, provavelmente, identificada como o momento em que a Europa enfrentou um nova mudança. A invasão russa da Ucrânia foi o primeiro passo de um processo que o dia 20 de janeiro de 2025, com a tomada de posse do presidente norte-americano, haveria de consolidar: a vulgarização do desrespeito pela vida e pelos direitos da pessoa.

Ao longo dos anos, em particular na última década, assistimos a um intensificar de movimentos migratórios, ditados em grande medida pelos desequilíbrios económicos que sabemos identificar mas não conseguimos resolver. Fomos enfrentando esse problema com um pressuposto de base: estamos a lidar com pessoas que devem ser protegidas e os seus direitos básicos salvaguardados (mesmo que muitas vezes não o tenhamos conseguido fazer).

Agora, assistimos a uma nova forma de olhar as pessoas e os seus direitos. Mesmo quem não concorda com as novas regras de repatriamento de migrantes impostas pela Administração Trump vai alterando a forma como olha para esse fenómeno cada vez mais vulgar e alargado a outros países. E o sentido, quase inevitável, é de que cada vez mais aceitaremos como normal formas de tratamento indignas que até há pouco considerávamos exceção.

A forma como essa mudança se assemelha a outros períodos da História, sobretudo do século passado, deve fazer-nos pensar no caminho que seguimos e nas opções que tomamos.

* Editor-executivo-adjunto

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - 24/03/25.

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