.
Quando há uns anos, depois de uma troca de mensagens no X, uma jornalista escreveu a seu respeito “não me assustas, Giorgia Meloni. Afinal de contas, só tens 1,2 metros de altura. Nem sequer te consigo ver”, a agora primeira-ministra italiana não hesitou. Processou Giulia Cortese por bodyshaming e conseguiu que esta fosse condenada a pagar uma indemnização de cinco mil euros. Ora se consta que talvez nem chegue aos 1,6 metros (a própria nunca divulgou a altura), Meloni há muito provou que as mulheres não se medem aos palmos.
Em menos de uma década, esta filha de um conselheiro fiscal com simpatias comunistas, que abandonou a família quando ela tinha 11 anos, educada pela mãe num bairro da classe trabalhadora de Roma, trocou a imagem de ultranacionalista que por vezes namorava ideias fascistas, pela de representante de uma direita radical frequentável que Bruxelas, e também Washington, veem com bons olhos.
Nomeada pelo Politico “A pessoa mais influente da Europa”, aquela publicação começa assim o texto no qual explica a sua escolha: “A quem é que liga quando quer falar com a Europa? Se for Elon Musk - o homem mais rico do mundo e conselheiro-chave do presidente eleito dos EUA, Donald Trump - o número que marca pertence a Giorgia Meloni”.
Hoje com 47 anos, há dois que Meloni foi eleita primeira-ministra de Itália, depois de levar os seus Irmãos de Itália à vitória nas legislativas. Mas poucos, na altura, acreditariam que La Meloni ia durar muito no poder. Na política desde os 15 anos (quando começou a militar na juventude do neofascista Movimento Social Italiano, tendo classificado Mussolini como “um bom político que fez tudo pelo bem de Itália”), não só a primeira-ministra soube romper com o machismo da política italiana - e insiste em usar a forma masculina do seu cargo: Il presidente del Consiglio - como conquistou o respeito dos restantes líderes europeus ao moderar algumas posições e revelar-se uma feroz apoiante da Ucrânia. E até a sua política migratória, que passa pelo envio de ilegais para campos na Albânia, mereceu o elogio da presidente da Comissão Europeia.
Numa Europa onde parece faltar um líder centrista capaz de se impor - com França e Alemanha mergulhadas nas suas crises políticas -, Meloni pode até não ter grande proximidade com Trump, mas a admiração de Musk pode jogar a seu favor junto do presidente dos EUA. E mesmo que seja pouco provável que chegue para influenciar o republicano a repensar o seu apoio à Ucrânia, no mínimo reforça a sua posição como mulher forte da Europa.
* Editora executiva no "DN"
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" - 13/12/24 .
Sem comentários:
Enviar um comentário