HOJE NO
"PÚBLICO"
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Braço-de-ferro atrasa substituição
dos cartões de débito diferido
Bancos contestam retroactividade da aplicação das novas regras fixadas pelo Banco de Portugal. Supervisor não esclarece em que fase está o processo e os comerciantes contestam atrasos
Três meses depois de o Banco de Portugal (BdP) ter definido as regras
a que devem obedecer os cartões de débito diferido, o processo de
substituição dos cartões antigos praticamente ainda não arrancou. O
PÚBLICO sabe que as regras definidas pelo BdP têm estado a ser
contestadas pelos bancos que têm o produto: o Banco Santander Totta, o
Banco Espírito Santo e a Caixa Geral de Depósitos.
Os cartões de débito diferido são um meio
termo entre os cartões de débito directo - vulgarmente designados
Multibanco (marca registada pela SIBS e que não tem responsabilidade nas
características dos novos cartões) - e os cartões de crédito. Ou seja,
podem funcionar nos dois regimes. Estes cartões não têm custos
acrescidos para os clientes, mas rendem comissões muito mais elevadas
aos bancos e por isso têm gerado a contestação do sector do comércio.
Um
dos problemas é que muitos dos novos cartões não têm linha de crédito
associada e a sua utilização no pagamento de compras só se distingue dos
de débito puro pelo diferimento (adiamento) de alguns dias no
lançamento do valor das transacções na conta à ordem. Habitualmente, o
valor das transacções é imediatamente cativado ou retirado do saldo
disponível, mas só dias mais tarde é reflectido no saldo contabilístico -
o que pode confundir os titulares destes meios de pagamento.
No
final de Agosto, o BdP veio exigir que o novo tipo de cartões de débito
diferido tenha uma linha de crédito associada, a custo zero. As compras
até ao valor da linha de crédito não podem ser debitadas no saldo da
conta à ordem. O pagamento do valor tem de ser feito, de forma integral,
na data fixada no contrato. Esgotada a linha de crédito, os pagamentos
passam a ser debitados de imediato no saldo disponível do cliente, como
um normal cartão de débito puro.
As orientações do BdP, que
expressamente disse que "as instituições de crédito não podem
comercializar como cartões de débito diferido os cartões que não cumpram
os critérios definidos" pelo supervisor, têm estado a ser contestadas
pelos bancos. A contestação está a ser feita quer quanto à
retroactividade, ou seja, quanto à aplicação das regras aos cartões já
comercializados, quer quanto às características específicas de alguns
cartões.
Em resposta a questões do PÚBLICO, o Banco Santander
Totta adianta que "está actualmente em curso um processo de
esclarecimento junto das entidades envolvidas quanto ao tratamento dado a
este tipo de cartões". Fonte oficial da Caixa Geral de Depósitos (CGD)
também admitiu que há um conjunto de cartões, designadamente do segmento
Caixa Azul, onde a instituição tem mais de 300 mil cartões, que não
estão a ser substituídos, aguardando esclarecimentos do BdP. Segundo a
fonte, muitos desses cartões têm contratada uma linha de crédito, que
não está accionada pelos clientes, pelo que há dúvidas se já não se
enquadram nas regras definidas pelo BdP.
BdP não esclarece
Contactado
pelo PÚBLICO, o Banco de Portugal recusou-se a esclarecer em que fase
está a substituição dos cartões que não cumprem as regras por si
definidas. Recusou-se também a esclarecer se tinha fixado uma
data-limite e qual. Também não prestou qualquer informação sobre os
pedidos de esclarecimento feitos pelos bancos.
Do esclarecimento
do BdP, destaca-se a declaração de que "sempre que é detectada a
existência de irregularidades praticadas pelas instituições
supervisionadas, relativas as normas legais e regulamentares aplicáveis,
o Banco de Portugal exige a sua correcção, sendo para o efeito fixados
prazos máximos para a respectiva regularização." "Reitera-se ainda que
as determinações específicas emitidas para correcção de situações
irregulares devem ser obrigatoriamente cumpridas pelas instituições de
crédito destinatárias". E, "consequentemente, o não-acatamento das
determinações específicas emitidas pelo Banco de Portugal constitui uma
infracção punível nos termos do Regime Geral das Instituições de Crédito
e Sociedades Financeiras".
Das respostas do Banco de Portugal não
se consegue perceber em que fase está o processo e as dos bancos
Santander e CGD também não ajudam a clarificar a situação, sendo certo
que o sector do comércio não nota uma diminuição significativa na
utilização daquele tipo de cartões (ver caixa) e o PÚBLICO tem
conhecimento de inúmeros clientes com cartões de débito diferido que não
foram contactados pelos respectivos bancos com vista à sua
substituição.
O BES foi o único que não respondeu ao pedido de
esclarecimento do PÚBLICO. No entanto, no site do banco, o cartão BES
Duo continua a manter as mesmas condições anteriores: pode implicar
apenas um diferimento de três dias nas transacções e pode ou não ter
um plafond de crédito associado.
A CGD já alterou as condições de
débito diferido que tem publicitado no site, adaptando-os às novas
regras, incluindo o Caixa Azul. Em resposta por escrito, o banco diz
que, actualmente, "só tem em comercialização cartões que respeitam o
estipulado pelo Banco de Portugal". Apesar de haver um conjunto alargado
de cartões em que a CGD não está a substituir, a instituição assegura
que "espera ter o processo concluído a breve prazo, sempre dentro do
limite estabelecido pelo Banco de Portugal".
* Para já parece ser este cartão uma inutilidade, pagamentos diferidos provocam despesismo.
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