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Senso d'hoje
Senso d'hoje
ANTÓNIO GENTIL MARTINS
CIRURGIÃO PEDIÁTRICO
SOBRE A SUAS REFERÊNCIAS
GALARDOADO COM O PRÉMIO
MILLER GUERRA
GALARDOADO COM O PRÉMIO
MILLER GUERRA
O meu avô,(fundador do IPO), foi uma grande referência, mas devo dizer que a pessoa que
mais me marcou foi o meu pai. Perdi o meu pai muito cedo, morreu quando
eu tinha três meses, mas a minha mãe transmitiu-me tudo o que ele
pensava sobre a forma de estar na medicina. Um dia, o meu pai estava no
banco de S. José e, na altura, as transfusões de sangue eram braço a
braço. Apareceu um doente que tinha de ser operado e não havia ninguém
do grupo sanguíneo do doente a não ser o meu pai. Como não era opção
dar-lhe sangue através do braço enquanto o operava, não fez mais nada:
tirou o sangue do pé, o que nunca ninguém ali tinha feito. Pôs outra
pessoa a dar à manivela do equipamento que então se usava nas
transfusões, chamado juvelet, e deu sangue enquanto operava. Nunca teria
pensado numa coisa assim. É o maior exemplo de dedicação. Por vezes
implica imaginação e até sacrifício próprio.
Havia uma coisa importante: na minha altura, a vocação era importante
para ser médico, e hoje só conta a nota. Quem ia para Medicina era
porque gostava, e hoje em dia vai só quem tem as melhores notas. Quer
goste, quer não goste. Pode ser um Prémio Nobel, mas se calhar não é a
pessoa que eu quero para me tratar, porque não consegue desenvolver uma
relação de empatia com o doente, que é o mais importante.
Tenho encontrado muitos bons médicos, mas também alguns que são o
oposto. Porque são fixados nos horários, no entra às tantas e sai às
tantas, nos protocolos, e tornaram-se funcionários públicos que não
honram a medicina.
* Excertos de importante entrevista ao "i"
** É nossa intenção, quando editamos pequenos excertos de entrevistas, suscitar a
curiosidade de quem os leu de modo a procurar o site do orgão de
comunicação social, onde poderá ler ou ver a entrevista por inteiro.
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