Mad Max:
estrada da fúria portuguesa
Em 2013/2014, fui apanhado duas vezes a conduzir com excesso de álcool.
Justamente punido (multas, suspensão de carta, avisos sérios quanto à
reincidência), nunca mais me sentei ao volante de um automóvel após duas
cervejas ou de um copo de vinho.
Em 2013/2014, fui apanhado duas vezes a conduzir com excesso de álcool.
Justamente punido (multas, suspensão de carta, avisos sérios quanto à
reincidência), nunca mais me sentei ao volante de um automóvel após duas
cervejas ou de um copo de vinho. Mas foi necessário chegar ao ponto do
castigo para interromper a prevaricação, deixando de constituir um
perigo para mim e para os outros. No resto, prezo-me de ser um condutor
correcto, e há poucas manifestações de inanidade que me deixem mais
furibundo do que o instinto homicida nacional na estrada.
Os
números tenebrosos da operação Natal Tranquilo da GNR (sete mortos e 932
acidentes) demonstram que não aprendemos nada com os avisos, as
penalizações, a profilaxia. Um português ao volante é um Ayrton Senna da
estupidez, Mad Max da negligência, criança grande viciada na fúria do Grand Theft Auto. A escola freudiana falaria de uma descompensação sexual, e Schopenhauer da atracção pelo Nada - pela morte.
Talvez seja apenas o louco impulso da fuga para a frente que nos tornou
grandes por momentos mas que nos retém irremediavelmente pequenos, dados
ao hit and run e ao ardil, falsos temerários tão cobardes como os
deputados de todos os partidos (com a momentânea excepção do CDS) que
votaram à socapa no seu lucro futuro. O que nos leva ao mortal desejo de
transformar uma viagem em família num filme aterrador de manobras a 200
km/hora? Porque compram os portugueses SUVs de 300 cv como se fossem
ditadores de pequenos países centro-africanos? Nenhum prémio de melhor
destino turístico do mundo responderá a este enigma.
IN "SÁBADO"
09/01/18
* Admiramos o carácter do autor que sem papas na língua denunciou o próprio erro.
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